‘O Fotógrafo e o Carteiro’, um crime que não pode ser apagado da História

Era madrugada do dia 25 de janeiro de 1997 quando o fotógrafo argentino José Luis Cabezas foi visto pela última vez, saindo de um um evento na badalada cidade de Pinamar, reduto da elite política da época. Tudo o que ocorreu antes do sequestro e crime do jornalista, durante e depois, é contado no documentário O Fotógrafo e o Carteiro – O Crime que Parou a Argentina (El Fotografo y el Cartero: El Crimen de Cabezas), filme que estreou em maio na Netflix.

Para compreendermos a barbárie do assassinato de Cabezas é fundamental visitarmos um passado não tão distante da Argentina. Os meados da Ditadura Militar em que a censura se cumpria executando jornalistas, passado que vários países da América do Sul têm em comum, inclusive. Então, quando o corpo foi encontrado algemado junto a um carro incinerado, o medo voltou a assombrar toda a imprensa local. Mas, como pólvora acesa, a morte desencadeou uma série de buscas por respostas, uma vez que o país se encontrava em meio a uma batalha política.

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Os personagens

O documentário, muito bem dirigido por Alejandro Hartmann, já começa com uma fala impactante de Eduardo Duhalde, governador da província de Buenos Aires na época do ocorrido: “Tinham matado um jornalista. Imediatamente me dei conta da magnitude do que tinha acontecido”. Duhalde, aliás, é um dos personagens principais de toda essa história. Além disso, juntam-se ao seu nome outros chefes de estado como Carlos Menem (presidente em exercício na data); bem como Domingo Cavallo (ex-ministro da economia); e o grande empresário Alfredo Yabrán (que comandava várias instituições privadas ligadas diretamente ao governo), por exemplo.

O modo como tudo se desenrolou ainda inclui envolvimentos da própria polícia. Mas, se tudo isso não lhe parece familiar com determinada morte que ocorreu, recentemente, em terras tupiniquins, o movimento “Cabezas, Presente” talvez te traga à memória Marielle Franco, executada de forma impiedosa, com seus assassinos ainda livres.

Como um livro bem dividido entres os capítulos, a história de José Luis vai sendo contada, descobrimos seus trabalhos criticando o governo, sua forma muito peculiar de apresentar líderes e o que pode ter levado a sua morte: a fatídica foto de Yabrán (até então jamais exposto em qualquer mídia) caminhando por uma praia de Pinamar com a esposa.

Justiça?

Vinte e cinco anos depois do ocorrido, a família de Cabezas continua clamando por justiça. Não é possível dizer que o evento foi esquecido. Um julgamento para esclarecer todo o ocorrido aconteceu e até levou à cadeia diversos nomes importantes da época, entre eles policiais do mais alto esquadrão, mas, entre todos os envolvidos na morte do jornalista, nenhum deles permanece em cárcere, passado pouco mais de duas décadas.

Em dado momento do documentário, Yabrán, já exposto e agora até íntimo da imprensa, declara que “Poder é Impunidade”. Não é preciso uma análise profunda para compreendermos que, sim, passe o tempo que passar, seja em qual idioma for, quanto mais poder alguém tiver, mais impune será.

O documentário O Fotógrafo e o Carteiro – O Crime que Parou a Argentina deveria ser assistido porque existem histórias que precisam viver para sempre, como a de Cabezas e a de Marielle presentes.

Onde assistir ao documentário O Fotógrafo e o Carteiro?

A saber, O Fotógrafo e o Carteiro está disponível para assinantes da Netflix. Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

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Trailer do documentário O Fotógrafo e o Carteiro, da Netflix

Ficha Técnica: O Fotógrafo e o Carteiro, da Netflix

Título original: El Fotografo y el Cartero: El Crimen de Cabezas
Direção: Alejandro Hartmann
Duração: 106 minutos
País: Argentina
Gênero: documentário
Ano: 2022
Classificação: 16 anos