‘O Diabo de Cada Dia’ (Netflix) mostra que o mal está ao nosso redor
Wilson Spiler
Dizem que o diabo mora nos detalhes, mas, nesse caso, ele aparece escancarado mesmo. É mais ou menos o que acontece em O Diabo de Cada Dia (The Devil All the Time), nova produção original da Netflix estrelada por Tom Holland, Sebastian Stan, Robert Pattinson e Bill Skarsgård.
À primeira vista, o longa dirigido por Antonio Campos (Depois da Escola) passa a impressão de um terror psicológico. Com uma trilha obscura e longos silêncios, o diretor mostra competência para criar, já de início, um clima angustiante e de muita tensão.
No entanto, no decorrer do filme, percebemos que estamos diante de um drama (com um quê de road movie) e dos mais acachapantes. Embora estejamos diante do nosso terror cotidiano.
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A trama
O filme da Netflix, O Diabo de Cada Dia, é divido por diferentes linhas do tempo. Mas o que pode parecer um pouco confuso de início, se mostra um acerto do cineasta para contar a história com detalhes minuciosos.
A trama começa mostrando as trajetórias de Willard Russell (Bill Skarsgård) e Carl Henderson (Jason Clarke). Embora a dupla apareça no mesmo cenário, as histórias deles não vai se cruzar. Ao menos não diretamente.
Willard é um homem, digamos, inseguro de sua fé, diante do que lhe ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, ao tentar trazer o filho para a igreja novamente, também empenha-se para que ele se case com Helen Hatton (Mia Wasikowska). A “missão”, entretanto, não obtém sucesso, já que a jovem se apaixona pelo pastor da congregação.
No entanto, Willard já estava apaixonado por Charlotte Russell (Haley Bennett) e, ao casar-se com ela, aos poucos, vai retomando sua crença, até que uma tragédia acontece.
É aí que os caminhos de Arvin Russel (Tom Holland) e Lenora Laferty (Eliza Scanlen), já que ambos compartilharam de desgraças semelhantes e foram adotados por Emma (Kristin Griffith), avó de Arvin.
‘O Diabo de Cada Dia’ no dia a dia
Arvin e Lenora, então, firmam uma união bem forte e se consideram como irmãos de sangue. Arvin, contudo, diante do seu passado trágico, assim como seu pai, não lida bem com a fé. Lenora, por outro lado, é uma devota inveterada, que busca seu consolo na palavra de Deus.
As coisas começam a mudar – e a piorar – com a chegada de um novo pastor à cidade. Preston Teagardin (Robert Pattinson), logo de cara, já cria um embaraço para a família ao criticar o fígado de galinha levado para o culto. Enquanto Emma fica constrangida e Arvin irritado, Lenora é contra críticas a um “homem de Deus”.
Assassinos por natureza
Voltemos ao outro personagem do início do filme: Carl Henderson. Ele conhece sua futura esposa, Sandy Henderson (Riley Keough), no mesmo bar que Willard conhece Charlotte. Mas, como disse anteriormente, as trajetórias deles não se cruzam, ao menos não diretamente.
Carl tinha fetiche em ver a esposa seduzindo outros homens e gostava de fotografar a cena. Eles buscavam suas vítimas na estrada, onde davam carona para quem precisasse. Contudo, até antes do sexo, ele matava a pessoa e tirava fotografias de Sandy ao lado dos mortos, em cenas mórbidas.
Sandy, por sua vez, é irmã de Lee Bodecker (Sebastian Stan), que é o xerife da cidade e candidato a prefeito. Ele, claro, é o principal responsável pela investigação dos mais diversos crimes do pequeno município.
A partir daí, é quase impossível falar mais da trama sem dar spoilers, o que não é a intenção desse autor.
Atuações seguras
Como pudemos ver, a Netflix selecionou um elenco estelar para o O Diabo de Cada Dia. E as escolhas foram um grande acerto da direção. Tom Holland interpreta um papel completamente diferente do Homem-Aranha ingênuo que vemos nos filmes da Marvel. É frio, seguro e calculista.
Além disso, Robert Pattinson reforça o talento que vem demonstrando nas últimas produções, vide “O Farol”. O personagem dele é cínico e sua interpretação é de encher os olhos, com direito a mudança na entonação de sua voz. Sua cena do carro é uma das melhores do filme, já que transpassa todo o cinismo que a atuação pede.
Aliás, aqui um destaque também para Eliza Scanlen, a Lenora, que interpreta uma jovem devota e participa brilhantemente da mesma cena do carro. Mas, no geral, todo o elenco está muito bem.
Crítica ao fanatismo religioso
De fato, com um título desses, O Diabo de Cada Dia, da Netflix, não deixaria de ter algum cunho religioso. Obviamente, o filme faz uma crítica aberta ao fanatismo pela religião. Beatice essa que levou Lenora ao abismo, assim como o assassino Carl, que dizia ter sido professor de catequese.
Antes de ser achincalhado por religiosos, vale ressaltar que, em nenhum momento, O Diabo de Cada Dia critica a fé em si, mas a devoção exagerada e, principalmente, cega, que pode nos levar a caminhos obscuros e sem volta.
Além disso, o filme mostra que estamos diante de situações que jamais pensaríamos em passar. Ou seja, a vida é uma incógnita e, por mais que você não seja “uma pessoa ruim”, como diz o personagem de Holland, pode se ver envolvida em casos inesperados. Uma reflexão de que o “diabo” não vive recluso no inferno, mas nos tentando a todo instante. Basta um empurrãozinho para perdermos a sanidade.
O Diabo de Cada Dia é, certamente, uma excelente pedida da Netflix.
TRAILER
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FICHA TÉCNICA
Título original: The Devil All the Time
Direção: Antonio Campos
Elenco: Tom Holland, Sebastian Stan, Robert Pattinson, Bill Skarsgård, Mia Wasikowska, Drew Starkey
Distribuição: Netflix
Data de estreia: qua, 16/09/20
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2020
Duração: 138 minutos
Classificação: 16 anos