os álbums mais importantes da história do rock nacional brasileiro Os Mutantes

Os álbuns mais importantes da história do rock nacional

Cadu Costa

Nesta terça-feira, 13 de julho, comemora-se o dia mundial do rock! E o Brasil também tem muita importância para o gênero, criando um estilo próprio. Por isso, para celebrar a data e enaltecer o BRock, o ULTRAVERSO fez uma lista especial. São simplesmente o que entendemos como os álbuns mais importantes da história do rock nacional. Num jeito único de fazer “esse tal de roquenrow”.

Sepultura – Roots (1996)

Abrindo a lista dos álbuns mais importantes da história do rock nacional, em 1996, o Sepultura dava um passo ousado na carreira. “Roots” é um clássico, não só do nosso rock, mas da história do metal. Ao elevar as experimentações ao máximo, gravando músicas numa tribo indígena e tocando com Carlinhos Brown, o disco é um divisor de águas na carreira da banda.
E o que era um sopro se tornou uma marca, um símbolo. Canções como “Roots Bloody Roots”, “Attitude”, “Cut-Throat”, “Ratamahatta” (com Carlinhos Brown), “Breed Apart” e “Itsári” colocam o álbum em “pé de guerra” com todos os discos produzidos no metal brasileiro e no mundo como um dos melhores. Além da capa antológica, os versos de “Roots Bloody Roots” são libertadores.
“Raízes, sangrentas raízes / Eu acredito em nosso destino / Não precisamos disfarçar / É tudo que queremos ser / Me veja enlouquecer / Eu digo estamos crescendo todo dia / Ficando fortes de todas as formas / Vou te levar para um lugar / Onde devemos achar nossas”.
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Chico Science & Nação Zumbi – Da Lama ao Caos (1994)

Os anos seguintes ao BRock dos anos 80 foram mais calmos e sem a genialidade de outros tempos. Mas de Pernambuco veio a revolução. O disco-manifesto do Manguebeat trazia uma mistura fenomenal de rock, funk, maracatu e a mente fantástica de Chico Science que fazia “tudo soar bem aos ouvidos”.
O primeiro álbum “Da Lama ao Caos” (1994) apresenta um furor crítico e social pouco visto na história do rock brasileiro. Dentro do magnífico e raro movimento Manguebeat, o compositor e mestre crítico Chico Science se tornou um símbolo icônico.

Hino

E canções como “Banditismo Por Uma Questão de Classe”, “Rios, Pontes & Overdrives”, “A Cidade”, “A Praieira”, “Samba Makossa”, “Maracatu de Tiro Certeiro” e “Risoflora” refletem uma mescla musical com maracatu, embolada, heavy metal, psicodelia e música afro.
O hino “Da Lama ao Caos” é, com toda certeza, uma das melhores músicas já feitas sobre o que significa a situação brasileira na qual a elite oprime sentencialmente o povo de forma histórica.
“Comecei a pensar / Que eu me organizando / Posso desorganizar / Da lama ao caos / Do caos a lama / Um homem roubado / Nunca se engana”.
https://youtu.be/FFCw8NQXr0A

Titãs – Cabeça Dinossauro (1986)

“Cabeça Dinossauro” é o Titãs na sua melhor forma. Protestos, críticas e muitas letras que te fazem pensar ao som de punk, funk, rock e pop. Aliás, se existe um termo que melhor simboliza o Titãs é multicultural. Sua história, seus membros e sua excessiva concentração aberta de temas elegem a banda como uma das maiores aparições musicais da música brasileira.
Em sua melhor fase, o grupo contava com oito membros: Arnaldo Antunes, Paulo Miklos e Branco Mello (vocal), Sérgio Britto (vocal e teclado), Nando Reis (vocal e baixo), Tony Belloto e Marcelo Fromer (guitarra) e Charles Gavin (bateria). Seus dois primeiros álbuns, Titãs (1984) e Televisão (1985), já trouxram hits que se tornaram clássicos como “Sonífera Ilha” (1984) e “Televisão” (1985).
Mas foi com “Cabeça Dinossauro” seu terceiro disco, que houve uma mudança drástica. As músicas com temas leves foram deixadas de lado para a entrada de um rock punk, “sujo”, com uma acidez crítica e uma estética musical mais bruta. Do repertório, canções cortantes como “AA UU”, “Igreja”, “Polícia”, “Bichos Escrotos”, “Família”, “Homem Primata” e até o pequeno manifesto concretista “O Que”, dando luz ao maior compositor da banda: Arnaldo Antunes! Ouça. Alto, bem alto.

Legião Urbana – Dois (1986)

A Legião Urbana é simplesmente a banda mais cultuada de nosso rock. E seu segundo disco intitulado apropriadamente de “Dois” é o maior sucesso comercial e artístico dos caras. Também, com hinos como “Tempo Perdido”, “Índios”, “Quase sem querer”, “Eduardo e Mônica” e “Daniel na Cova dos Leões” não seria difícil.
Se com seu primeiro álbum “Legião Urbana” (1984), havia uma crítica social fortíssima om “Dois”, a deslumbrante poética das composições de Renato Russo aparece e se torna eterna. É nesse disco que o cantor e compositor será para sempre lembrado como o poeta maior do rock brasileiro.

Erasmo Carlos – Carlos, Erasmo (1971)

Erasmo Carlos é muito conhecido por ser o eterno parceiro musical de Roberto Carlos. Mas o Tremendão é muito mais que isso. Sua carreira solo possui vários álbuns excelentes e que deveriam ser revistos por adoradores de música brasileira por apresentarem uma estética mais visceral e cotidiana: “A Pescaria” (1965) e “Sonhos e Memórias” (1972) são exemplos.
Mas seu maior trabalho é “Carlos, Erasmo” (1971). Desenvolvendo samba-rock, rock psicodélico, soul e até riffs que lembram heavy metal, canções como “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, “Agora Ninguém Chora Mais” (Jorge Ben Jor) e “Maria Joana” fazem deste álbum uma coletânea musical que apresenta a estética de Erasmo Carlos. Um verdadeiro clássico!

Rita Lee & Tutti Frutti – Fruto Proibido (1975)

Rita Lee é a cantora número 1 do rock brasileiro. Existem muitas cantoras na história da nossa música, mas nenhuma chegou no nível desta paulistana que fez parte d’Os Mutantes e, depois, apresentou uma das maiores carreiras solos do Brasil.
Muitas cantoras podem ser apreciadas como Baby Consuelo, Marina Lima, Virginie Boutaud, Paula Toller, Fernanda Abreu, Fernanda Takai e Pitty, mas nenhuma pode ser elencada como a rainha do rock no Brasil. Sequer existiriam sem Rita Lee. Até mesmo Celly Campello, precursora do rock ainda na década de 1950, não possui a força de Rita Lee. Explodindo um vocal impressionante com Os Mutantes, Rita, quando foi para a carreira solo, pôde expandir ainda mais seu estilo e suas composições.
Mas, certamente, o disco que coloca Rita entre na nossa lista dos álbuns mais importantes da história do rock nacional é “Fruto Proibido” (1975), gravado mesmo antes de sua brilhante parceria com seu marido e muso Roberto de Carvalho. Canções como “Dançar Pra Não Dançar”, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow” e o hino “Ovelha Negra” são mostras desse mundo crítico e inteligente de Rita Lee. E nada melhor do que ter uma espetacular banda coadjuvante regrando as sessões rítmicas como era a Tutti-Frutti. Clássico absoluto da década de 70!

Krig-Ha, Bandolo! (1973) – Raul Seixas

Raul Santos Seixas, conhecido como Raul Seixas, nasceu no dia 28 de junho de 1945 em Salvador, Bahia. Morreu do dia 21 de agosto de 1989 em São Paulo, São Paulo. Dentre esses 44 anos de vida, 21 anos foram dedicados à música e ao rock brasileiro. Desde seu primeiro álbum, Raulzito e Os Panteras (1968), até seu último ato musical ao lado de Marcelo Nova, A Panela do Diabo (1989), Raul foi o maior cantor popular de rock do Brasil. Sua simplicidade e objetividade de colocar canções de rock como reflexões da vida do singelo brasileiro é uma brilhante e angustiante estética musical.
Amado por muitos que, talvez, nem se dão conta do que ele realmente representa na música brasileira, há em Raul Seixas um cosmo social/cultural único. Nem Renato Russo, nem Roberto Carlos e muito menos Rita Lee conseguem chegar perto da dimensão do amor e da paixão que Raul proporcionou e ainda proporciona ao brasileiro.

Melhor fase

E sua grande fase é, com certeza, a década de 1970. Álbuns como “Gita” (1974), “Novo Aeon” (1975) e “Há 10 Mil Anos Atrás” (1976) apresentaram canções tão fortes que eram intelectuais e populares ao mesmo tempo, o que deu à Raul uma expansão radiofônica incrível.
Mas foi com o álbum “Krig-Ha, Bandolo!” (1973) que Raul exibiu sua melhor capacidade. Onze canções, dez são clássicas: “Mosca na Sopa”, “Metamorfose Ambulante”, “Dentadura Postiça”, “As Minas do Rei Salomão”, “A Hora do Trem Passar”, “Al Capone”, “How Could I Know”, “Rockixe”, “Cachoro Urubu” e “Ouro de Tolo”. Esta última, dá para dizer que é o grande soco na cara da sociedade classe média produzida pelo “milagre econômico” militar. Tão ácida em sua época, “Ouro de Tolo” permanece como Raul para todos nós: uma reflexão musical! Por isso, o grito de ‘Toca Rauuuuul’ sempre será eterno.

Secos & Molhados – Secos & Molhados (1973)

O que dizer de Secos & Molhados além de ser “a banda de Ney Matogrosso”? Bom, Ney Matogrosso é um dos maiores cantores da música brasileira. Sua participação nos Secos & Molhados é imortal e sua carreira solo possui tanta diversificação e inteligência musical que beira o absurdo.
Mas em seu primeiro momento musical, os Secos & Molhados foram o auge do seu tempo. Isso porque seu disco de estreia vendeu mais de 300 mil cópias em apenas dois meses, atingindo um milhão de cópias em pouco tempo e se tornaram um dos maiores fenômenos da música popular brasileira. O disco era formado por treze canções que ao ver da crítica, parecem atuais até os dias de hoje. As canções mais executadas foram “Sangue Latino”, “O Vira”, e “Rosa de Hiroshima”.

Críticas à ditadura militar

O disco também destaca inúmeras críticas à ditadura militar que estava implantada no Brasil, em canções como o blues alternativo “Primavera nos Dentes” e o rock progressivo “Assim Assado” – esta de forma mais explícita em versos que personificam uma disputa entre socialismo e capitalismo. Até mesmo a capa do disco foi eleita pela Folha de S.Paulo como a melhor de todos os tempos de discos brasileiros.
Contudo, o Secos & Molhados é ainda maior do que se pensa. A formação era Ney Matogrosso (vocal), João Ricardo (violão e vocal) e Gérson Conrad (violão e vocal). E neste primeiro álbum, Secos & Molhados (1973), a participação de Marcelo Frias (bateria) e Zé Rodrix (piano) também dizem muito. Numa estética folk, tendo o folclore brasileiro e a MPB como pano de fundo, no underground do rock brasileiro da década de 1970, este é um dos poucos álbuns que conseguem superar uma década abafada por um sistema político mórbido e transpõe músicas acima de qualquer censura para as massas.

2 – Roberto Carlos Em Ritmo de Aventura (1967)

Antes de virar o repetitivo rei dos especiais de fim de ano, Roberto Carlos era um artista inquieto e uma das principais facetas do nosso rock sessentista, a Jovem Guarda. “Em Ritmo de Aventura” foi um filme, seguindo a tendência mundial da época e ali tinha a essência do que seria o nosso som.
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Os Mutantes – Os Mutantes (1968)

Por fim, entre os álbuns mais importantes da história do rock nacional, esse é unânime. De 10 em 10 listas como essa, o disco “Os Mutantes”, de 1968, vai aparecer como primeiro em 11. Aliás, não é pra menos. Afinal, Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias formaram uma das bandas mais originais da história da música que pirou a cabeça de gente como Kurt Cobain, do Nirvana. E esse nem é o melhor disco da banda, mas é atemporal. Os Mutantes são uma banda para ouvir toda a discografia com atenção.
São, de fato, a primeira grande banda da história do rock brasileiro. O grupo que deu luz a maior cantora do rock brasileiro: Rita Lee. Que teve a genialidade plena do maior músico do nosso rock: Arnaldo Baptista. Sim! Os Mutantes foram até muito mais do que isso.
Mesclando psicodelismo, MPB, rock progressivo, letras ácidas com críticas ao conservadorismo brasileiro (principalmente contra a família brasileira), riffs de guitarras surpreendentes, harmonias alucinógenas e todo um aparato técnico, comandado por Baptista, não é surpresa de se observar que poucas bandas são tão incomuns pelo Brasil como Os Mutantes. São ainda mais atuais e necessários nos tempos atuais.
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https://www.youtube.com/watch?v=femm4wYBE-s&ab_channel=Rog%C3%A9rioKISS

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN