Festival do Rio 2023 – O Mensageiro mantém o alerta sobre as barbáries da Ditadura Militar no Brasil
Bruno Oliveira
Não há dúvidas de que o período da Ditadura Militar no Brasil foi uma das épocas mais terríveis de nossa história. Durando de 1964 até 1985, tivemos um longo período de sofrimento generalizado, principalmente se falarmos sobre os presos políticos. O curioso é que pouco aprendemos sobre isso nas escolas e sentir que uma passagem de pano foi feita para torturadores chega a doer na alma. Ninguém foi condenado por esses crimes, e acredito que isso faz com que nosso “povo de bem” flerte até hoje com esse regime, ainda mais com um período que era para termos vergonha. O Mensageiro chega para nos mostrar um pequeno lado dessa história.
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Vera (Valentina Herszage) é uma presa política que está sendo mantida presa em uma fortaleza militar ao mesmo tempo que sofre torturas físicas e psicológicas. No local, ela conhece o soldado Armando (Shico Menegat) que cuida das celas do presídio. Os dois acabam tendo uma certa cumplicidade até que ele aceita levar uma mensagem para a mãe da prisioneira para informar que ela está bem. Nesse momento, ele cria uma relação afetiva com a mãe e dessa forma começa a se perguntar se servir ao país é o melhor para ele.
A busca por uma mente sã em meio aos horrores da Ditadura Militar
É curioso saber que essa história é semibiográfica da diretora do longa, Lúcia Murat. Ela realmente foi presa no período da Ditadura e um soldado também enviou uma mensagem para sua mãe para informar que estava “tudo bem” com ela. Além disso, sua mãe ainda foi madrinha de casamento de tal soldado. Surreal se pensarmos com mais afinco. Mas isso mostra até mesmo que os personagens não são opacos, todos possuem camadas. Nem todo mundo é de todo ruim e nem todo mundo é de todo bom. As pessoas ainda podem se redimir de um mal maior.
É curioso também notar que Vera não é a real protagonista deste longa. Ela é apenas o meio alcançado pelo personagem de Armando para se questionar sobre os horrores da Ditadura. Ele é um rapaz correto, cristão e com princípios. O problema é que isso não é o suficiente. Ele vê coisas erradas acontecendo, mas dizem pra ele que é para o bem maior, que é para salvar o país, e que é simplesmente seu serviço como soldado. Essa mentalidade vai para além do trabalho e afeta até mesmo o seu relacionamento íntimo com Marialva (Beatriz Barros), seu caso amoroso. Aos poucos ele vê sua alma consumida por todo esse horror.
Relação Maternal
O contraponto e a esperança dele, por incrível que pareça, é a relação quase maternal que ele nutre com Maria (Georgett Fadel), mãe de Vera. Ela acaba sendo o seu maior porto seguro. Quando Maria o chama de torturador, ele se nega ao máximo aceitar o que ela diz e quase o leva à loucura. A sanidade de alguém que realmente quer fazer o bem, mas não sabe como, pode sumir em determinados momentos por falta de esperança. Essa relação também nos mostra que pode haver um diálogo entre pessoas opostas. O famoso “posso perdoar, mas não esquecer”.
Conclusão
O Mensageiro pode não ser perfeito. Alguns problemas de barriga e algumas cenas que parecem desnecessárias compõem o longa. Não considero isso exatamente um problema, mas pode prejudicar o todo de alguma forma. O importante dele é o assunto. Os horrores da Ditadura precisam ser lembrados o tempo todo para que não possamos repetir tais barbáries covardes e que se tornaram impunes como quase tudo que ocorre no nosso país. Se não aprendemos sobre esse período na escola, aprendemos, então, no cinema.
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Teaser do filme O Mensageiro
Ficha Técnica do filme O Mensageiro
Título original: O Mensageiro
Direção: Lúcia Murat
Roteiro: Lúcia Murat e Tunico Amâncio
Elenco: Shico Menegat, Gerogette Fadel, Valentina Herszage, Floriano Peixoto, Javier Drolas, Beatriz Barros, Bruce Gomlesvsky, Higor Campagnaro, Eduardo Speroni, Rose Germano
Onde assistir: Festival do Rio
Data de estreia: Sem previsão de estreia
Duração: 110 minutos
País: Brasil e Argentina
Gênero: Drama
Ano: 2023
Classificação: 14 anos