‘O Céu da Meia-Noite’: Clooney escorrega em filme promissor da Netflix
Victor Lages
George Clooney é um artista fantástico e único em Hollywood. Surgiu nos anos 90 na série E.R.: Plantão Médico e foi galgando uma carreira múltipla a partir daí. Brilhou em Conduta de Risco (2006) e Os Descendentes”; bem como estreou na direção e roteiro com um chute na porta em Boa Noite e Boa Sorte (2005). Ganhou destaque até mesmo como produtor em Argo (2012).
Versátil, ele provou que merecia um lugar de respeito na indústria cinematográfica. Assim, foi convidado pela Netflix para lançar seu mais novo filme, O Céu da Meia-Noite. A saber, a produção chegou no último dia 23 na plataforma mundial. A obra, no entanto, é um ponto baixo na sua trajetória como diretor, do mesmo modo como Batman e Robin (1997) foi como ator.
Aventura espacial e terrestre
Nesse filme, Clooney interpreta Augustine, um cientista destruído pelas amarguras do passado e por uma doença terminal que o deixa isolado no Ártico. Então, depois que uma catástrofe global obriga a humanidade a se refugiar no subterrâneo do planeta, ele se sente na obrigação de avisar a uma nave que está retornando de uma missão em Júpiter sobre o que está acontecendo na Terra.
Paralelo a isso, acompanhamos esses astronautas na volta para casa. Enfrentando chuva de meteoros e falta de comunicação, enquanto conhecemos as origens das dores que Augustine carrega ao longo de sua vida.
Surpresas e reviravoltas capengas
Temos aqui exemplos tão desconexos de como fazer um filme com espetáculos técnicos e de como exatamente não fazer. São tantos altos e baixos que é preciso elencá-los e apontá-los um a um.
O roteiro não é tão ruim quanto se pode dizer, mas era tão promissor no começo do filme que chega a ser desapontador perceber para onde a história está nos levando. Há surpresas mal exploradas, assim como reviravoltas desnecessárias.
O Céu da Meia-Noite, da Netflix, é mais um filme que sofre do que chamo de “Efeito Shyamalan”. Possui uma reviravolta interessante, mas que não faz a menor diferença no todo que é o roteiro. Não havia necessidade alguma para ela existir, mas, já que existe, vamos lidar com a presença dela.
Enfim, quando falo de surpresas mal exploradas, entro no quesito montagem. Isso porque a edição desse filme é tão tosca e capenga que minha sensação em praticamente todas as potenciais boas cenas era simplesmente de um coito interrompido.
É criada uma tensão, seguida por um problema a ser resolvido, até que esse problema é apresentado como uma mera casualidade facilmente corrigida e cortada da narrativa no momento em que atingiria seu ápice. Como exemplos, pondero a cena dos lobos se aproximando do protagonista e a primeira chuva de meteoros.
Efeitos defeituosos
Na mesma mão de trânsito, estão os efeitos especiais. De fato, as cenas no espaço são belíssimas e de encher os olhos com o brilho das estrelas e do Sol. Mas também se mostram inteiramente datadas e fracas quando há algum personagem contrastando com o fundo verde. Enquanto temos cenas que só deveriam ser vistas com uma grandiosa tela de cinema, outras são de louvar por permitirem não vermos seus erros nas telas domésticas pequenas.
A trilha de Alexandre Desplat é outro setor que sofre com a qualidade não-linear do filme. Os momentos de Augustine no laboratório do Ártico trazem sons intrigantes e inteligentes, complementando bem com a situação. Mas as músicas criadas para o espaço parecem ter sido porcamente recicladas de Gravidade (2013), sem criatividade nenhuma. É uma pena, já que Desplat é um dos melhores compositores da atualidade. Afinal, trouxe trilhas absurdas de lindas nos últimos anos, como O Grande Hotel Budapeste (2014) e A Forma da Água (2017).
2020 acabou
Por fim, graças aos divinos superiores, 2020 está acabando. Mas, para o cinema, já foi decretado o fim de ano, pois essa era a última obra a ser lançada. Assim como era a última estreia da Netflix, plataforma tão importante para o entretenimento global desse ano pandêmico que nos presenteou com Destacamento Blood; Os 7 de Chicago; Mank; e A Voz Suprema do Blues.
Então, a Netflix fechar o ano com O Céu da Meia-Noite é o maior retrato simbólico que poderíamos ter. Um filme que começa muito bem e que vai degringolando pelos minutos até findar com um “tanto faz” dito pelos espectadores.
TRAILER
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FICHA TÉCNICA
Título original: The Midnight Sky
Direção: George Clooney
Elenco: George Clooney, Felicity Jones, David Oyelowo, Tiffany Boone, Demián Bichir, Kyle Chandler, Caoilinn Springall
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: qua, 23/10/20
País: Estados Unidos
Gênero: ficção científica
Ano de produção: 2020
Duração: 118 minutos
Classificação: 14 anos