O Assassino: masculinidades (ironicamente) em jogo
Giovanna Ribeiro
Entramos no universo de O Assassino, de David Fincher (Clube da Luta, Seven), a partir do monólogo inicial do personagem-título, vivido por Michael Fassbender. Sob a trilha irônica de The Smiths (que persiste ao longo de todo filme), enquanto apresenta ao espectador sua rotina comicamente metódica, o Assassino discorre sobre o quanto seu trabalho – nada convencional – na realidade, não gera o menor impacto sobre as bilhões de pessoas ao redor do mundo, que nascem e morrem todos os dias.
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Nesse sentido, Fincher subverte – todavia, sem muita originalidade – a narrativa masculina de ‘homem comum que se acha extraordinário’, para o homem que vive uma vida extraordinária de fato, mas se considera comum. O Assassino começa bem quando flerta com a comédia. Mas a chave vira justamente quando a personagem de Sophie Charlotte entra na história, dando um tom clichê que relembra, afinal das contas, se tratar de um filme de ação da Netflix.
Contradições
Movido agora por atitudes passionais e um sentimento de vingança insensata, o Assassino contradiz toda a construção prévia do personagem, que executa seu trabalho de forma precisa, sem ‘tomar partido’ ou se envolver em nada além daquilo para o qual foi pago. Mas tal reviravolta também pode ser vista como a beleza que existe na individualidade, mesmo entre bilhões de outros seres humanos (o que acaba retornando ao monólogo inicial).
Para o Assassino, a maldade é inerente ao ser humano. Mas ele mesmo, só age com maldade pura e simples, desinteressada de fatores práticos de seu ofício, quando confrontado com a possibilidade de perder alguém querido. Coerente mesmo em suas incoerências, o prazer de assistir este longa de David Fincher é perceber que nenhum elemento está ali por acaso. Quer você concorde, ou não.
Estereótipos
Fassbinder está triunfal em seu retorno às telas, mas há de destacar, infelizmente, a representação de uma América Latina estereotipada (e amarelada), em que todos falam inglês perfeitamente, de forma muito conveniente. E o quanto o filme vai perdendo seu ritmo, sobretudo nas cenas de luta – o que se tratando de um filme de ação, é pecado grave – além da participação subaproveitada de Tilda Swinton.
Definitivamente, o Assassino tem muitos méritos, mas não se sustenta enquanto aspirante a possível franquia de ação – ainda mais considerando seu desfecho frágil e equivocado. Pensando na filmografia de Fincher, o Assassino só pode ser considerado eficiente. (Infelizmente) nada além disso.
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Trailer do filme O Assassino
Ficha Técnica do filme O Assassino
Título original: The Killer
Diretor: David Fincher
Roteiro: Alexis Nolent, Luc Jacamon, Andrew Kevin Walker
Elenco: Michael Fassbender, Tilda Swinton, Arliss Howard, Charles Parnell, Sophie Charlotte, Gabriel Polanco, Kerry O’Malley, Emiliano Pernía, Sala Baker
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: 10 de novembro de 2023
Duração: 118 minutos
País: Estados Unidos da América
Gênero: Ação, Aventura, Policial
Ano: 2023
Classificação: 16 Anos