Patty viu: Blue Jasmine
Antonio de Medeiros
****Colaboração de Patty, A Crítica Bipolar****
Sabe aquela pessoa que vemos na rua falando sozinha? Como aquele morador de rua gritando algum palavrão, sempre seguido por um cachorro. Aqueles que recolhem papelão naquelas carroças. Eles têm sempre um vira-lata, mais magro que modelo da Vogue. Vai o homem com seu papelão, falando sozinho, xingando quem? Segue o cachorro. O mendigo xinga e até ameaça chutar o pobre bicho, que se afasta instintivamente e depois volta. Amor é isso, amar é ter a memória curta de um cão.
Mas não é sobre isso que eu quero escrever. É sobre falar sozinho. Eu falo sozinha. Eu fazia isso em casa, pensando alto, como todo o mundo faz. Mas um dia no mercado, eu comecei a pensar em voz alta, tava reclamando da vida, da carestia, eu mesma respondia às minhas perguntas, ali entretida comigo mesma, até que um barulho de fora me puxou pra realidade. É que era a minha vez na fila do “Paes Mendonça”. E as pessoas muito nervosas, como bombas prestes a explodir, gritavam “Vai logo velha esclerosada!” Retruquei: “Cala sua boca, seu corno, que eu sou bipolar, não esclerosada!”- tentava argumentar, mas veio um segurança e me tirou daquela confusão. Qualquer mínima demora vira uma discussão e bum! – eles cães- mordem-se.
Fui ver o novo filme de Woody Allen, neste domingo chuvoso. Fui sozinha, morrendo de medo de fazer a Beatriz Segall, ou seja, tropeçar numa pedra portuguesa e cair. Uma queda daquelas e eu desmonto que nem boneco Lego.
Desde “Meia- noite em Paris” não vejo um filme tão bom de Woody Allen. O filme é bem engraçado, não é à toa que ele começou a carreira fazendo stand up comedy. Ele faz o cinema inteiro rir.
Cate Blanchett está pro Oscar! Mas todo o elenco é muito bom. Destaca-se também a atriz britânica, Sally Hawkins, que faz a irmã pobre que tem dedo podre. Tenho uma amiga que é assim, comete sempre os mesmo erros, escolhe sempre o mesmo tipo de canalha e depois sofre e me procura. Mas eu sou crítica e não psicanalista, então, de vez em quando eu fico off line pra ela.
“Décadence avec élégance”- dizia a minha professora de Francês do Instituto, segurando um toco de giz nas unhas carcomidas. Jasmine decai, perde tudo, menos a majestade. Não encara a realidade. Como Blanche de “Um Bonde Chamado Desejo”, ela não quer o realismo: “I don’t want realism. I want magic! Yes, yes, magic! I try to give that to people”.
Se eu fosse você, coisa que eu não sou porque eu sou apenas “eus”, iria ver este filme.