O que o Oscar pode aprender sobre representatividade em 2022?
Fernanda Fernandes
Na noite do último domingo (27/03), a cerimônia do Oscar deste ano trouxe surpresas ao premiar de forma justa os filmes indicados em cada categoria. No entanto, o tema da semana foi o tapa que Will Smith deu em Chris Rock durante a premiação. Portanto, gostaria de utilizar esse espaço para trazer a devida visibilidade aos indicados que levaram o prêmio.
Mas existe um porém. Embora a Academia tenha premiado esses filmes, a reação dela de punitivismo exacerbado com Will Smith mostra a necessidade de aprender mais ainda sobre diversidade.
Era para a edição de 2022 da cerimônia se tornar histórica por muitos motivos, mas ao responsabilizar tanto o ator – enquanto outros atores brancos, com um passado mais perturbador que o tapa dado por Will, foram premiados -, entende-se que talvez esse aumento na diversidade seja muito mais por imagem, do que por aprendizado.
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Representatividade no Oscar 2022
Seguidamente, no Oscar 2022, Billie Eilish foi a artista mais jovem a ganhar um prêmio na categoria de Melhor Canção Original e, No Time to Die é a música criada para um filme da saga 007 mais premiada.
Além disso, Troy Kotsur foi o primeiro ator surdo a ganhar um Oscar de atuação, por No Ritmo do Coração, um filme que é sobre uma jovem que é a única que escuta numa família de pessoas surdas. Ademais, Jane Campion (Ataque dos Cães) se juntou à Kathryn Bigelow (Guerra ao Terror) e Chloé Zhao (Nomadland) como a terceira mulher a ter um prêmio de Melhor Direção.
Então, outro destaque foi o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Ariana DeBose, por Amor Sublime, Amor. A atriz se tornou a primeira mulher afro-latina e abertamente queer a conquistar uma estatueta. Junto disso, Jessica Chastain ganhou o Oscar de Melhor Atriz por seu papel como Tammy Faye, uma televangelista que defendia abertamente a comunidade LGBTQIA+ na década de 70.
A vitória de No Ritmo do Coração como melhor filme do ano, e Encanto como melhor animação do ano, também trouxeram destaque a presença de pessoas com deficiência e latino-americanos para a Academia.
Além de Summer of Soul, destacando a comunidade negra, o qual foi o filme vencedor da estatueta de Melhor Documentário. Por fim, Drive My Car ganhou como Melhor Filme Internacional, representando também o cinema asiático. Ou seja, não faltou representatividade no Oscar 2022.
Tapa na cara de Will Smith
Dito isso, Will Smith levou o prêmio de Melhor Ator pelo histórico King Richard: Criando Campeãs. Portanto, a cerimônia seria um marco para o avanço da Academia, se não fosse pela reação ao que o ator fez durante o Oscar.
Não podemos compactuar com a forma que Smith reagiu à piada de Chris Rock. Também não devemos entender aquela brincadeira do comediante como correta, afinal, fazer piada com a doença de alguém ao vivo em um evento que está sendo transmitido pelo mundo inteiro não deve ser bem visto.
Contudo, tanto no discurso de vitória, quanto pelas redes sociais, Will pediu inúmeras desculpas e reconheceu seu erro. Recentemente, o ator renunciou ao seu lugar na Academia. E, mesmo assim, haverão medidas disciplinares por parte da Academia com o Will Smith.
Por outro lado, Chris Rock se manteve de forma profissional e apresentou a categoria da premiação naquela noite e já se manifestou contra a expulsão de Smith, além de ter repreendido um fã por xingar o ator durante um show de stand-up.
Então, por que continuar arrastando essa situação?
É simples. Quando uma minoria comete um erro, esta é super responsabilizada pelo que fez. Enquanto Will Smith e Chris Rock precisam se pronunciar diversas vezes dizendo que está tudo bem entre ambos, Casey Affleck – ator que admitiu culpa por acusações de assédio sexual – continua com sua estatueta de Melhor Ator (em 2017 por Manchester à Beira-Mar) na prateleira. Por que responsabilizar Will Smith e premiar um ator como Casey Affleck?
Entretanto, mesmo que a Academia esteja aprendendo a caminhar em direção ao futuro, é preciso reconhecer que está a passos lentos e será necessária muita reflexão para uma representatividade mais genuína no Oscar. Especialmente para que seja inclusivo e as pessoas sejam responsabilizadas de forma correta e justa por suas ações e seu profissionalismo.
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