Os Anéis de Poder: principais diferenças entre a série e os livros

Pedro Marco

Com a conclusão da primeira temporada de anéis do poder, pudemos ter uma visão macro da proposta apresentada pela Amazon Prime Vídeo em adaptar parte dos escritos de J. R. R. Tolkien. Apesar de serem restritos aos apêndices de O Senhor dos Anéis, diversos acenos são dados à situações desenvolvidas nos livros Silmarilion, Contos Inacabados e nos 12 volumes de História da Terra-Média.

Como é de costume necessário em todas as adaptações, certas mudanças foram feitas. E eis algumas delas.

Novos Personagens

Desde os primeiros vislumbres da série, nos deparamos com a introdução de personagens inéditos e criados exclusivamente para esta produção. O elfo Arondir, os pés-peludos Sadoc, Nori e Papoula, os humanos Theo e Bronwyn e o elfo orc Adar, são apenas alguns dos exemplos. Para os fãs mais xiitas, tal decisão pareceu controversa, visto que diversos nomes que aparecem no material original foram omitidos. Mas narrativamente, é inegável que funcionaram muito bem.

No caso dos pés peludos, assumimos o papel do editor de Tolkien em sua época com o discurso de “quero mais hobbits”. Os nossos queridos pequeninos que evitam aventuras não existiam ainda na Segunda Era, mas mesmo assim, sua linhagem antecessora (vinda de três raças diferentes) acabou sendo representada pelos “harfoots”. Ao fim, ainda conseguiu haver uma grande rima narrativa com o início da relação entre os Istari (ainda mais se O Estranho for de fato Gandalf) e os pequeninos.

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Aparências

Uma das grandes polêmicas da série veio por conta das aparências, indo desde comentários racistas sobre “não poder existir” um elfo negro, ou mesmo a falta de uma barba no rosto da anã Disa. A questão é que a coloração de pele dos elfos foi sim bastante exposta por Tolkien, apesar de não os defini-los literalmente por negros/pretos. No entanto, um tom mais escuro para as raças da floresta é constantemente levantado em suas anotações. Mas a falta de uma barba na Disa de fato foi um vacilo.

Omissões

O contrato de adaptar apenas os apêndices, e a grande extensão da história acabaram causando diversas omissões de acontecimentos. Guerreiros e personagens cujos feitos influenciaram diretamente a segunda era foram apagados, e detalhes cruciais sobre a destruição das árvores, a guerra da ira e a partida para Valinor foram excluídas da introdução narrada por Galadriel. Em contraponto, fatos que são contados de forma mais breve nos livros ganham uma trama nova e complexa, como a criação de Mordor nas terras do Sul. Um dos pontos altos de narrativa da série.

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O Estranho e Halbrand

A grande dúvida sobre quem seria o estranho que caiu do céu, e se estávamos ou não já acompanhando a jornada de poder de Sauron, foi um dos fios narrativos principais da temporada, que acabou conseguindo manter atento e em dúvida mesmo os leitores mais vorazes. Ao final, conhecemos Sauron como sendo o humano Halbrand que estava ao lado de Galadriel, em uma liberdade de roteiro bastante significativa sobre sua origem.

Como relatado por Tolkien, Sauron chegou primeiro em Lindon, onde acabou sendo enxotado por Gil-Galad, e buscou refúgio em Eregion como o Senhor dos Presentes. Lá, sofreu uma grande desconfiança de Galadriel sobre suas intenções, mas foi abraçado por Gil-Galad que usou de sua influência para forjar os anéis. Aparentemente é bem similar, apesar de a série trazer uma desconfiança meio repentina de Galadriel, omitir o nome Annatar para não revelar a trama aos leitores e alterar a aparência de seu disfarce, que era descrito como algo mais próximo aos Noldor, e não aos homens sulistas.

Já no caso do Estranho, sua revelação como mago já era esperada, mas resta revelar o mistério de qual deles. Há possibilidades que estajamos vendo Radagaste, Saruman, ou mesmo um dos magos azuis (que de fato foram os únicos a chegar na Terra-Média durante a segunda era). No entanto, a roupa, parte do visual e algumas falas, como a de sempre seguir o seu nariz, indica que possamos estar acompanhando Mithrandir, ou, na língua comum, Gandalf. Tal revelação seria um problema de tempo, visto que Gandalf é certo de ter vindo para a Terra Média somente na terceira era, após a queda de Sauron. Mas esperaremos para ver.

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Elfos, humanos e anãos

Um dos grandes temas do legendário de Tolkien é a relação entre as raças, e obviamente isto é um prato cheio para um bom roteiro narrativo. No entanto, é um local perigoso para quem queira seguir fiel à mitologia. No caso das relações entre os elfos de Lindon e os anãos de Erebor, é inegável que existia uma política de boa vizinhança, mas a criação de uma amizade ao nível quase familiar entre Elrond e Dúrin acaba sendo bastante contraditória. Caso tivesse existido mesmo tal relação, Elrond não teria a posição que teve durante a jornada de Bilbo com os anãos (O Hobbit) e talvez tivesse buscado a ajuda da raça durante a guerra do anel na terceira era. Além disso, criar essa relação na segunda era, enfraquece a amizade de Gimli e Legolas como sendo algo único e inédito.

Já entre elfos e humanos, o caso é mais embaixo. Tolkien é enfático em abordar que apenas três romances entre estas raças ocorreram, sendo o primeiro deles Beren e Luthien, depois Tuor e Idril, e por fim Aragorn e Arwen. A inserção do romance entre Arondir e Browyn quebra esta linhagem canônica.

Os anéis

Como bem diz o título, a série é sobre a criação dos anéis do poder instigados por Sauron, e nisso mora algumas incongruências. Entre elas, o fato dos três anéis serem feitos com Mithrill, fato que originalmente é dado apenas a Nenya, o anel de Galadriel. Inclusive, vale ressaltar que o mito de origem deste mineral, e o fato dele ser a salvação dos elfos, são totalmente originais da série.

Voltando aos anéis, talvez o maior problema esteja na ordem, visto que os anéis élficos são feitos somente após os 9 anéis dados aos reis humanos, e os 7 anéis dados aos anãos.

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Galadriel

Por não ter tanto material escrito sobre seu passado, a história da elfa é quase uma página em branco a ser preenchida. Existe relatos da personagem em ao menos uma batalha como uma guerreira, porém o fato ocorreu após ela ganhar seu anel de poder. Aqui tivemos seu histórico de guerreira bastante estendida, em uma personalidade contraposta à senhora de Lórien que vemos em Senhor dos Anéis. Mas, até então, funcionando como uma boa origem.

O caso mais espinhoso fica a cargo de Celeborn, seu marido que é dado por morto por ela durante a série. Durante a criação dos anéis do poder Celeborn está presente ao lado de Galadriel, e pronto para viajar com ela para fora de Eregion. A falta do romance entre os dois é problemático, pois sua filha Celebrían acaba se casando com Elrond para dar à luz a Arwen.

A Linha do Tempo

Por fim, devemos falar sobre a cronologia dos eventos que teve de ser bastante comprimida por conta do núcleo humano da série. Caso fosse fiel aos escritos e à imortalidade dos elfos, o elenco de Númenor teria de ser trocado constantemente. Mas, caso tenha curiosidade, aqui estão os anos em que alguns eventos da temporada (ou anunciados como eventos que irão ocorrer na série) se passam.

  • Ano 500 – Sauron volta pra terra média
  • Ano 1000 – Sauron começa a construção em Barad-dur
  • Ano 1.200 – Sauron chega a Lindon e é expulso por Gil-Galad
  • Ano 1.350 – Galadriel e Celeborn saem de Eregion e vão para Lothlórien
  • Ano 1.500 – Anéis do poder são forjados e Annatar sai de Eregion
  • Ano 1.600 – O Um anel é forjado
  • Ano 3.319 – Queda de Numenor
  • Ano 3.441 – Última Aliança entre elfos e homens

Como visto, Galadriel não estava mais em Eregion durante a forja dos anéis, Sauron surgiu mil anos antes na Terra Média, e teremos um salto de quase dois mil anos até o final, onde Isildur e seu pai Elendil participam da última aliança. Os numenorianos vivem muito, mas vamos com calma.

Aliás, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:

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Pedro Marco

Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito
NAN