Ozzy volta com reflexões, um pouco de profanação e muitos convidados especiais
Marcelo Fernandes
O Madman está de volta. Após novamente encerrar o Black Sabbath, Ozzy Osbourne lança Patient Number 9, seu 13º álbum de estúdio. O disco conta com participações especiais que somente a realeza do rock poderia agrupar: Nomes do naipe de Eric Clapton e Jeff Beck se juntam aos mais óbvios Tony Iommi e Zakk Wylde, passando por alguns figurões de gerações posteriores como Mike McCready (Pearl Jam), Chad Smith (Red Hot Chilli Peppers) e até o saudoso Taylor Hawkins do Foo Fighters.
Mesmo a banda base é luxuosa: Josh Homme (Queens of the Stone Age) nas guitarras; bem como os baixistas Robert Trujillo (Metallica, ex-Ozzy), Duff McKagan (Guns N’ Roses) e Chris Chaney (Jane’s Addiction).
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Voz e timbre inconfundíveis
Mas, mesmo com tantos temperos diferentes proporcionados por músicos conhecidos por sua personalidade, a voz e o timbre inconfundíveis do Príncipe das Trevas estão lá. Mesmo quando frequentava o topo das paradas e não apenas o nicho no qual hoje se encontra confortável aos bem vividos 73 anos, Ozzy era o esquisito, o estranho, sendo a epítome desses adjetivos dos quais os adeptos do seu estilo tanto se orgulham.
Todos os temas já usados por ele, tanto em sua carreira solo quanto no Black Sabbath, estão: a loucura de ser diferente, as cutucadas na religião, o sentimento de não-pertencimento a um mundo cada vez mais moralista. Ainda fizesse sucesso de antigamente, Ozzy causaria a fúria de carolas e membros de sociedades dos bons costumes, mas esse elemento de choque está hoje em outros gêneros que ele não atua.
Divertido e teatral
Portanto, o que esperar de um novo disco do cantor? Um rock bem-feito, formoso, endereçado para seu público fiel e alguns jovens que não se identificam com o que é feito atualmente. Na faixa-título, Ozzy conta com a colaboração do já citado Jeff Beck, que contribui com dois solos de guitarra numa longa música de sete minutos sobre loucura. A música é divertida, sentimento que transparece nas notas do guitarrista e se sobrepõe ao que de outra forma poderia ser mais macabro.
O terror, que enlouquecia pais e responsáveis nos anos 70 e 80, aparece aqui de forma teatral. Mais como algo intrínseco ao artista do que para assustar. Outro tema é a longevidade de Ozzy na ‘grungesca’ “Imortal”, com o guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready.
Muita lenha para queimar
O destaque de Zakk Wylde fica com o peso que ele coloca em “Parasite”, que contrasta com a mais sombria “Mr Darkness”. Mas o prêmio de melhor faixa vai para “One of Those Days” (Official Music Video) com a contribuição de Eric Clapton, com um refrão grudento e ofensivo para igrejas católicas e evangélicas, como o bom eterno adolescente que Ozzy é.
Da metade pra frente, Patient Number 9 perde um pouco da força, mas é difícil manter o nível das primeiras músicas com 13 faixas. O disco é bom para o público-alvo de Ozzy, ainda enorme nos dias de hoje, embora sem o mesmo impacto cultural. Se é a sua praia rock com guitarras e solos, ou se você é jovem e quer conhecer um pouco como pensa um artista mais fora da caixa que produções limpinhas tão comuns, ouça o Madman, que ainda tem alguma lenha para queimar.
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