O Dilema das Redes Netflix crítica

‘O Dilema das Redes’ expõe a problemática das mídias sociais

Jorge Feitosa

“- O que mais te preocupa?

– Acho que, no curto prazo, uma guerra civil.”

Logo no início de O Dilema das Redes (The Social Dilemma), o designer de ética Tristan Harris senta na cadeira visivelmente nervoso. Assim, repetindo um gesto tão comum, olha o seu celular e nos lembra o quão difícil é não desviar a atenção para as redes sociais.

Dirigido por Jeff Orlowski, o documentário da Netflix é um apanhado de entrevistas com diversos profissionais que já fizeram parte de gigantes da tecnologia como Google, Facebook, Twitter e outros de áreas diversas.

Aliás, as entrevistas são entremeadas com uma dramatização com atores que representam o usuário médio das redes sociais e os objetivos principais das empresas do setor: engajamento, crescimento e publicidade. Estes três últimos interpretados por Vicent Kartheiser, que, não por acaso, viveu um jovem publicitário na série Mad Men.

Vício das redes sociais

Em O Dilema das Redes, na dramatização com atores, é analisado o vício que as redes sociais provocam nas pessoas. Com sérias consequências na saúde mental da população e na qualidade dos relacionamentos, principalmente entre os nativos digitais que desde cedo são expostos a uma interação baseada em curtidas. Contudo, não têm seus cérebros preparados para uma enxurrada de opiniões positivas ou negativas para cada imagem ou comentário postado.

Em seguida, a dificuldade de se relacionar no mundo real e lidar com as dificuldades da vida acabam por tragar as pessoas ao que os aplicativos recomendam para fins de lucro. Razão pela qual, de fato, só a indústria de software e a das drogas chamam seus clientes de usuários.

Foto: Netflix / Divulgação

Intenções boas, mas…

Ao fundo de tudo isso, todos os profissionais do ramo entrevistados demonstram sinceridade ao narrar que tudo começou com as melhores intenções de conectar e facilitar a vida das pessoas. No entanto, começaram a perceber o desenvolvimento do chamado “capitalismo de vigilância”.

Ele não apenas monitora o comportamento dos usuários como, gradualmente, o altera para gerar mais engajamento e mais receitas com publicidade.

O resultado, como qualquer um pode ver, é que o mundo nunca esteve tão polarizado por causa de uma avalanche diuturna de fake news a causar um retrocesso no próprio pensamento humano. Isso porque a economia das redes sociais é baseada em cliques e esses se retroalimentam em um ciclo cada vez mais vicioso de ignorância.

E, se alguém duvida disso, basta pesquisar por alguns minutos e constatar que pessoas aparentemente racionais estão se perdendo no mar ou explodindo em foguetes pra provar que a terra é plana e não redonda.

Pouco se faz para mudar o cenário

Por fim, O Dilema das Redes deixa aquela sensação de que muito pouco está sendo feito para mudar o que está acontecendo. Mesmo com o otimismo dos envolvidos.

Até porque é muito difícil abrir mão das facilidades que a tecnologia proporciona e nos submetemos ao ponto de nos tornarmos o próprio produto.

Enfim, uma situação magistralmente retratada em uma cena incômoda e retirada das fazendas de gado humano do filme Matrix, a joia das irmãs Wachowski lançada 20 anos atrás.

TRAILER

FICHA TÉCNICA

Título original: The Social Dilemma
Direção:
Jeff Orlowski
Elenco: 
Tristan Harris, Jeff Seibert, Bailey Richardson, Skyler Gisondo, Kara Hayward, Vincent Kartheiser
Distribuição: 
Netflix
Data de estreia:
 qua, 09/09/20
País: 
Estados Unidos
Gênero: 
documentário
Ano de produção: 
2020
Duração: 
94 minutos
Classificação: 
12 anos

Jorge Feitosa

@jorgefeitosalima
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