Muse entra na zona de conforto em seu novo disco
Marcelo Fernandes
Certa vez, o guitarrista The Edge, da hiperbanda U2, confessou que a intenção inicial do grupo era ser punk. Embora tivesse sua cota de músicas de protesto, o U2 se transformou naquilo que prometia combater no início: mainstream até o último fio de cabelo com shows mega produzidos tocando rock de arena para multidões, que muitas vezes se importam menos com a mensagem e mais com o hype.
O Muse segue uma linha parecida. Talvez a banda esteja grande demais, popular demais, para não soar no mínimo esquisita quando canta letras de protesto em seu novo álbum, Will of the People. A mistura de influências da história do rock com música clássica e algo da discoteca setentista está lá, numa produção obviamente impecável. A música que dá o nome ao disco abre com os riffs marcados de Bellamy e uma letra que, se fosse tocada por uma banda ao estilo Rage Against, pareceria menos fora do lugar.
Na segunda faixa, “Compliance”, a mistura de rock de arena e discoteca se torna mais evidente, com direito ao riff de abertura do seriado oitentista “Supermáquina”, mostra como Bellamy, a principal mente do grupo, olha para o passado na busca por referências, num arranjo que parece uma mistura de Queen com hits das pistas de dança da época.
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Sobra glam, falta industrial
O destaque fica para o final em “We are Fucking Fucked”, com uma letra pessimista que contrasta com o início revolucionário, além de um refrão feito sob medida para ser censurado nas transmissões de shows ao vivo pela TV ou streaming enquanto a plateia grita a plenos pulmões.
De resto, sobra o “glam” dito na divulgação, e falta um pouco do “industrial” prometido, com uma sensação de “já ouvi eles fazerem algo parecido com isso, e melhor”. Talvez a banda esteja fechada demais em seu próprio mundo, repetindo referências de álbuns passados, mas para os fãs que desejam o Muse como ele é desde sua explosão mundial, a satisfação estará garantida com os falsetes e pianos de sempre em Will of the People.
O vocalista sabe o que seu público espera, e parece no piloto automático em boa parte das novas composições. Para quem esperava um pouco mais da criatividade que Bellamy & cia mostraram em outros álbuns, com a vontade de fazer algo diferente somada ao talento do grupo, talvez seja melhor esperar um pouco mais. Mas talvez não seja recomendável esperar tanto. Afinal, os fãs do U2 que esperam algo digno de nota já há algum tempo e não parece que irão conseguir, embora o Muse tenha músicos muito mais competentes do que a banda irlandesa.
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