tito torres meu mundial

Meu Mundial, sobre um garoto, Tito Torres, talentoso. Craque de bola aprendendo sobre a vda.

‘Meu Mundial – Para Vencer não Basta Jogar’ | CRÍTICA

Alvaro Tallarico

A música principal do filme uruguaio Meu Mundial – Para Vencer não Basta Jogar (Mi Mundial) fala um pouco dos percalços da vida e fornece o tom. A vida é assim, tem gente que não quer te ver crescer, tem ciumeira, inveja, egoísmo. Podemos ver isso em diversos momentos da película. O jovem Tito (Facundo Campelo) tem um talento único, contudo, seu pai Ruben (Néstor Guzzini) insiste para que o menino passe a bola, jogue em equipe – e estude. Sozinho e sem estudo não se chega a lugar algum. O time tem que saber usar o craque, e este não pode esquecer de seus companheiros. Tão pouco deve-se jogar todas as fichas em um só caminho.

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Assim, inserindo diversos importantes ensinamentos, vemos Néstor Gazzini (prêmio de Melhor Ator no Festival de Gramado) viver um homem trabalhador, honesto, sob a pressão de direcionar Tito Torres. Facundo Campelo, que vive Tito, jogava nos juvenis da equipe Wanderers. No casting, muitos garotos que apareceram sabiam jogar bola, mas não atuar. Por falar nisso, entre closes e planos fechados, as atuações de todo elenco são ótimas. Néstor consegue passar através das expressões o quanto Ruben procura se conter, suas dúvidas, preocupações – e explosões. Vemos com clareza o contraponto entre a pequena cidade de Nogales e a grande cidade de Montevidéu. Enquanto na primeira a fotografia segue um tom mais claro e ensolarado, alegre; na outra, tudo é menos colorido, mais cinzento e nebuloso.

O primeiro longa-metragem do diretor Carlos Morelli cativa ao mostrar um drama social e moral sem esquecer de expressar a necessidade dos valores e dos estudos. Buscando belas imagens e brincando com o foco e a profundidade de campo para mostrar o medo e os momentos de insegurança de Tito (como no teste onde dois zagueiros ‘gigantes’ vem para cima dele e vão desfocando). Morelli – também roteirista do longa – consegue criar com eficiência a identificação com Tito, que precisa crescer de uma hora para outra, porém, sabemos que amadurecer não é tão simples. Além disso, sentimos nojo dos que querem sabotar o jovem craque, e também dos inescrupulosos que desejam somente usá-lo em busca de dinheiro, sem preocupação real com seus sentimentos, seu talento ou sua família.

Meu Mundial

‘MEU MUNDIAL’ E OS CAMINHOS DA VIDA

Verônica Perrotta vive a mãe de Tito, sonhando com uma vida melhor, longe da pobreza. Jorge Bolani faz uma participação como um curandeiro e dá um toque especial na cena ao comentar sobre um gol de Tito, um gol de Nogales – a magia do futebol e das raízes. A fotografia nesse momento muda para um tom amarelado-escuro, um pouco sombrio, bem interessante.

A saber, Meu Mundial é baseado no livro de sucesso do ex-jogador de futebol, Daniel Baldi e conta também com a participação do brasileiro Roney Villela, como Rolando, o olheiro que vai atrás do talento de Tito. Além disso, a jovem e sensível Candelaria Rienzi vive Florencia, amiga colorida e porto seguro do protagonista. O subtítulo brasileiro do filme também fala muito: “Para Vencer não basta Jogar”. Tem muita gente para sabotar, atrapalhar, e uns poucos para ajudar. Ainda acrescento que este filme deveria ser mostrado para todos os latino-americanos que sonham em virar um jogador de futebol de reconhecimento.

A música principal do filme, de Omar Geles, sobe assim que o mesmo termina, fazendo com que o espectador continue sentado, digerindo, pensando : “Los caminos de la vida / No son como yo pensaba / Como los imaginaba / No son como yo creía.” Nos caminhos da vida, a ingenuidade e os bons corações sofrem. Mas sempre é possível recomeçar.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Mi Mundial
Direção: Carlos Morelli
Roteiro: Carlos Morelli
Elenco: César Troncoso, Facundo Campelo, Roney Villela, Veronica Perrotta
Distribuição: Bretz Filmes
Data de estreia: 19/09/19
País: Uruguai, Argentina, Brasil
Gênero: Drama
Ano de produção: 2017
Duração: 102 minutos

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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