Paralamas tocam ‘Clássicos’ em show apoteótico no Circo Voador
Fabricio Teixeira
O mundo ainda não sabia das consequências da Covid-19 quando Os Paralamas do Sucesso haviam anunciado a turnê “Clássicos”, com shows a partir de março de 2020 no Circo Voador. De lá pra cá, amargamos quase dois anos de quarentena, um triste número de mortos e o tão temido “novo normal”, com muitas lives e poucos shows presenciais.
Mas depois desse tenebroso inverno – que a bem da verdade, ainda não acabou -, o trio subiu ao palco da tradicional casa de eventos para, enfim, dar início a tão aguardada turnê. E o ULTRAVERSO esteve lá no sábado, dia 27 de novembro para acompanhar de perto.
De clássicos ao lado B
Como o próprio nome sugere, o show “Clássicos” reúne basicamente os grandes clássicos dos Paralamas do Sucesso, desde sua formação em 1983, até o últimos lançamentos, como “Sinais do Sim”, do disco homônimo lançado no – já não tão próximo assim – ano de 2017. “Óculos”, bem como “Alagados”, “Meu Erro”, “Selvagem”, “Ska”, “O Beco”, “Uma Brasileira”, “Aonde Quer Que eu Vá”, “Tendo a Lua”, “Lanterna dos Afogados”; assim como uma lista quase infindável de hits que poderiam, por si só, encher essa resenha. Ainda sobrou espaço para as versões de “Você”, de Tim Maia; “Manguetown”, de Chico Science & Nação Zumbi; e outros lados B da banda, como “Pólvora” e “Dos Margaritas”, por exemplo.
Para trazer essa viagem catártica ao Circo Voador, Herbert, Bi e Barone contaram com a sempre luxuosa ajuda do tecladista João Fera, o “Quarto Paralama”. O músico está com a banda desde 1987 e é responsável por todos os teclados e sintetizadores, tão representativos no ska feito pela banda. Além dele, o saxofonista Monteiro Jr (que os acompanha desde 1989); bem como o trombonista Bidu Cordeiro (desde 1997) fazem a metaleira e completam o time que manteve a casa de shows em ebulição por quase duas horas.
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Envelhecendo bem
Uma das coisas que mais chamam atenção para os Paralamas é como uma banda de rock dos anos 1980 soube envelhecer bem. E não estamos falando de se reinventar, mas de realmente envelhecer. Herbert, Bi e Barone viram os anos se passarem e souberam manter o ritmo que impuseram já em Cinema Mudo (1983), o primeiro álbum do grupo.
De lá pra cá, o amadurecimento artístico da banda acompanhou o enorme talento que os três têm em seus respectivos instrumentos. O resultado disso é a fidelização; tanto de seus contemporâneos, quanto de um público mais jovem, que vem descobrindo e se apaixonando pela banda.
Felizes, motivados e humildes
No palco, o segredo da longevidade. Afinal, Herbert, Bi e Barone ainda são aqueles três amigos que montaram uma banda em Seropédica e se encontram para fazer um som e se divertir. É claro que eles não são mais aqueles garotos, mas a alegria de estar no palco continua a mesma.
Tanto que Bi Ribeiro, talvez o mais caladão da banda, não conseguia disfarçar o sorriso e a satisfação de estar ali, ovacionado pelo público carioca enquanto repetia aquelas linhas de baixo tão imponentes da banda. João, do alto de seus 59 anos, por outro lado, ainda ataca a bateria como se aquele fosse seu primeiro show, mesmo que o setlist pareça ser pensado para alternar músicas mais agitadas com mais brandas para o baterista.
E, por fim, é claro que Herbert Vianna é um episódio à parte do show. Alvo de milhares de câmeras de celulares do começo ao fim, o líder da banda parecia estar super à vontade e deu o seu melhor no show. Dos solos de guitarra sempre certeiros, até a voz, que por N razões físicas não é mais a mesma de 20 anos atrás, tudo que o vocalista faz demonstra zelo e vocação com sua arte e com seus fãs. Por muitas vezes, o “paralama” evocava uma humildade ao dizer “essa aqui a gente compôs há uns anos atrás, vamos ver se vocês lembram”, antes de cantar algum sucesso da banda.
Protestos antes do bis
No primeiro bis da noite, Os Paralamas do Sucesso voltaram ao palco do Circo Voador para finalizar o show “Clássicos”. Pois a banda ainda encontrou um público eufórico entoando um dos mantras da cultura nos últimos dois anos. Ao ouvir os gritos de “Ei, Bolsonar*, vai tomar no c*”, Herbert não se omitiu e repetiu no microfone junto com os fãs.
“Nós estamos com vocês nessa, galera!”, disse o artista, para delírio do público, que ainda ouviu uma sequência com “Ela Disse Adeus”, “Caleidoscópio” e “Meu Erro”. O segundo bis contou com as já citadas anteriormente, “Pólvora”, “Dos Margaritas” e “Manguetown”.
Depois de aproximadamente duas horas de show, os seis se despediram de um Circo Voador ainda em êxtase. Herbert, Bi e Barone (assim como João, Bidu e Monteiro) entregaram um show apoteótico, digno dos quase 40 anos de carreira de uma das (senão a) banda de rock mais sólida do país. Se não podemos dizer que a espera valeu a pena – já que a pena foi/é pesada demais -, podemos afirmar que Os Paralamas do Sucesso entregaram o seu melhor no show “Clássicos” e fizeram com que todos ali naquela noite saíssem com o coração um pouco mais leve.
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