Projeto ‘FITA’ alia nostalgia e modernidade em primeiro álbum
Rafael Vasco
Com inspiração na música eletrônica dos anos 80, o projeto FITA acaba de lançar seu primeiro álbum, chamado ‘Love Odyssey’. Assim, idealizado pelo músico André Luiz, o trabalho traz 10 faixas instrumentais e uma com vocais, que conta com a participação da cantora Adriana Marroni. O material já pode ser ouvido em todas as plataformas digitais.
Aliás, este disco sucede dois EP’s que o FITA produziu em 2017 e 2018. A saber, 5 canções que estiveram nestes trabalhos voltam remasterizadas e remixadas para ‘Love Odyssey’. No entanto, a sonoridade nostálgica continua sendo o principal elemento das faixas produzidas.
Sendo assim, o ULTRAVERSO convidou o André Luiz, responsável pelo FITA, para uma conversa em que falamos sobre o novo projeto, referências, sonoridade retrô e música instrumental. Portanto, acompanhe o nosso bate papo:
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ULTRAVERSO: André, de que maneira surgiu a ideia do projeto FITA?
ANDRÉ: Surgiu a vontade de querer sair do mundo de composição habitual que eu tinha, com banda, com um estilo mais voltado para o rock. Eu tocava em banda de rock e estava cansado de compor em conjunto e resolvi tentar criar algo diferente e completamente sozinho. Nesse sentido, eu sentia que fazer rock’n’roll já não era mais relevante e resolvi apostar em produzir músicas eletrônicas com cara de trilha de filme. Assim, depois de assistir ‘Drive’, comecei seriamente a desejar aquele tipo de composição. Aí, juntou com a paixão que eu tenho por Daft Punk e Justice, além das músicas dos anos 80, dessa forma o FITA nasceu.
Aliás, depois de dois EP’s você acaba de lançar o álbum ‘Love Odyssey’. Dessa maneira, conte qual foi a inspiração para este trabalho?
ANDRÉ: A inspiração musical foi nos discos do Jean Michael Jarre, Vangelis, Daft Punk e Justice. Além disso, tem tudo o que vivi desde 2017 até a conclusão do disco.
A saber, a sonoridade oitentista predomina no disco. Isso vem de encontro ao resgate que essa década vem tendo no cenário musical de hoje. A que atribui o fascínio por essa atmosfera nostálgica?
ANDRÉ: Acho que todo mundo que já passou dos 30 está carente de momentos reconfortantes e coisas boas, e os anos 80 e 90 trazem isso. Portanto, as músicas dessa época nos levam de volta a momentos felizes e marcantes. Logo, a nostalgia deve vir disso. Saudade de paz e de uma época mais tranquila e simples.
Sendo assim, quais são as principais referências que você utilizou no projeto FITA?
ANDRÉ: As referências são na verdade uma grande mistura de coisas. Desde a capa com um visual meio ‘City Pop’ japonês misturado com ‘AOR’ anos 80. A inspiração em video games está no logo do FITA, inspiração em New Order e umas músicas house mais tranquilas em Matiné. Aliás, nesses ultimos anos eu tenho ouvido muito Kraftwerk e Survive, que é a banda dos caras que fizeram a trilha da série Stranger Things e isso tem influenciado bastante também. Além de Vangelis que fez várias trilhas (Blade Runner e Carruagens de Fogo), Jean Michael Jarre, Pink Floyd, Molchat Doma, Aphex Twin. Tem uma mega mistura ai no disco. Quem ouvir vai sacar.
Também será lançada a versão K7 do disco, uma raridade nos tempos atuais. Desse modo, ainda consegue enxergar a convivência do consumo físico e digital de música?
ANDRÉ: Olha, esse assunto é muito complicado. Os streamings vieram para ficar, são fáceis de usar. Além disso, são práticos como nenhuma mídia física jamais foi, porém, as músicas não são nossas. É como andar de uber. Você só tem se pagar para usar. As mídias físicas não, você comprou então é seu. Aliás, o Vinil teve um mega boom, mas é pela nostalgia e pra mostrar para os outros né. É como ter uma biblioteca recheada de livros. É fetiche.
Contudo, a Fita K7 talvez não tenha mesmo um lugar no mundo de hoje, o que é uma pena. Ela é fácil de usar, fácil de gravar e regravar, entretanto, só não tem muito espaço de armazenamento. Por isso, eu acho que o melhor caminho era o mp3. Assim, você monta sua biblioteca, organiza e ela está sempre ali, disponível, sem ter que pagar para o Spotify, que só lucra e não repassa a grana. Ele é a melhor opção para ouvir e guardar música em um espaço reduzido, não ocupa espaço, nem pega poeira, não risca e não embolora com o tempo.
André, este álbum teve sua produção justamente no período da pandemia. Com isso, de que maneira esse momento difícil refletiu no resultado final?
ANDRÉ: Cara, para mim a pandemia já começou muito antes, num modo filosófico de pensar, claro. Sendo assim, em 2017, eu entrei numa depressão severa. Logo, mesmo tendo sido chamado para tocar na Virada Cultural, fazendo vários shows, ainda não estava feliz. Fiquei deprimido, não tinha grana, não saia, foram três meses sem dormir, meu casamento acabou, deixei a casa onde morava, minhas coisas ficaram para trás, vendi todos os meus intrumentos e voltei a morar com meus pais.
Ali, parei de tocar com o FITA, saí do Loyal Gun, outra banda onde eu tocava, as pessoas que eu considerava como amigos sumiram. Eu não saia de casa. Aliás, se não fosse pela ajuda dos meus pais, irmãos e dois amigos, não sei o que teria sido. Portanto, a produção do disco ficou completamente comprometida, não tinha como continuar. Porém, com o tempo as coisas foram mudando, arrumei um trabalho, um lugar para morar, e aos poucos comprando equipamentos para concluir o disco. A pandemia veio e na verdade me mostrou o que era realmente importante. Trabalhar, estudar, focar em mim e nos meus projetos.
Agora falando sobre o mercado da música instrumental no país, pode dizer quais as maiores dificuldades têm enfrentado para continuar produzindo o seu som?
ANDRÉ: A dificuldade de produzir é achar tempo para compor e gravar, dinheiro pra produzir, finalizar e lançar, lugares para tocar e entender o custo benefício entre tocar, retorno de público e dinheiro. Instrumental é muito nichado, tem gente que quer ouvir mas acho que meu som ficaria melhor nos fones e no som de casa do que num equipamento de som duvidoso que a gente encontra tocando ao vivo na média de lugares do país. Além disso, é um baita o rolê carregar equipamentos pra lá e pra cá e receber às vezes um cachê baixíssimo.
Para finalizar, conte sobre as suas expectativas para poder tocar essas novas canções do FITA ao vivo para o público.
ANDRÉ: Olha, não to criando muita expectativa. Entretanto, quem sabe no meio do ano que vem eu monte um show bem produzido, num lugar com boa estrutura e tal… com possibilidade de público e com um som foda. Talvez um show num estúdio, como o Aurora aqui em São Paulo, lá em Pinheiros. Vamos ver, preciso comprar muitos equipamentos para tocar o show como ele deve ser.
Enfim, acompanhe o FITA
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