O Tigre Branco Netflix filme crítica

‘O Tigre Branco’ (Netflix): um retrato da servidão e corrupção na Índia

Jorge Feitosa

Em uma determinada cena de O Tigre Branco (The White Tiger), da Netflix, o motorista Balram (Adarsh Gourav) se pergunta: “Odiamos nossos patrões sob uma fachada de amor ou os amamos sob uma fachada de ódio?”.

A trama

Nascido no interior da Índia, Balram demonstra uma facilidade inata para ler e escrever. De fato, algo raro em uma comunidade miserável e que o faz ser comparado a outro animal também raro. Um tigre branco, que só aparece na natureza de geração em geração.

Então, vendo seus sonhos de uma vida melhor postos por terra pela avó para pagar dívidas, o jovem aprende a ouvir e aprender enquanto trabalha. Até que lhe surge a oportunidade de oferecer seus serviços a um senhor cujo filho (Rajkummar Rao), bem como a namorada (Priyanka Chopra), criados e educados nos Estados Unidos, lhe vem com ideias de igualdade.

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Não é mais um filme de Bollywood

Mas enganam-se aqueles que veem O Tigre Branco, dirigido e roteirizado por Ramin Bahrani e distribuída pela Netflix, como mais uma daquelas produções simples de Bollywood, a famosa indústria cinematográfica indiana. Com base no sucesso literário do escritor Aravind Adiga, a obra é um retrato de todo o sistema que envolve as relações de servidão e corrupção na Índia.

Usando muito bem a metáfora do galinheiro, em que os servos simplesmente assistem os senhores “devorarem” os outros até que sejam os próximos, o roteiro constrói minuciosamente a ascensão do ambicioso Balram. Este não se furta a usar trapaças para subir na vida inspirado em seus próprios mestres, financiadores de um socialismo corrupto cuja líder é claramente inspirada na primeira ministra indiana Indira Gandhi.

Assim, sem pressa para finalizar a história e muito mais preocupado na jornada do protagonista, o diretor faz um bom uso da fotografia em cores fortes para mostrar toda a miséria e a sujeira em que Balram passa a maior parte do tempo em oposição à riqueza de seus exploradores. O que o torna cada vez mais isolado e ressentido. Até que um evento trágico lhe dá a razão que esperava pra se convencer de que ele só vale para os outros até a medida em que pode ser usado.

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‘Parasita’ indiano?

Além disso, o elenco, como um todo, não faz feio. No tanto, tem como alicerce a interpretação sutil e consistente de Gourav, que mantém um sorriso no rosto por aquela conveniência tão comum aos servos que engolem a própria raiva e só encontra outra atuação à altura em Chopra, uma atriz tão bela quanto imponente em suas cenas.

O Tigre Branco, enfim, é um filme da Netflix que demora pra engatar por conta de seu ritmo propositalmente lento. Contudo, essa lentidão é importante para o entendimento da história que muito lembra o sucesso coreano Parasita. Aliás, como este, provavelmente arrebanhará alguns prêmios mundo afora.

TRAILER

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FICHA TÉCNICA DE ‘O TIGRE BRANCO’ (NETFLIX)

Título original do filme: The White Tiger
Direção: Ramin Bahrani
Roteiro: Ramin Bahrani
Elenco: Adarsh ​​Gourav, Rajkummar Rao, Priyanka Chopra
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: sex, 22/01/21
País: Índia
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Duração: 125 minutos
Classificação: 16 anos

Jorge Feitosa

@jorgefeitosalima
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