‘O Ano da Fúria’ mostra o clima antes da ditadura uruguaia
Fábio
Em cartaz no HBO Max, ‘O Ano da Fúria’ é mais uma resposta da cultura ao crescimento da extrema direita e aos defensores de regimes ditatoriais. Época de terror que reinou em diversos países entre o final dos anos 1960 e meados dos anos 1980, a ditadura militar aterrorizou, censurou, torturou e matou milhares de pessoas. O filme escrito e dirigido por Rafa Russo foca o ano de 1972, quando o militarismo se instaurou de vez naquele ano no Uruguai, culminando no golpe militar que o país sofreu no ano seguinte.
Embora não se passe durante a ditadura propriamente dita, O Ano da Fúria, é um aperitivo do que viria a seguir com a ascensão dos militares ao poder e o golpe que acabou com a democracia daquele país durante o período em que “governou”. As atrocidades são, em suma, as mesmas que foram cometidas em diversos países da América Latina (Brasil, inclusive). Do mesmo jeito que hoje quem não é bolsonarista é acusado de comunista, durante o regime militar, se você não era apoiador do governo, automaticamente era considerado subversivo. E, assim, poderia sofrer terríveis consequências, independente se lutasse ou não contra o governo.
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Sinopse
Em suma, o foco de O Ano da Fúria se foca e duas histórias paralelas que se cruzam no terço final do filme. De um lado temos Diego (Alberto Ammann) e Leonardo (Joaquín Furriel), roteiristas de um programa humorístico de TV que satiriza a política nacional e a autoridade descabida dos militares. Aos poucos vão sofrendo pressão dos donos da emissora para amenizarem com as criticas aos militares; uma vez que eles estão perto de chegar ao poder e começam a interferir em tudo.
Do outro lado, temos Rojas (Daniel Grao), tenente do exército, torturador de militantes ou simpatizantes do grupo guerrilheiro dos Tupamaros, que “exorciza seus demônios” com Susana (Martina Gusman), uma prostituta em quem achou uma espécie de refúgio emocional para o seu forte sentimento de culpa.
A história de ambos vão se encontrar por causa da pensão da Emília (Maribel Verdú), onde Diego e Susana moram e são amigos. Aos poucos, as vidas dos roteiristas e do militar são profundamente afetadas pela opressão da ditadura que está chegando com força. Assim, tanto um quanto lutam por uma saída digna que lhes permita, pelo menos, olhar-se no espelho em uma época tão sombria.
Recorte ideal
Embora não seja um filme definitivo sobre o começo, meio e fim da ditadura uruguaia, O Ano da Fúria acerta em seu recorte. O foco na ascensão do militarismo junto com a onda de terror já é o suficiente para mostrar o que viria pela frente. Afinal de contas, não é necessário mostrar apenas o que acontece durante a ditadura militar. Em outras palavras, é fundamental mostrar como as coisas acontecem, como a sociedade aceita e como o horror chega antes da ditadura propriamente dita. É algo que, infelizmente, estamos vendo hoje. E muitas pessoas aceitam como naturalidade e normalidade. Seria bom se os sinais de alerta fossem percebidos antes da tempestade chegar de vez.
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Ficha técnica – O Ano da Fúria
Título original: El Año de La Furia
Direção e roteiro: Rafa Russo
Elenco: Alberto Ammann, Joaquin Furriel, Daniel Grao, Marina Gusman, Sara Sálamo, Paula Cancio, Miguel Angel Solá, Maribel Verdú
Data de estreia:
Onde assistir: HBO Max
País: Uruguai, Argentina e Espanha
Gênero: drama
Duração: 101 minutos
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos