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O Estrangulador de Boston crítica do filme Star Plus + 2023 (1)

‘O Estrangulador de Boston’ é um exemplo real do machismo e da força da mulher

Taynna Gripp

Loretta McLaughlin (Keira Knightley) é uma jornalista empenhada em conseguir se destacar no meio, ainda que a ela seja determinadas apenas pautas sem valor expressivo, dentro do caderno de assuntos femininos, na década de 60. Quando a protagonista percebe um padrão documentado em pequenas notas em jornais concorrentes sobre três mulheres mais velhas que tinham sido mortas, uma por vez, estranguladas, o tino jornalístico fala mais alto e ela decide investigar o caso por conta própria.

Assim somos apresentados ao filme O Estrangulador de Boston (Boston Strangler), estreia recente do Star+ com elenco renomado e roteiro de Matt Ruskin, baseado na história real dos assassinatos ocorridos em Boston durante os anos 60, quando várias corpos de mulheres foram encontrados com traços de estupro e o assassino brutal ainda deixava uma marca: laços feitos com meias enfeitando o pescoço das vítimas.

Sexismo

Além de um bom filme de suspense policial, a trama se pauta também no sexismo enfrentado por Loretta, que é descredibilizada o tempo inteiro até mesmo quando suas suspeitas se confirmam e sua matéria vira capa do jornal. A personagem é designada para cobrir o caso juntamente com Jean Cole (Carrie Con), uma jornalista mais experiente e, ambas, para terem sucesso, precisam enfrentar o machismo imperante na própria equipe, na polícia, e até em suas casas.

O Estrangulador de Boston, em quase duas horas de filme, nos conduz com precisão cirúrgica ao modo como mulheres eram tratadas na época. Existem cenas que machucam aos olhos femininos ainda hoje porque, mesmo mais de meio século depois, ser mulher é ter sempre seu trabalho questionado e seu corpo sendo considerado um convite.

Tratar sobre um psicopata que atacava mulheres quando esse termo ainda nem tinha sido cunhado, é abordar como a sociedade da época considerava impossível levar a sério a voz de duas jornalistas que enfrentaram tudo para expor o crime e ajudar a solucionar o mistério que assombrou a cidade por anos seguidos.

O Estrangulador de Boston foi preso na vida real?

Ao todo, acredita-se que os responsáveis pela alcunha do Estrangulador de Boston (sim, o filme nos direciona ao fato de que mais de um homem foi responsável pelas mortes creditadas ao assassino) cometeram, entre os anos de 1962 e 1964, mais de 10 crimes contra mulheres de idades entre 19 a 85 anos.

Ainda que um criminoso tenha sido sentenciado à prisão perpétua por assumir o crime, provou-se que ele estava envolvido em apenas alguns dos ataques, e a verdadeira face do assassino nunca foi descoberta, mesmo tantos anos depois.

O Estrangulador de Boston é um filme para nos fazer questionar quais os avanços reais tivemos enquanto sociedade que cuida de suas mulheres. E, quem sabe, além disso, permitir que elas tenham voz, afinal, bem como o discurso no terceiro ato do longa-metragem, sempre haverá um homem disposto a subjugar e matar uma mulher.

Se um homem for preso, outro aparecerá e essa fonte parece jamais secar. Tantas décadas depois ainda vemos criminosos em posições privilegiadas enquanto mulheres sentem nojo de si mesmas ao sofrerem um abuso.

Obra importante

É uma obra extremamente importante para a formação de pensamento crítico sobre como o machismo estrutural ainda nos atinge e também sobre como o jornalismo bem-feito pode ser crucial para salvar a vida das pessoas.

O Estrangulador de Boston estreou no mês da mulher e já marca suas personagens como exemplos reais de força e determinação que mudaram a vida de milhares de mulheres em uma época em que era impossível fazer isso sendo mulher.