O Fenômeno da Música Lo-Fi

Vinícius de Lacerda Mesquita

Durante a pandemias e os quase 2 anos de isolamento social, as pessoas precisaram se reinventar. Para aproveitar um tempo que, em muitos casos, sobrava ao invés de faltar. O consumo de leituras, plataformas de streaming, sites de e-commerce e lives musicais revelaram que com menos contato humano, nossas energias se concentraram, de certa forma, em elementos culturais. Mesmo que apenas os inseridos na tal Cultura Pop. Porém, dentre todos esses recursos, destaca-se um em especial: o fenômeno da música Lo-Fi.

O Que É Lo-Fi?

Sua origem e etimologia tem a ver com a expressão low-fidelity, que pode significar, literalmente, ‘baixa fidelidade’. Ou um tipo de música mais crua, com o mínimo de produção ou engenharia musical. E ainda feita em formato minimalista, caseiro ou artesanal. No anos 1990, ficou conhecida como música DIY e associada a equipamentos mais próximos de uma tecnologia analógica e um estilo mais vintage. Mais próximo da chamada indie music. Em suma, trata-se do famoso ‘menos pode ser mais’, tendo como base a repetição das batidas, simplicidade e uma espécie de charme.

O que chama à atenção na música Lo-Fi é como esse gênero passou a ser associado com música de concentração, relaxamento ou mesmo fundo musical para estudos. Além disso, e principalmente após rígidas mudanças nas questões de direitos autorais em plataformas como a Twitch, o uso desse tipo de música pareceu ser uma saída inteligente para os streamers. Há, no YouTube, inúmeras playlists que vão do hip-hop, blues e jazz, a clássicos do rock, música eletrônica e até MPB.

A utilização de músicas principalmente para fins ‘mentais’ não é nenhuma novidade. Por anos, a ciência mostrou que, de fato, alguns sons poderiam nos colocar em estados de consciência mais ou menos alterados, mais ou menos de concentração ou introspecção. Músicas clássicas, por exemplo, sempre foram exemplos dessa tentativa de usar a música como subterfúgio. Também se observa essa possibilidade em outros gêneros, como a música new age, mantras ou sons orientais, esses últimos mais ligados às práticas de meditação. Há quem afirme que ouvir heavy metal, trash ou punk é ainda mais efetivo.

Jung, Tipos e Funções

Bom, do ponto de vista Junguiano, há toda uma base teórica que diz respeito àquilo que ele como pesquisador chamou de tipos e funções psicológicas. Para Jung, a energia psíquica, também chamada de libido, encontra diferentes caminhos na psique e corpo. Quando encontra uma ‘barreira’ por assim dizer, pode ficar como água represada, inundando tal ou qual aspecto de nossas vidas, principalmente aos ditos afetos e emoções.

Para alguma pessoas, essa energia flui de fora para dentro, as chamadas introvertidas. Para outra, de dentro para fora, os extrovertidos, Aqui, nada tem a ver com ser tímido ou expansivo, e sim com percepção do indivíduo em relação à sua noção de realidade: se o julgamento, percepção, apreensão ou experiência estão mais propícias para dentro (sujeito) ou para fora (objeto).

Além disso, há na Psicologia Analítica a divisão em 4 funções básicas ligadas à adaptação: pensamento e sentimento (racionais ou conscientes), intuição e sensação (irracionais ou insconscientes). A compreensão se dá justamente dessa maneira, como se fossem pares de opostos, daí a ideia de que quanto mais uma pessoa tem como função mais desenvolvida o pensamento, em sua parte oposta estaria o sentimento, e vice-versa. Não significa que uma seja melhor ou pior do que a outra, apenas que a pessoa se identifica mais com uma, ou se utiliza mais de uma do que das outras.

Mas não é uma classificação taxionômica ou rígida: é tão somente um modo de observar como alguém pensa, sente, age ou reage às situações da vida, seja mais voltado para o interno ou externo, utilizando-se mais dos sentidos, das sensações, da razão ou do julgamento valorativo para encontrar sentido e desenvolver sua personalidade. No fundo, utilizamos e precisamos de todas elas, ao mesmo tempo, em qualquer situação da vida.

Mas Funciona Mesmo?

A partir disso, é difícil dizer se um gênero musical, de fato, pode funcionar da mesma maneira para todas as pessoas. Para aqueles que são mais introvertidos, de fato a música Lo-Fi pode ajudar nessa tarefa de atenção e concentração potencializadas para leitura ou estudos. No entanto, para quem possui a sensibilidade musical mais apurada, o resultado será o inverso. Concentração e atenção total à canção e aos elementos que nela existem. Uma música sem vocais pode ser efetiva para uma parte das pessoas, mas pode não funcionar bem para outras.

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O fato é que o mercado do gênero em questão tem crescido consideravelmente. Inclusive, utilizando-se dos famosos algoritmos para determinar que tipo de música, playlist ou som específico combina com nossos gostos e hábitos. Não é possível determinar se, de fato, essa funcionalidade atinge e se dá igualmente para todo mundo. O certo é que a música sempre encontra seus caminhos criativos, ainda mais quando se trata de novidades, que podem ser ou não duradouras. Quer uma dica? Experimente e diga pra gente o que sentiu e acha em sobre isso.

Vinícius de Lacerda Mesquita

Vinícius de Lacerda é formado em Letras e professor de língua portuguesa. Atualmente, é pós-graduando em Psicologia Junguiana, poeta, compositor, redator e entusiasta da Cultura Pop.
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