álbum McCartney III – Imagined Paul McCartney crítica

‘McCartney III – Imagined’: novo álbum de Paul McCartney traz ar de renovação

Fabricio Teixeira

O que mais resta a Paul MacCartney senão se reinventar? E por que não expandir esse processo, convidando outros artistas para darem sua visão sobre parte de sua obra? No disco McCartney III – Imagined, o cantor apresentou uma nova versão de um de seus trabalhos mais recentes, o McCartney III, lançado em dezembro do ano passado.
Para a tarefa, o baixista não abriu mão da credibilidade conquistada em mais de seis décadas na música e reuniu um time de peso, escolhido à dedo pelo próprio Paul: Ed O’Brien (Radiohead), Josh Homme (Queens of the Stone Age), Beck, Damon Albarn (Blur/Gorillaz), St. Vincent, entre outros.
O resultado é uma experimentação que varia de acordo com o olhar que o parceiro/fã apresenta das músicas do parceiro/ídolo. O disco é quase uma conversa com as gerações posteriores – que tiveram o próprio ex-Beatle no rol de suas influências.

Surpresas e decepções

A primeira faixa do disco, Find My Way, já tem na versão original, uma pegada mais eletrônica. Beck, parceiro nessa nova roupagem, aumenta consideravelmente essa pegada. The Kiss of Venus marca um flerte de Paul com o R&B e tem uma guitarra hipnotizante. Para esse remix, o artista chamou o rapper Dominc Flake, de 24 anos, um dos novos expoentes do gênero nos EUA.
Também dos EUA, o trio Khruangbin aparece na faixa Pretty Boys, talvez o ponto mais ousado do disco. Pouca coisa restou da versão original, que conta com um violão suave e uma bateria bem marcada. Nesse remix, a voz de Paul ganha o acompanhamento de uma guitarra carregada de efeitos, e um baixo de linhas curtas e bem marcadas com o beat.
Em Women and Wives, a convidada foi St. Vincent. Talvez essa seja a faixa que mais mantenha a cara da versão original. A estrutura da canção permaneceu intacta, ganhando alguns elementos mais puxados para o indie rock, e também um solo da guitarra rasgada de Annie Clark. Uma falta de ousadia, mas que não compromete o resultado final.
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Blood Orange, o mais ousado

O cantor e compositor Blood Orange foi mais ousado e mudou completamente a faixa Depp Down. A versão original tem uma batida marcada e dançante, acompanhada de um sintetizador. O remix conta com uma introdução à capela que vai sendo acompanhados de elementos como piano, e o que parece ser um teremim, que vão crescendo, pouco a pouco, até explodir em uma batida mais crua e visceral e um vocalize de arrepiar.
Phoebe Bridges foi a convidada da faixa Seize the Day. E se a versão original do McCartney III – Imagined tinha um “que” de alegria característica de Paul McCartney, a nova versão aponta uma direção meio dark pop. Bridges tem uma voz muito bonita e doce, o que ajuda a criar uma atmosfera totalmente contrária a da versão original.
O guitarrista Ed O’Brien, do Radiohead, é o artista convidado para a faixa Slidin. Ed não perde tempo e acrescenta uma pitada de agressividade a uma música que já tinha um espírito de rock’n roll. A versão remix tem uma guitarra mais suja e tem um compasso mais acelerado que a original. Uma das gratas surpresas do disco.
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Oscilações

A Damon Albarn coube o desafio de transformar uma das músicas menos atrativas de McCartney III, a faixa Long Tailed Winter Bird. A versão original é um tema instrumental sem muitas grandes pretensões. Parece, na verdade uma série de improvisos que foram reorganizados até chegarem a um resultado levemente satisfatório. Albarn, sem muitas alternativas, injeta um pouco de elementos eletrônicos, mas não chega a deixar o produto final mais interessante.
Lavatory Lil ganhou a participação de Josh Homme, do Queens of the Stone Age. Assim como St. Vincent, Josh não pesa a mão e entrega uma versão muito parecida com a original. Para a sua sorte – e para a nossa – a música já tinha uma pegada semelhante a de sua banda, então o casamento acaba sendo feliz.
A canção rancheira When Winter Comes ganhou a intervenção de Anderson .Paak. A versão remix ganhou uma bateria e um ar mais animado, mas nada que surpreendesse. O 3D RDN remixou Deep Deep Feeling, e transformou uma balada triste de Paul em uma versão um tanto confusa: o que começa com um remix animado, parece ir entristecento ao longo do tempo, e não chega a dizer a que veio.
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Diálogo aberto com novas gerações

Enfim, Paul McCartney sabe que não pode lutar contra o tempo. E talvez nem seja isso, de fato, o que ele deseja. A ideia de McCartney III – Imagined parece ser um movimento ousado de um músico que sabe o lugar que ocupa e a influência que exerce. Do alto dos seus 78 anos, e de tudo que já fez pela música, Paul reúne artistas de várias gerações e lhes dá carta branca para mexer em um pedaço de sua obra.
Assim, ganham os convidados, que tem a chance de trabalhar a obra de uma das maiores lendas da música; ganha o Paul, que mantém aberta uma troca criativa com as novas gerações, mas, sobretudo, ganha a música.

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Ouça o álbum ‘McCartney III – Imagined’, de Paul McCartney

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Fabricio Teixeira

NAN