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‘O Orfanato’: filme aborda política do Afeganistão sob os olhos de crianças

Victor Lages

Por que vemos filmes de outros países? O que nos leva a assistir a uma obra francesa, italiana, japonesa ou iraniana? Para mim, é conhecer histórias novas, descobrir culturas distantes e (isso sempre vem com uma surpresa) ver o quanto o mundo é pequeno e correlato.

Talvez esse seja o principal trunfo da diretora Shahrbanoo Sadat com o filme afegão O Orfanato (Parwareshghah). Tendo apenas trinta anos de idade e quatro filmes na carreira, Sadat mostra sua realidade afegã de forma bem palpável e delicada.

O futuro das crianças

A saber, a história do filme O Orfanato começa com uma criança chamada Qodratullah vivendo nas ruas e ganhando um mínimo de dinheiro como cambista na porta de cinema. Mas é lá dentro da sala de exibição que seus sonhos fluem ao assistir a filmes indianos de Bollywood.

Assim, ao ser resgatado da marginalização e levado para um orfanato, ele se depara com outras crianças em igual situação. Então, lá recebem educação básica, alimentação e uma possibilidade de ambicionar serem alguém quando crescerem. Afinal, como diz o diretor do local: “O futuro está nas mãos das crianças”.

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Afeganistão em 1989

Mas o ano em que a narrativa se passa é 1989. Há dez anos, a União Soviética invadia o Afeganistão, que resistia pelos rebeldes mujahidin, numa guerra dolorosa que acarretou em milhares de mortes.

Com o fim do conflito em 89, a URSS foi obrigada a recuar e os rebeldes se dividiram em dois grupos bastante conhecidos mundo afora: o Talibã e a Al-Qaeda. Ou seja, o clima de violência estava no ar, tudo sob os olhos das crianças.

Violência e empatia

Ali, no orfanato em questão, vemos hostilidade hierárquica dos jovens veteranos em cima dos recém-chegados. Vemos também uma dinâmica própria instituída, em que um amistoso jogo de xadrez gera uma briga a socos e tapas. Agredir é uma resposta óbvia para os garotos, mas não tão bem aceita pelas autoridades do local.

No entanto, há empatia infantil. Afinal, esses meninos também se ajudam e se apoiam. Dão força quando um parente morre e sofrem quando um acidente acontece.

E ainda escutam os sonhos alheios, de virarem atores de Bollywood, de viajarem pelo mundo, de abrirem o próprio negócio. Enfim, naquele espaço, sonhar e ambicionar é a única forma de fugir da realidade violenta.

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Nós, as crianças do filme

E, assim, vemos um longa interessante pela cultura que é passada, mas que, infelizmente, soa ligeiramente raso pensando em retrospecto.

No entanto, O Orfanato não é um filme ruim. Longe disso! Vale demais a pena ser assistido, principalmente ao acompanharmos aquelas crianças perdidas observando as mudanças políticas de seu país, sem entenderem direito o que está acontecendo.

Nós, espectadores brasileiros, distantes daquele mundo, somos essas crianças. Aprendemos aos poucos sobre a República do Afeganistão se transformando em um Estado Islâmico.

No fim, o futuro está mesmo nas mãos das crianças. Isso se existir mesmo um futuro digno para elas…

TRAILER

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FICHA TÉCNICA

Título original: Parwareshghah
Direção: Shahrbanoo Sadat
Elenco: Qodratollah Qadiri, Sediqa Rasuli, Masihullah Feraji, Hasibullah Rasooli, Ahmad Fayaz Osmani, AnwarHashimi
Distribuição: Supo Mungam Films
Onde assistir: NOW e VIVO PLAY
Data de estreia: qui, 03/12/20
País: Afeganistão, Dinamarca, Alemanha, França
Gênero: Drama, Fantasia, Musical
Duração: 90 minutos
Ano de produção: 2019

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
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