A irreverência e originalidade de Morrissey no palco da Fundição Progresso

Roberta Negrão

Sem atrasos ou muito suspense, Morrissey subiu ao palco da Fundição Progreso na noite da última sexta-feira (30) para apresentar ao público carioca o show de sua mais recente turnê: “Low in High School“. Em sua quarta passagem pelo Rio de janeiro, como já era esperado, o ex-líder dos Smiths juntou canções de sua carreira solo e quase nada das músicas da banda inglesa.

O polêmico e irreverente cantor inglês surgiu com uma camisa com seu próprio nome – ilustrada por uma foto de James Dean. Para delírio dos fãs, que levaram cartazes e discos do ídolo, o mesmo se mostrou um tanto receptivo ao carinho, apertando as mãos que se estendiam em sua direção por diversas vezes ao longo do show. Morrissey chegou, inclusive, a autografar um disco de cima do palco e a rasgar a blusa que estava vestindo, ainda no corpo, e atirá-la aos fãs.

(FOTO: FERNANDO SCHLAEPFER | FUNDIÇÃO PROGRESSO)

Antes do show, foi exibida em um imenso telão uma sessão de vídeos, de sua curadoria, que passou por Ramones, Patti Smith, pop italiano, David Bowie e outros. Ovacionado e aplaudido pelos fãs, Morrissey iniciou sua apresentação com “William, It Was Really Nothing”, seguida de “Alma Matters”, do álbum Maladjusted, lançado em 1997. O público também foi agraciado com “Back on The Chain Gang”, do grupo Pretenders, que Morrissey lançou recentemente como single.

A originalidade em sua forma de cantar e compor é realmente algo inegável, até mesmo aqueles que estavam assistindo ao seu show pela primeira vez poderiam confirmar isso. Afinal, com quase seus 60 anos de idade, Morrissey foi e ainda é um dos cantores mais emblemáticos da música mundial. A vida artística do Moz é marcada por sua forte personalidade, ativismo e declarações absurdamente polêmicas, algumas envolvendo outros grandes astros como Madonna e Elton John.  Morrissey e suas letras confessionais mostram sua vulnerabilidade e interesse pelas emoções mais complexas e indizíveis.

(FOTO: FERNANDO SCHLAEPFER | FUNDIÇÃO PROGRESSO)

Pela quarta vez em um show do Morrissey, o casal Enéias Oliveira e Mery Oliveira, ambos com 62 anos, aguardavam ansiosamente pela apresentação na Fundição Progresso. Em depoimento ao BLAH!, eles afirmaram que apesar de ser um show de divulgação de um álbum recente, com poucas músicas conhecidas, era sempre muito bom poder prestigiá-lo, onde quer que fosse. O casal também nos contou uma história pessoal envolvendo o músico, confira:

Uma vez viajamos para os Estados Unidos e adoramos a cidade de Chicago, descobrimos que ia ter um show do Morrissey lá e decidimos ficar por mais um dia. Mas aí na época houve alguma coisa, não lembro muito bem o que, acho que a mãe dele ficou doente e ele cancelou o show, ficamos arrasados – conta Enéias. — Já curtimos um show dele em Londres também, é sempre o mesmo público, mesma intensidade no palco, muito bom – completa Mery.

(ENÉIAS E MERY OLIVEIRA – FOTO: ROBERTA NEGRÃO)

Tirando “Is it Really So Strange?”, “How Soon Is Now” e a canção que abriu o show, não tivemos nenhuma outra da banda The Smiths. Ou seja, quem foi ao show esperando cantar e pular com as nostálgicas músicas do cantor se frustrou, nem mesmo “Suedehead”, o maior hit de sua carreira solo, apareceu no setlist para dar aquele alívio aos fãs. No entanto, para outros, isso pouco importa, afinal, era ninguém mais ninguém menos do que Morrissey no palco da Fundição Progresso com “Brasil” escrito no antebraço e “Rio” desenhado em seu peito.

Confira o SETLIST completo do show do Rio de Janeiro:

  1. William, It Was Really Nothing (The Smiths song)
  2. Alma Matters
  3. I Wish You Lonely
  4. Is It Really So Strange? (The Smiths song)
  5. Hairdresser on Fire
  6. Sunny
  7. How Soon Is Now? (The Smiths song)
  8. Back on the Chain Gang (The Pretenders cover)
  9. The Bullfighter Dies
  10. If You Don’t Like Me, Don’t Look at Me
  11. Munich Air Disaster 1958
  12. Dial-a-Cliché
  13. Jack the Ripper
  14. Hold On to Your Friends
  15. Break Up the Family
  16. Spent the Day in Bed
  17. Life Is a Pigsty
  18. Something Is Squeezing My Skull
  19. Jacky’s Only Happy When She’s Up on the Stage

Encore:

  1. Everyday Is Like Sunday
  2. First of the Gang to Die

Roberta Negrão

Editora de música do BLAH, jornalista e redatora, uma geminiana musico-falante viciada em shows e amante da vida. Apaixonada por rádio, locução, natureza, violão e fotografia. "Gosto do que é novo, diferente, de gente que fala sorrindo e desconfio das que não gostam de gatos. Vivo cantarolando para espantar todo mal que há. Metade de mim é música, a outra estou tentando descobrir..."
NAN