Palm Springs filme crítica Hulu

‘Palm Springs’: filme é um Feitiço do Tempo “atualizado”

Victor Lages

O dia 2 de fevereiro chegou em 1993 e transformou-se em um marco simbólico para o mundo cinematográfico. Afinal, com Feitiço do Tempo, Phil (Bill Murray) se viu preso repetindo este mesmo dia diversas e diversas vezes, conquistando uma leva de fãs nas últimas décadas.
Então veio 2020. No filme Palm Springs, Andy Samberg (Brooklyn 99) e Cristin Millioti (How I Met Your Mother) se veem presos no dia 9 de novembro repetindo este dia iguais ao personagem de Bill Murray nos anos 90. Há diferenças entre estes dois longas, bem como há imensas semelhanças, mas cabe lugar para os dois nos corações dos cinéfilos.

As versões do que vemos

Palm Springs começa com um sonho e um abrir de olhos de Nyles (personagem de Samberg). À primeira vista, é estranho vê-lo tão à vontade e, simultaneamente, desconfortável com o seu dia. Transa sem desejo com a namorada, participa de uma festa de casamento chata, bebe muito, paquera com Sarah (interpretada por Millioti com muito carisma), é atingido por uma flecha mirada por um potencial vilão da obra e entra em uma caverna anormal.
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Sim, a estranheza desse parágrafo acima reflete bem os pensamentos embaralhados que só vão se alinhando com o passar dos minutos. Nyles está em um loop temporal, vivendo este mesmo dia enfadonho repetidamente e tentando aproveitá-lo ao máximo possível.
Sua vida em contínua iteração só muda quando Sarah entra na mesma caverna e passa a ser uma companhia para os dias que são sempre os mesmos, quase como nossa sensação principalmente nos primeiros meses de quarentena. Os protagonistas (e nós, espectadores) temos rotinas enfadonhas em que tudo vale para se divertir.
Quando estão juntos, vemos eles se entretendo atrapalhando como podem a festa de casamento em que estão presos. Quando separados, vemos versões do que são capazes de alcançar por conta própria. Tudo montado no filme com uma edição caprichosa e muito bem feita, talvez o ponto mais alto do filme.

‘Palm Springs’ vale a pena?

Enfim, como dito antes, há diferenças entre Palm Springs e Feitiço do Tempo. Enquanto a montagem deste segundo é divertida e busca risadas (em especial, as infinitas vezes em que o protagonista tenta morrer), a do primeiro se importa em mostrar como os personagens guiam suas ações em paralelo. O que vai acontecendo com um enquanto o outro está longe.
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A história parece a mesma, mas também se diverge no que tange aos moralismos. A repetição de Feitiço do Tempo vem quase como uma lição para que Phil melhore enquanto ser humano e aprenda a ser mais caridoso.
Por outro lado, no filme Palm Springs, Nyles não acredita como pode ser uma versão melhor de si mesmo e vai aos limites de álcool, drogas, sexo e egoísmo para completar seus dias; Sarah guarda remorso bem fundo na sua consciência e decide que só conseguirá sair dali se pensar no que também pode ser o melhor para si mesma.
Talvez essas escolhas de roteiro tenham vindo para se distanciarem do clássico dos anos 90, bem como podem ser reflexos da sociedade contemporânea, na qual as pessoas devem voltar mais seus olhos para dentro de si do que nas suas relações com as demais.
De fato, tudo é parâmetro para interpretação e debate. No entanto, é quase consenso que Palm Springs é uma obra que pega um molde e vai além, valendo muito a pena ser assistida e até apertando o play de Feitiço do Tempo em sequência.

TRAILER DO FILME ‘PALM SPRINGS’

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FICHA TÉCNICA

Título original do filme: Palm Springs
Direção: Mike Cahill
Roteiro: Mike Cahill
Elenco: Dale Dickey, Meredith Hagner, Tongayi Chirisa, Andy Samberg, Camila Mendes, Cristin Milioti, J. K. Simmons, Jacqueline Obradors, June Squibb, Peter Gallagher, Tyler Hoechlin
Onde assistir ‘Palm Springs’: Hulu
Data de estreia: sex, 10/07/20
País: EUA
Gênero: comédia, ficção científica
Ano de produção: 2020
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
NAN