Noite Passada em Soho crítica do filme Edgar Wright Anya Taylor-Joy

Suspense ‘Noite Passada em Soho’ exalta uma Londres atemporal

Cadu Costa

No cinema do diretor Edgar Wright sempre houve espaço para o antigo se juntar ao novo. Desde Todo Mundo Quase Morto (2004), passando por Scott Pilgrim contra o Mundo (2010) até chegar Em Ritmo de Fuga (2018), a nostalgia sempre esteve presente ao contemporâneo. Seja por por canções de décadas passadas ou linguagens no estilo de videogames, o diretor sempre soube apresentar uma história bem-feita. Não foi diferente dessa vez.

Chega aos cinemas Noite Passada em Soho (Last Night In Soho), um suspense com muitos elementos do gênero mas com uma peculiaridade vista somente em filmes do diretor. E tudo remete à analogia dos dias agitados da Londres na década de 1960 e a efervescente cidade que é hoje, tudo visto através dos olhos da estudante de moda recém-chegada, Eloise (Thomasin McKenzie, de Jojo Rabbit), que tem tanto medo de coisas novas quanto é obcecada por coisas antigas.

Perda e dificuldades

A história de Eloise inclui a perda de sua mãe (também interessada em moda e mostrada em flashbacks / visões) para o suicídio quando ela tinha apenas sete anos, deixando-a para ser criada por sua doce avó (Rita Tushingham), que permitiu que sua neta se entregasse às músicas antigas, à moda vintage e fizesse a maior parte de suas próprias roupas.

Eloise tem dificuldade de se relacionar com as esnobes garotas da cidade na escola e seu novo apartamento pode ser mal-assombrado. Quando vai dormir, sob a luz de néon alternada que penetra em sua janela, ela acorda na década de 1960 e assume a forma de outra mulher, Sandie (Anya Taylor-Joy, de Fragmentado, Vidro e A Bruxa). Ela, então, investiga o que aconteceu com essa outra jovem e fica cada vez mais consumida em resolver os crimes do passado. Com isso, sua sanidade é colocada em risco e possivelmente sua vida também.

Elementos sórdidos de ambos os períodos

Não querendo revelar muito dos mistérios do filme, Noite Passada em Soho encontra Edgar Wright abraçando os elementos mais sórdidos de ambos os períodos, especialmente durante as sequências dos anos 1960. Co-escrito com Krysty Wilson-Cairns (a escritora indicada ao Oscar por 1917), o roteiro é intencionalmente confuso às vezes, simplesmente porque o diretor não quer revelar quem pode ter feito mal à Sandie em sua época.

Mas também nem sempre sabemos por que Eloise está sendo assombrada por certas figuras sem rosto em seu próprio tempo. Há indícios de que ela teve problemas para ver e falar com sua mãe morta quando era mais jovem, e as coisas que ela está vendo agora parecem indicar que ela está enlouquecendo. Ou talvez ela simplesmente veja pessoas mortas ou esteja emocionalmente em sintonia com a energia traumática que está no ar há décadas.

Ela tem suas suspeitas de que um pervertido de cabelos prateados (Terence Stamp), que frequenta o bar onde ela trabalha, tem algo a ver com suas visões, e a única pessoa que está remotamente tentando entender o que ela está passando é seu colega estudante John (Michael Ajao), que também é um interesse amoroso em potencial.

A música de Edgar Wright

O já conhecido amor de Wright pela música dos anos 1960 está em plena exibição, mas a trilha executada por Steven Price também faz grande parte do trabalho pesado em termos de aumentar a tensão e os sustos. Aliás, é difícil saber se a melhor coisa sobre Noite Passada em Soho é a música ou o elenco. Afinal, as personagens principais são ótimas e as atrizes Thomasin McKenzie e Anya Taylor-Joy entregam atuações muito boas. A tensão das cenas filmadas por elas mexe com o público de uma forma muito assustadora.

Sim, pois ao mostrar a realidade das mulheres entendemos o verdadeiro horror que elas passam. E isso é muito perturbador para quem, de fato, se importa. A fotografia ajuda a criar essa Soho dos anos 60 onde apenas nos deparamos com o exterior brilhante para então revelar a feiura por baixo num misto de beleza e podridão.

Por fim, Noite Passada em Soho é uma divertida mistura que pode ser determinada pelo gênero de filme que você pensa que está vendo. Funciona melhor como um drama psicológico com toques visuais de giallo italiano dos anos 70 (alguém pensou em Dario Argento?). Por outro lado, como um filme de terror simples, as coisas parecem um pouco curtas, apesar da abundância de sangue e matança. Como uma queda de pessoas que se fixam no passado porque acham que as coisas eram melhores nos velhos tempos, acerta na mosca.

Onde assistir ao filme Noite Passada em Soho?

A saber, o filme Noite Passada em Soho estreia nesta quinta-feira, 18 de novembro, exclusivamente nos cinemas brasileiros. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Trailer do filme Noite Passada em Soho

Noite Passada em Soho: elenco do filme

Anya Taylor-Joy
Diana Rigg
Matt Smith

Ficha Técnica

Título original do filme: Last Night in Soho
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright e Krysty Wilson-Cairns
País: Reino Unido
Duração: 116 minutos
Gênero: drama, suspense terror
Ano de produção: 2021
Classificação: 16 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN