Parasita (Parasite)

‘Parasita’ | CRÍTICA

Fernando Coutinho

Produção sul-coreana, vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes desse ano, além de selecionado como representante da Coreia do Sul para o Oscar, Parasita (Parasite) é um daqueles filmes que você pode – na verdade, deve – assistir com mais de um olhar.

A trama

O enredo, a princípio se impõe como uma comédia: uma família fracassada, composta por pai, mãe e um casal de filhos jovens, que vive de bicos e subempregos, em um porão sujo e bagunçado onde apenas as janelas ficam pouco acima do nível da rua num bairro pobre da Coreia do Sul. Um amigo rico do filho dessa família, universitário que dava aulas particulares para a filha de uma família rica, precisa viajar. E, para ajudar esse amigo e a família pobre, resolve deixar a cargo dele as aulas de inglês. Com a entrada do filho nesse círculo social acima do seu, logo surge a ideia de empregar os demais parentes na casa dessa família rica, elaborando as mais intrincadas armações para conseguir esses empregos. Então, como é de se esperar, em algum momento, isso vai deixar de dar certo.

O drama mora nos detalhes

Com um olhar superficial, isso é tudo o que se tem no filme. E, nesse caso, pode ser que a opinião sobre o longa nem seja das melhores, já que o desenrolar é um pouco lento, as caracterizações um tanto quanto caricatas e as armações não parecem muito verossímeis. Mas…

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Ao atentar um pouco mais às soluções, caracterizações e outros detalhes, observamos que tudo começa a fazer mais sentido, até mesmo (ou principalmente) o teor caricato dos personagens, bem como a falta de veracidade nos esquemas inventados por eles. E a comédia vai ganhando ares de drama e tragédia.

Choque de classes

Embora não tenha nitidamente aquele teor intelectual de “filme-cabeça”, Parasita tem sido aclamado talvez por conta da forma tão sutil (e levando isso em conta, brilhante) em que apresenta o choque de classes e visões entre as duas famílias. Não rebuscadamente como uma análise sócio-econômica, mas de uma forma prática, humana. E é aí tudo passa a fazer sentido, em uma síntese de antíteses.

Temos de um lado a família pobre morando em um porão, sujo, apertado, com janelas que dão para um beco que serve de banheiro para os bêbados locais. Do outro, a família rica morando em uma mansão projetada por um renomado engenheiro, ampla, com terreno elevado, jardim, gramado; com requinte e limpeza quase asséptica.

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Malandragem x Inocência

A família pobre, desleixada e com a malandragem de quem vive no sufoco bem conhecida de nós brasileiros, com planos que vão do mirabolante ao ridículo para conseguir os empregos na casa da família rica. E a família rica, instruída, mas tão seguros de si por conta de sua posição e posses, que acabam caindo em uma “inocência” perante a realidade, fazendo sentido que os esquemas da família pobre tenham funcionado.

Várias outras relações poderiam ser feitas, mas estabelecê-las provavelmente é a grande “graça” (e quem sabe, intenção) do filme. Afinal, é justamente quando começamos a descobri-las que Parasita fica bom. Como quem prova e degusta um bom vinho, assista sem pressa.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Parasite
Distribuição: Pandora Filmes
Direção: Bong Joon-ho
Elenco: Kang-ho Song, Sun-kyun Lee, Yeo-jeong Jo
Data de estreia: qui, 07/11/19
País: Coreia do Sul
Gênero: suspense
Ano de produção: 2019
Duração: 132 minutos
Classificação: 16 anos

Fernando Coutinho

Profissional e professor de TI, é nerd desde antes do termo virar moda e da Internet ganhar o mundo. Antenado em tecnologia, literatura, filosofia, quadrinhos, filmes, séries, fotografia e boa música. Acredita que A Verdade Está Lá Fora e ao mesmo tempo dentro de cada um.
NAN