Dubladores falam sobre o trabalho em ‘Mundo Estranho’
Nathália Sorrini
Após assistir ‘Mundo Estranho’, fomos convidados pela Disney para entrevistar os dubladores e o diretor de dublagem da nova animação do estúdio. Este trabalho é um processo muito importante para um filme, ainda mais para animação traduzida para o país de origem.
O que muitos não sabem é que o processo na voz original (inglês) é feito antes do filme ser produzido, quer dizer, ele dubla e depois é animado em cima da atuação e trejeitos do ator. Isso é chamado de voice actor (ator de voz, em tradução livre). Isso é ainda um desafio maior para a dublagem de outros países, mas a brasileira é a melhor do mundo e o trabalho do diretor e desses profissionais é feito de forma formidável e ainda fazem de tudo para abrasileirar para deixar ainda mais familiar para gente.
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Os dubladores
Tive o prazer de entrevistar o diretor de dublagem Robson Kumode, o dublador Marcelo Campos que deu a voz ao Searcher e Caio Freire que fez o filho de Searcher, o Ethan. Leia a seguir como foi o papo com esses talentos da dublagem brasileira.
Segundo Campos, o maior desafio em todo trabalho é ser preciso na interpretação seguindo o original, traduzindo a mesma emoção e o mesmo subtexto. O dublador elogiou muito o trabalho de Kumode na direção e brincou que ele não é só avó, pois ele é um filho e um pai. “Foi de extrema importância o trabalho de Robson, já que ele abraçou a obra e até ficou com medo de não conseguir passar toda a emoção”. Ele acredita também que o diretor equilibra os exageros, mas sem perder a brasilidade e que a animação é uma obra de vanguarda.
Curiosidade
O processo mais curioso segundo Campos é que eles apenas pegam apenas sua parte da obra e dubla em cima disso. Ou seja, nenhum dublador assiste ao filme completo antes do processo da dublagem. A única pessoa da equipe que assiste tudo antes é o diretor e por isso que o trabalho de Kumode é tão significante e preciso. O diretor comentou que assistiu também as preliminares. Isso significa que antes do filme ficar em sua versão original, existem o escopo e viu todas as mudanças criativas que o filme foi tendo.
Ele disse que o processo do diretor é entender e decupar o filme inteiro e transmitir para o elenco todo o objetivo que eles precisam fazer. Kumode complementou dizendo que é um trabalho de condução, mas também de dar espaço para o dublador, pois mesmo que precise chegar perto do original é primordial oferecer esse tipo de ação para o profissional da dublagem. Uma frase que o diretor usa e que é de extrema importância é “nem sempre precisa ser exatamente como o original. A mensagem precisa ser a mesma, mas a forma não precisa ser exatamente igual.” Ele completa informando que o trabalho do diretor não é engessar a obra e sim dar liberdade para criarem dentro do espaço, mas as vezes delimitar isso.
O processo de tradução
Kumode comenta que Lia foi uma tradutora espetacular e que tiveram o processo juntos de abrasileirar a obra. Ele comenta que Campos teve um improviso que acabou ficando no corte final, quando o Searcher fala “aborrecente” e que isso foi ideia do próprio dublador! Para o diretor, seu trabalho é o menor de todos, pois ele apenas junta as outras pessoas. Trata-se, segundo o próprio, de um trabalho mais de escuta e dar espaço aos dubladores.
Referências
Questionados sobre a familiaridade para interpretar pai e filho, Freire disse que era a primeira vez que estava entrando em contato com o Marcelo, mas que era engraçado já que o filme fala muito sobre relação entre pai e filho e sobre o legado. Caio disse que é dublador hoje em dia por conta do trabalho excepcional de Marcelo. Além disso, também falou do Luiz Antônio Lobue (que interpreta Jaeger Clade, o avô do Ethan) que sempre foi uma inspiração para ele. Freire também comentou que levou um choque quando assistiu ao trailer e reconheceu as vozes que eram dubladores de referência para ele e questionou surpreso “Esse é o meu pai? Esse é o meu avô? Que loucura!”, comemora.
Mundo Estranho
Em Mundo Estranho, temos o Ethan que é o primeiro personagem abertamente LGBTQIA+ da Disney. Algo importante para a comunidade ver um personagem como o Ethan e a naturalidade que levam isso ao decorrer do filme. Freire comenta como foi pra ele fazer um personagem tão representativo em um estúdio como a Disney.
“Pra mim foi uma loucura quando eu fui fazer um teste, era minha primeira no estúdio, numa produção da Disney pro cinema e é tudo uma primeira vez na minha carreira. E ver o apelo que esse personagem tem e mais pelo que ele é de fato, porque é o primeiro personagem abertamente gay, negro e protagonista do filme. A Disney já teve vários personagens LGBTQIA+, mas esse tem o apelo, só que quando você vê o filme vê o Ethan. Ele tem sim essa representatividade a gente vê isso, só que é tão natural não é uma coisa do tipo de um drama do Ethan é ser gay, não o drama dele é outro, ser gay ou não ser gay não faria diferença, ele tá ali tão natural que você fala: olha só que lindo! É muito natural e bonito, para mim é uma grande honra debutar no cinema com esse personagem com essa produção. O sentimento é uau!”, explica Freire.
Para encerrar, eles definirem Mundo Estranho em uma palavra:
Freire: lindo.
Campos: acolhedor.
Kumode: alteridade.
Mundo Estranho está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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