Os Jovens Baumann

‘Os Jovens Baumann’ | CRÍTICA

Karinna Adad

Observando o trailer de Os Jovens Baumann, percebemos a confluência de uma atmosfera de suspense e de uma temática que trata do desaparecimento inexplicável de um grupo de jovens. Tais elementos tendem a cativar e intrigar em especial o público mais novo. No entanto, no caso desse filme, a ida ao cinema pode acabar sendo frustrada.

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Nada de cenas óbvias de susto e medo forçado

Não que a obra não envolva os tais elementos citados. Contudo, o que ocorre de diferente é a forma como eles são explorados. Ao contrário do que se poderia esperar de um filme de suspense com temática mais juvenil, Os Jovens Baumann não desenvolve e entrega uma tensão explícita, marcada por cenas óbvias de susto ou por uma narrativa que tente amedrontar.

Primor estético

Na verdade, o suspense vem mais pelo primor estético empregado. Contrapondo cenas no formato VHS, criadas durante um período de férias dos primos Baumann no sítio da família, a cenas atuais do mesmo lugar, tendo ao fundo a narração da principal – e única – interessada em encontrar respostas para o desaparecimento dos jovens, o filme constrói uma aura de mistério a partir do passado caracterizado pela presença e do presente marcado pela ausência. Nesse sentido, é interessante notar como a presença dos jovens é sempre permeada pelo movimento: seja quando tomam banho no lago ou apostam corrida no cafezal ou até quando conversam ou observam a paisagem. Por outro lado, após o desaparecimento, apenas o que se observa são os vazios e a estabilidade de uma paisagem que parece ter parado no tempo.

Os Jovens Baumann (3)

Naturalidade das interpretações

Outro componente estético que contribui para a atmosfera de mistério, bem como gera uma certa sensação de intranquilidade, é a presença de cenas rebobinadas que mostram os jovens dançando ou correndo de trás para a frente. Esse tipo de efeito é uma das acertadas escolhas feita pela diretora, Bruna Carvalho Almeida, na medida em que consegue criar suspense lançando mão de um recurso barato, incomum e que causa incômodo. Contribuindo para o quesito economia cinematográfica, mas que geram resultados proveitosos, está a interpretação, que muitas vezes parece não seguir roteiro. Assim, a naturalidade que acompanha as falas, os diálogos e os gestos dos atores é eficiente em construir e aguçar uma percepção de realidade que diversas vezes nos leva a esquecer que se trata de uma obra ficcional e que esses jovens de fato não existiram.

Diferente de outros filmes do gênero que se comprometem a entregar ao espectador um desfecho que explique toda a trama, isso não ocorre em Os Jovens Baumann. O compromisso do filme é outro. Os momentos entre os primos não é marcado por nenhum grande drama pessoal ou família. Pelo contrário. Presenciamos cenas em sua maioria alegres. Não há discórdia entre os oito jovens e a convivência parece harmoniosa, tornando o espectador ainda mais intrigado e tentado a questionar: por que então esses jovens desaparecem?

Sem respostas

Enfim, apesar da premissa do filme ser em torno do desaparecimento dos Baumann e da busca por respostas, Bruna Carvalho Almeida não parece comprometida com o esclarecimento do mistério. O que importa não são as respostas, ainda mais quando não apenas a família, mas também a polícia, se mostram satisfeitas com a falta delas. Relevante para a narradora – e assim parece ser para o espectador – é se contentar com o fato de que, às vezes, não se acham conclusões.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Os Jovens Baumann
Direção: Bruna Carvalho Almeida
Elenco: Isabela Mariotto, Julia Burnier, Julia Moretti
Distribuição: Vitrine Filmes – Sessão Vitrine
Data de estreia: qui, 19/09/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 70 minutos
Classificação: 12 anos

Karinna Adad

Tranquila, mas multitarefada. Sou daquele tipo de pessoa que sempre está fazendo alguma coisa e descobrindo outras tantas pelo caminho. Topo qualquer parada desde que tenha prazer nela e uma das que por mais tempo vem me enchendo de alegria é a escrita. E como boa leitora consigo escrever sobre quase qualquer coisa, por mais que, como uma cientista social em formação, não consiga deixar de fazer agir meu raio problematizador nos meus textos.
NAN