Mesmo fugindo de padrões, O Pacto é um filme que não será lembrado
Leonardo Duarte
Após os atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos entraram em uma guerra que duraria muitos anos, resultando em milhares de mortes e traumas extensos. Tendo terminado apenas em 2021, a investida contra o Afeganistão marcou o início da “Guerra contra o Terrorismo”, assim intitulada pelo governo Bush, que foi palco central para diversas obras audiovisuais, e é neste cenário que se passa o novo filme de Guy Ritchie, O Pacto.
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Não é novidade que os Estados Unidos gostam de fazer filmes-propaganda sobre suas guerras – seus atos heroicos e benevolentes. Mas em O Pacto, estrelado por Jake Gyllenhaal e Dar Salim, as coisas são apresentadas com uma perspectiva um pouco diferente, mesmo que de forma sutil e moderada.
No filme, acompanhamos a trajetória do sargento John Kinley (Gyllenhaal), que recebe em sua tropa o novo intérprete afegão, Ahmed (Salim). Durante um conflito, o sargento é ferido e carregado ao longo de muitos quilômetros por Ahmed, que cuidou de seus ferimentos e o escondeu das tropas inimigas.
Porém, um tempo depois, quando Kinley já está de volta aos Estados Unidos, descobre que seu salvador ainda não recebeu seu visto estadunidense, como prometido, e está foragido no Afeganistão, sendo um dos mais procurados pelas tropas inimigas. Após muitas tentativas falhas de superar a burocracia de seu governo, Kinley decide resgatar seu companheiro com as próprias mãos.
Soldados em foco
O principal diferencial de O Pacto é que, desta vez, o governo dos Estados Unidos não é o exaltado, e sim seus soldados. Com tamanha burocracia que impede Ahmed de ter o visto que lhe foi prometido – mesmo após ter salvado a vida de um condecorado sargento norte-americano –, o filme sabe como fazer uma sólida crítica ao seu governo, que não tratou seus veteranos e aliados com a dignidade que mereciam, se preocupando mais com papelada do que com as vidas impactadas pela guerra.
Outra possível crítica que pode ser tirada do longa-metragem está em seu encerramento. Antes dos créditos, deixa claro que, mesmo após vinte anos de atuação dos Estados Unidos para acabar com o governo terrorista, o grupo voltou a controlar o país pouco tempo depois do fim da guerra. Desta forma, o filme deixa a entender que mais de 150 mil vidas foram perdidas ao longo de vinte anos, possivelmente em vão.
Tal crítica é, entretanto, bastante rápida e toma conta apenas de uma leve parcela do filme de duas horas. Mesmo estando tão clara nas sequências em que o sargento Kinley passa dias e dias no telefone com funcionários do governo tentando resolver o problema, parece que Guy Ritchie teve medo de fortalecer e consolidar esta mensagem crítica ao longo de sua obra, que ficou evidente, mas contida.
Boas atuações
As atuações de O Pacto também são boas o bastante para tornar o filme assistível e a experiência minimamente satisfatória. Além de Gyllenhaal – que, ainda que razoável, não apresenta seu melhor trabalho – e Salim, uma atuação que chama a atenção é a de Anthony Starr (o popular Capitão Pátria, de The Boys). Ainda que tenha aparecido pouco, os fãs podem gostar de ver o ator em um papel um tanto quanto diferente daquele que o levou ao estrelato.
Porém, mesmo apresentando uma crítica pertinente – mas mais comedida do que deveria ser – e um bom elenco, o filme não apresenta nada que o faça se destacar dentre tantas obras de guerra. É mais um longa-metragem de guerra previsível, que apresenta mais um herói norte-americano de grande coração contra mais um grupo de terroristas.
Desta forma, O Pacto se consagra como apenas mais um filme de guerra com um potencial desperdiçado. Pouco memorável, o novo filme de Guy Ritchie certamente é apenas mais uma daquelas obras que será esquecida pouco tempo após seu lançamento.
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Trailer do filme O Pacto (2023)
Ficha Técnica do filme O Pacto (2023)
Título original: The Covenant
Diretor: Guy Ritchie
Roteiro: Guy Ritchie, Ivan Atkinson, Marn Davies
Elenco: Jake Gyllenhaal, Dar Salim, Sean Sagar, Jason Wong, Rhys Yates, Christian Ochoa Lavernia, Bobby Schofield, Emily Beecham
Onde assistir: Prime Video
Data de estreia: 21 de abril de 2023
Duração: 123 minutos
País: Reino Unido, Espanha, Estados Unidos da América
Gênero: Ação, Suspense, Guerra
Ano: 2023
Classificação: 16 anos