‘Os Muitos Santos de Newark’ é um filme de máfia comum

Fábio

Quando se falou em uma prequela de A Família Soprano (The Sopranos, 1999-2007), ligou-se o sinal de alerta. Afinal de contas, não é fácil mexer em uma obra conceituada. Ainda mais aquela que é considerada a melhor série de TV de todos os tempos e que mudou para sempre (e para melhor) a história da TV norte-americana.

O clima amenizou quando David Chase anunciou que estaria a frente do projeto e que cuidaria do roteiro. Algo que certamente trouxe alívio aos fãs da série. Afinal de contas, se alguém for mexer em uma obra-prima, que seja o realizador dela. No entanto, o resultado ficou muito aquém do esperado e ‘Os Muitos Santos de Newark’ (The Many Saints of Newark, 2021) – em cartaz na HBO Max – é apenas um filme comum sobre a máfia.

Ao contrário de A Família Soprano, que tem personagens icônicos com diversas camadas complicadas de suas personalidades, em Os Muitos Santos de Newark essa preocupação é praticamente toda deixada de lado. Talvez isso ocorra por ser apenas um filme ao invés de uma série, onde o tempo é crucial. Mas, mesmo assim, Chase erra ao escolher um foco que não seria aquele que os fãs gostariam de assistir.

Os Muitos Santos de Newark

Sinopse

Em suma, Os Muitos Santos de Newark se passa durante os conflitos raciais ocorridos em Newark (Nova Jersei, Estados Unidos) na virada dos anos 1960 para os 1970. Neste período, acompanhamos a ascensão de Dickie Moltisanti (Alessandro Nivola) e sua relação com a família Soprano, especialmente o sobrinho Tony Soprano (Michael Gandolfini). O jovem, praticamente ignorado pelo pai Johnny (Jon Bernthal), pela mãe Livia (Vera Farmiga) e pelo tio Junior (Corey Stoll), encontra em Dickie a figura paterna que vai moldar a sua personalidade que vemos na série estrelada por James Gandolfini.

Esta é, a saber, a grande falha de Os Muitos Santos de Newark. Ao escolher uma figura que aparece pouco em A Família Soprano, ela perde uma grande oportunidade em se aprofundar nas questões que fizeram com que Tony se tornasse aquela criatura monstruosa que conhecemos. Se justamente o foco da série é associar a depressão do chefe da Família de Nova Jersei com os traumas de infância devido, principalmente, a relação complicada com a mãe e o tio, por que não focar o filme justamente nesse ponto? Lívia e Júnior são dois personagens fundamentais que, infelizmente, aqui foram tratados como meros coadjuvantes.

Os Muitos Santos de Newark

Fan service

E não pense que apenas os filmes de heróis se aproveitam dessa muleta criativa chamada fan service. Em Os Muitos Santos de Newark, diversos personagens de A Família Soprano aparecem lá só para satisfazer o ego dos fãs. Sim, estão lá Paulie Walnuts, Silvio Dante, Salvatore “Big Pussy” Bonpensiero, Janice Soprano, Carmela Soprano e Artie Bucco. No entanto, eles aparecem somente para participações especiais que não acrescentam nada a história.

Por fim, importante ressaltar que Os Muitos Santos de Newark não é um filme ruim. Porém, pelo material que o diretor tinha em mãos e a “consultoria” de Chase a disposição, ele acaba se tornando uma grande decepção.

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Ficha técnica – Os Muitos Santos de Newark

Título original: The Many Saints of Newark
Direção: lan Taylor
Roteiro: David Chase, Lawrence Konner
Elenco: Alessandro Nivola, Leslie Odom Jr., Jon Bernthal, Vera Farmiga, Corey Stoll, Ray Liotta, Michela De Rossi, Michael Gandolfini
País: Estados Unidos
Onde assistir: HBO Max
Data de estreia: sex, 05/11/2021
Duração: 120 minutos
Gênero: drama
Ano de produção: 2021
Classificação: 16 anos

Fábio

Santista de Nascimento, flamenguista de coração, paulistano por opção. Jornalista, assessor de imprensa viciado em cinema, série, HQ, música, games e cultura em geral.
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