O Gambito da Rainha série crítica

‘O Gambito da Rainha’ é um dos maiores acertos da Netflix

Guilherme Farizeli

Um fenômeno! Essa é a melhor forma com a qual podemos classificar ‘O Gambito da Rainha’, produção da Netflix que alcançou o posto de minissérie roteirizada mais assistida da plataforma. A saber, a informação foi divulgada pela empresa ontem (23), em seu site oficial.

Números incríveis

Segundo a Netflix, 62 milhões de usuários assistiram a série em seus 28 primeiros dias desde a estreia. Além disso, a plataforma ainda divulgou outros dados que comprovam o fenômeno “Beth Harmon” ao redor do mundo. Nesse sentido, a busca por “como jogar xadrez” duplicou no Google e o livro homônimo de Walter Tevis, que inspirou a adaptação da Netflix, retornou à lista dos mais vendidos.

Em primeiro lugar, se levarmos em conta que o marketing inicial em torno da série foi pequeno, o feito é mais surpreendente ainda. Portanto, todo o buzz gerado em torno da série é genuíno. Em outras palavras, o boca a boca de quem assistiu e indicou para os amigos foi fundamental neste caso.

A trama

Antes de mais nada, o Gambito da Rainha conta a história de Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), uma jovem que, nos anos 50, sobrevive ao acidente de carro que resulta na morte da sua mãe. Durante sete episódios, conhecemos a jornada da vida da personagem.

Ainda criança, ela é levada para um orfanato onde é apresentada aos elementos que definirão sua vida. O primeiro deles é a solidão. Embora tenha encontrado camaradagem em suas colegas de orfanato, a construção da personagem solitária começa a partir de sua triste estadia naquele local.

(Divulgação/Netflix)

O próximo elemento é o abuso de substâncias. As crianças do orfanato são constantemente dopadas para se manterem dóceis e a pequena Beth acaba viciada nos tranquilizantes. Dessa forma, a sensação de dormência ajuda a afastar as lembranças de sua mãe.

Salva pelo xadrez

Por fim, o último elemento é também o instrumento de sua redenção. O xadrez. Sempre muito esperta e inteligente, Beth descobre Mr. Shaibel (Bill Camp), o zelador do orfanato jogando no porão. Logo depois, ela o convence a lhe ensinar o jogo. A dinâmica entre esses dois personagens é um dos pontos altos do início da série.

Ao mesmo tempo, a atriz Isla Johnston, que interpreta a jovem Beth Harmon, manda muito bem em sua performance. Temos momentos dignos de Leo DiCaprio em ‘O Lobo de Wall Street’.

(Divulgação/Netflix)

Realismo impressiona

Do mesmo modo, a riqueza de detalhes da produção realmente chama a atenção. Figurinos, cenários e trilha sonora fazem com que a gente realmente volte no tempo e vivencie o período retratado na série. Além disso, cada movimento durante os jogos de xadrez foi coreografado pelos consultores de xadrez Garry Kasparov e Bruce Pandolfini.

Eles também ajudaram a treinar todos os atores. Bem como cada partida de xadrez mostrada na tela foi realmente jogada pelos atores nessas cenas. Incluindo as partidas de xadrez em ritmo acelerado. Kasparov, inclusive, foi convidado pelo criador Scott Frank a interpretar Borgov na série. Entretanto, ele recusou o papel e ficou apenas como consultor.

Brilha, Anya, brilha

Ainda que a jornada do herói seja um atrativo natural para o espectador, existe muito mérito em cativar um público tão grande contando uma história sobre xadrez.

E, nesse sentido, ‘O Gambito da Rainha’ é muito mais do que isso. A série fala sobre encarceramento, dependência química, feminismo, e faz uma ode a solidão, sem romantizá-la em nenhum momento. E tudo isso com um realismo que faz a gente se identificar e refletir, em vários momentos.

Mas o destaque absoluto da produção é Anya Taylor-Joy. A atriz anglo-argentina brilha como poucas vezes vi em uma produção deste tipo. Já é a minha favorita para a temporada de premiações, em 2021. Taylor-Joy nos leva para dentro da cabeça de Beth Harmon, seja planejando os movimentos de seus jogos, lidando com seu vício ou lutando contra as lembranças de sua mãe.

(Divulgação/Netflix)

Dançando sob o tabuleiro

Suas reações nas cenas de jogos, praticamente sem texto, são de alguém que domina sua arte. Anya Taylor-Joy revelou recentemente que, seu passado como bailarina a ajudou a desenvolver os maneirismos da personagem. Além disso, ela disse que ainda que queria que sua Beth agisse fisicamente durante os jogos de forma feminina. O objetivo era diferenciá-la de seus adversários, todos homens.

Taylor-Joy é uma estrela. Capitaneou a produção com maestria e deu vazão a tudo que o texto pedia. Sua atuação tornou a história mais interessante e mais atrativa para o público.

(Divulgação/Netflix)

Conclusão

Como eu disse no início, me parece que ‘O Gambito da Rainha’ não era uma aposta da Netflix. Inicialmente não vi muito marketing envolvido e assisti a série por indicação. Mas os números alcançados pela produção não deixam dúvida de que foi um acerto gigante.

O restante do elenco teve poucos momentos de destaque, com exceção dos personagens que interagem melhor com Beth. São eles os enxadristas Harry Beltik (Harry Melling), Benny Watts (Thomas Brodie-Sangster) e, sua mãe adotiva, Alma Wheatley (Mariana Heller). Portanto, a responsabilidade de Anya Taylor-Joy foi enorme desde o início. E ela não decepcionou. Nos entregou uma performance inesquecível.

Por fim, ‘O Gambito da Rainha’ é sem dúvida uma grande surpresa e uma das melhores séries do ano. Vai ficar na nossa memória por muito tempo. Se ainda não assistiu, corre lá e divirta-se!

FICHA TÉCNICA

Título original: The Queen’s Gambit
Temporada: 1
Data de estreia: 23 de outubro de 2020
Criação: Scott Frank, Allan Scott
Elenco: Anya Taylor-Joy, Bill Camp, Marielle Heller, Isla Johnston, Thomas Brodie-Sangster, Matthew Dennis Lewis e Moses Ingram.
País: Estados Unidos
Idioma: Inglês
Gênero: Drama
Ano de produção: 2020
Classificação: 16 anos
Distribuição: Netflix

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
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