Mostra ‘Peter Greenaway’ leva obras de um dos mais ousados cineastas da história para o CCBB SP
Wilson Spiler
Poucos cineastas se aproximaram tanto de outras linguagens artísticas quanto Peter Greenaway. Trazendo à tona toda sua angústia por explorar o cinema para além dos limites das salas de exibição, um dos mais prolíficos produtores cinematográficos dos séculos 20 e 21 elevou seus experimentos a níveis inexplorados.
Ao desbravar o universo artístico de Greenaway, sempre iluminado por uma ideia de produção multiplataforma, o CCBB São Paulo promove, entre 1º e 12 dezembro, uma exposição que compila sua filmografia, abrangendo longas e curtas, além de promover um debate. A programação completa pode ser conferida em bb.com.br/cultura e mostragreenaway.com.br. Os ingressos custam R$10 (R$5 a meia entrada).
Diante de uma ação quase sempre transgressora, pode-se chamar de ironia do destino o fato de Greenaway ter se tornado mundialmente conhecido por filmes de formato majoritariamente tradicional – “O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante” e “O Livro de Cabeceira”. Engana-se, portanto, quem julga sua obra por um relato parcial de sua produção entre as décadas de 80 e 90. O que dizer, por exemplo, da película “Que Viva Eisenstein! – 10 Dias que Abalaram o México” (2015), que traz o retrato de uma experiência homossexual de Serguei Eisenstein no país latino-americano em 1931? E que tal se interar do projeto “As maletas de Tulse Luper” (2003-2004), que envolve uma série de plataformas, entre elas DVDs, livros, filmes, instalações interativas, performances, publicações e conferências, tudo em torno de 92 malas repletas de vestígios de décadas no decorrer do século 20? Vale destacar, entre as inspirações do cineasta, sua paixão pelas artes plásticas, principalmente por meio das obras de Caravaggio, Velázquez e Rembrandt. Suas divagações sobre esse universo o impulsionaram para a produção com menor apego às narrativas convencionais, o que, de acordo com o próprio, teriam sido uma das causas da morte do cinema.
Para o curador da mostra, Pedro Nogueira, a importância de Greenaway para o desenvolvimento da sétima arte está no fato de que o próprio “se destaca no aprofundamento da experiência do cinema em diálogo com as artes plásticas e a literatura, pesquisando e radicalizando a linguagem visual”. Neste sentido, o debate “Greenaway, Arte e Tecnologia”, a ser realizado no dia 8/12, às 19h30, contando com Lucas Bombozzi (artista multimídia de São Paulo), Erick Felinto (UERJ, do Rio de Janeiro) e mediação de Nogueira terá embasamento nas novas perspectivas exploradas na produção multifacetada do artista em foco. Vale destacar que em poucas oportunidades foi dada a devida atenção à obra de Greenaway no Brasil, o que produziu um lapso na relação entre o público e este importante produção da área cinematográfica.
A mostra Peter Greenaway ainda contará comsessões específicas para os curtas do autor, peças pouco conhecidas no circuito tradicional, e que tomam o espaço do CCBB nos dias 8, 9 e 10/12. As produções a serem exibidos no circuito de curtas foram lançadas entre 1973 e 1979. Confira a programação completa do evento no SITE OFICIAL ou clicando AQUI.
Sobre Peter Greenaway
Peter Greenaway, que, inicialmente, estudou pintura, se destaca por experimentações multilinguísticas no decorrer da produção de seu extenso portfólio midiático, que hoje acumula cerca de seis dezenas de títulos entre curtas e longas, especiais para a televisão e documentários.
Nascido em 1942 no País de Gales, o cineasta, autor e artista multimídia alcançou o auge do reconhecimento de sua obra nas décadas de 80 e 90, após o lançamento de seu primeiro longa-metragem, “The Falls” (1980).
Greenaway é objeto de estudos referentes às mudanças em curso no cinema contemporâneo, sendo vasto campo para entendimento da utilização das plataformas alternativas de comunicação na área.