‘O Último Duelo’ não é o melhor de Ridley Scott, mas está entre seus mais valorosos trabalhos
Marcelo Bastos
Ridley Scott retorna ao gênero que o consagrou com este O Último Duelo (The Last Duel), um filme épico onde o diretor foca suas lentes na amizade entre dois cavaleiros e suas disputas na era medieval, mas isto é só um pano de fundo para uma trama que envolve, simplesmente, a busca de uma mulher pela verdade.
Baseado no livro “The Last Duel: A True Story of Trial by Combat in Medieval France”, de Eric Jager, retrata um acontecimento envolvendo três pessoas da nobreza durante a Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra, no Século XIV, o cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon), sua esposa Marguerite (Jodie Comer) e Jacques Le Gris (Adam Driver). Inicialmente parceiros, Carrouges e Le Gris aos poucos vão se distanciando, provocados pela ganância de Le Gris e o afeto que o Conde Pierre D’Alençon (Ben Affleck) tem por ele, ajudando em sua sede de poder.
Neste ambiente, Le Gris conhece Marguerite e se sente atraído por ela. No retorno de sua batalha na Escócia, Carrouges recebe da esposa a notícia de que tinha sido estuprada por Le Gris. A narrativa, então, divide o filme em três versões, de Jean, Marguerite e Jacques.
Versão de cada história
Em princípio, o cineasta prefere não fazer de sua câmera a espectadora imparcial da história, e dá ao público as vertentes de cada versão, a do marido maculado em sua honra (Carrouges), a do nobre que fez tudo por sua amizade, mas acabou vencido pelo amor à esposa do amigo (Le Gris), e a da mulher, oprimida e sem voz dentro de uma sociedade machista que, afetada por um ato covarde, tenta ver a justiça ser feita (Marguerite).
Por mais que pareça enfadonho você acompanhar o mesmo filme por três vezes, cada visão tem suas peculiaridades, e as diferenças apontadas em cada uma dão o tom que o diretor quis imprimir ao espetáculo. Como em um tribunal, o espectador é autor e réu, vítima e algoz, e define para si quem ele acredita ser o mocinho e o bandido. Mas este júri perde toda a sua força com a interpretação espetacular de Jodie Comer. Ela é o grande trunfo de Ridley Scott. Avassaladora e cheia de energia, a Marguerite de Jodie é uma mulher que parece presa em um casulo, e que a todo tempo procura por lampejos de respeito em uma sociedade patriarcal onde ela é, simplesmente, uma propriedade do marido.
Visão única
Diante dela, não há outras versões, apenas o certo e o errado. Por mais que um pensamento machista leve à infeliz ideia de que “olha só, ela também queria”, após a versão de Le Gris, propositalmente Ridley Scott atinge em cheio o espectador mostrando em seguida a versão de Marguerite, deixando em destaque apenas a palavra “verdade”, e trazendo toda a crueldade de um ato covarde como o estupro à tona. Não é não. Fim da história.
Infelizmente, é triste o paralelo com as dificuldades da mulher em nossa sociedade atual. Quem dera pudéssemos também não ter versões, apenas e tão somente o certo e o errado.
Portanto, Ridley Scott acerta novamente em O Último Duelo, um filme épico, narrativo, envolvente e com batalhas espetaculares, sendo a mais impressionante delas conduzida com maestria nos vinte minutos finais do tão aguardado último duelo.
Não é o melhor de Scott, afinal esta batalha tem oponentes fantásticos, mas figura com honra entre os seus mais valorosos trabalhos.
Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Onde assistir ao filme O Último Duelo
O drama histórico O Último Duelo chega exclusivamente às salas de cinema na próxima quinta-feira, 14 de outubro de 2021.
Trailer de O Último Duelo
O Último Duelo: elenco do filme
Ben Affleck
Jodie Comer
Adam Driver
Matt Damon
Ficha Técnica
Título original do filme: The Last Duel
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Nicole Holofcener, Ben Affleck, Matt Damon
Onde assistir ao filme ‘O Último Duelo’: Nos Cinemas
País: EUA
Duração: 152 minutos
Gênero: drama, ação
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos