‘Pacificado’ e as diferentes realidades de cada um
Wilson Spiler
Rodado no Morro dos Prazeres, favela da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde o diretor Paxton Winters morou por oito anos, o filme Pacificado, com roteiro escrito por Wellington Magalhães e Joseph Carter – também ex-moradores da comunidade -, estreia nesta quinta-feira, 11 de agosto, nos cinemas brasileiros.
Na trama, Tati (Cássia Nascimento) é uma menina introspectiva de 13 anos que luta para se conectar com seu estranho pai, Jaca (Bukassa Kabengele), libertado da prisão no momento turbulento das Olimpíadas do Rio de 2019. O nome do filme remete diretamente ao processo de “pacificação” pelo qual passaram as comunidades cariocas a partir de 2008, durante o mandato do – hoje preso – governador Sérgio Cabral. Enquanto a polícia “pacificadora” batalha para ocupar as favelas ao redor da cidade, Tati e Jaca precisam navegar entre as forças que ameaçam suas esperanças para o futuro.
A instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), à época, foi comemorada pelos cidadãos fluminenses, menos, claro, pela parte mais atingida: os moradores de comunidade. A política de ‘pacificação’, aos poucos, foi se mostrando frágil e, claro, fraudulenta. Ainda mais com o Rio de Janeiro – e o Brasil – entrando em uma crise profunda após as Olimpíadas e com recursos escassos para manter o programa.
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UPPs para nada
A realidade carioca sendo contada por um estrangeiro na direção é, no mínimo, curioso, ainda que ele tenha morado na comunidade por quase uma década. O que Paxton transpassa para o espectador é um mergulho profundo nas mazelas do tráfico que assola boa parte das favelas fluminenses. Isso tudo diante de UPPs, como se as unidades sequer existissem.
Aliás, o Pacificado do título é quase um fantasma que ronda o filme. Nós sabemos que o processo está ocorrendo por causa do nome do longa, mas o resultado dessa ‘pacificação’ só aparece quase no fim dele. Ou seja, apenas uma maquiagem numa estrutura já toda danificada.
Detalhes técnicos
Aliás, por falar em maquiagem, vale elogiar o recurso no filme. Confesso que demorei para reconhecer a belíssima Débora Nascimento no papel de Andréa, mãe da personagem Tati. Mas também vale destacar a bela fotografia – não à toa tão premiada pelo mundo afora -, a direção de arte e o figurino. As atuações também são um ponto positivo, deixando as situações mais críveis.
Embora tenha um desenvolvimento relativamente lento e talvez se estenda demais, ainda assim, Pacificado é um filme importante para entender que nem tudo é o que parece, e que a sua realidade pode ser bem diferente da pessoa do seu lado. Principalmente no Rio de Janeiro, onde favela e asfalto praticamente se misturam.
Onde assistir ao filme Pacificado?
A saber, Pacificado estreia nesta quinta-feira, 11 de agosto de 2022, exclusivamente nos cinemas brasileiros. Aliás, está de olho em algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
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Trailer do filme Pacificado (2019)
Pacificado (2019): elenco do filme
- Bukassa Kabengele
- Cassia Nascimento
- Débora Nascimento
- José Loreto
- Léa Garcia
Ficha Técnica do filme Pacificado (2019)
- Direção: Paxton Winters
- Roteiro: Paxton Winters, Wellington Magalhães, Joseph Carter
- Duração: 120 minutos
- País: Brasil
- Gênero: drama
- Ano: 2019
- Classificação: 16 anos