O Sequestro do Papa expõe caso real de abusos religiosos cometidos pelo Vaticano
Izabella Nicolau
Quando Edgardo Mortara, um menino judeu de seis anos, é retirado à força de sua família pelo Vaticano no século XIX, injustiças religiosas cometidas pela Igreja Católica se tornam públicas, culminando em um movimento político importante. Essa é a premissa de O Sequestro do Papa, baseado no infame “caso Mortara”, ocorrido em 1858.
Excelente tecnicamente
O filme, dirigido pelo renomado cineasta italiano Marco Bellocchio, conhecido por obras como De Punhos Cerrados e Bom Dia, Noite, mergulha profundamente na complexidade dessa história real. Bellocchio guia com sabedoria a narrativa que explora as camadas do sofrimento de uma família despedaçada enquanto expõe a autoridade institucional da Igreja, denunciando os abusos de poder do Vaticano.
A trama começa com a ordem de retirar Edgardo de sua casa, baseando-se em um batismo secreto realizado por uma empregada quando ele estava gravemente doente. A lei, naquela época, proibia que não-católicos criassem crianças batizadas, dando à Igreja o pretexto legal para o sequestro.
São nesses momentos marcantes, que trazem à tona sentimentos de raiva e indignação, que Bellocchio conduz com uma sensibilidade latente o espectador por meio de cenas carregadas de tensão emocional, envolvidas pela trilha sonora intensa de Fábio Capogrosso.
No entanto, nada disso seria possível sem as atuações potentes de Barbara Ronchi e Fausto Russo Alesi como os pais de Edgardo, que retratam com profundidade a dor e o desespero causados pela impotência diante de uma situação trágica. Enea Sala e Leonardo Maltese, que interpretam Edgardo em diferentes fases da vida, também se destacam, junto a Paolo Pierobon, interpretando o tirânico Papa Pio IX.
Visualmente, o filme impressiona com a cinematografia de Francesco di Giacomo, que captura a dualidade entre sofrimento e poder de forma crítica. A representação de Roma e dos cenários religiosos enfatiza a opressão da Igreja e a luta interna de Edgardo. No entanto, a tentativa de Bellocchio de misturar realismo com elementos místicos pode parecer exagerada para alguns, afetando a coesão da narrativa.
Críticas e reflexões importantes
O filme é uma crítica importante às injustiças religiosas, expondo como a Igreja Católica utilizou seu poder para impor suas vontades sobre os mais vulneráveis. A narrativa, apesar de um pouco dispersa e arrastada em certos momentos, mantém o espectador envolvido emocionalmente com a história da família Mortara, enquanto desperta uma reflexão sobre os abusos religiosos cometidos por instituições que usam de sua impunidade.
Conclusão
O Sequestro do Papa vale a pena ser assistido por sua importância histórica, pelas fortes performances e por sua narrativa potente, mas pode não agradar a todos devido ao seu ritmo e variação de tons. A obra de Bellocchio, embora consiga equilibrar a crítica social com uma história visceral, talvez deixe a desejar em termos de ritmo, mas ainda oferece uma experiência cinematográfica intensa e reflexiva.
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Onde assistir o filme O Sequestro do Papa
O filme está em cartaz nos cinemas brasileiros.
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O Sequestro do Papa – Trailer
Elenco do filme O Sequestro do Papa
Paolo Pierobon
Fausto Russo Alesi
Barbara Ronchi
Enea Sala
Leonardo Maltese
Filippo Timi
Fabrizio Gifuni
Andrea Gherpelli
Samuele Teneggi
Corrado Invernizzi
Ficha Técnica – O Sequestro do Papa
Título original: Rapito
Direção: Marco Bellocchio
Roteiro: Marco Bellocchio, Susanna Nicchiarelli, Edoardo Albinati
Data de lançamento: 18 de julho de 2024
Duração: 134 minutos
País: Itália, França , Alemanha
Gênero: Drama, História
Ano: 2023
Classificação: 14 anos