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Leia a crítica do filme Propriedade, da Netflix (2023) - Ultraverso

Propriedade tem roteiro que dá todas as respostas mesmo que elas não sejam óbvias

Bruno Oliveira

Propriedade é um filme nacional que chegou de forma tímida aos cinemas no final de 2023. Dirigido por Daniel Bandeira – em seu primeiro longa-metragem, essa obra nos traz um terror urbano (ou rural no caso) que tem se tornado um gênero bem expoente em nosso país desde Bacurau (2019). Em seu currículo possui participações em festivais do mundo todo tendo como principal o Festival de Berlim. Além disso, Propriedade foi escolhido como Melhor Filme na Fantastic Fest 2023, premiação direcionada para os gêneros de terror, ficção-científica e suspense.

Um novo modo de fazer terror

Antes de fazer essa resenha, caí no erro de ler algumas críticas por aí. Por incrível que pareça, vi diversas pessoas falando mal dessa obra. Mas como diria minha mãe, eu não sou os outros, e só pretendo falar coisas boas dele. Citei Bacurau no início do texto, com a intenção de fazer um certo tipo de paralelo. Bacurau faz isso magistralmente e Propriedade não fica longe. A luta de classes chega nessa película com força total e sem menos anunciar que estava vindo. O que poderia ser um filme que fala sobre estresse pós-traumático, acaba indo para um terror inesperado.

Conflito de classes

A parte do terror é crua, não existe um ser totalmente vil e as mortes são todas efeitos colaterais de uma situação que chegou ao limite. A classe trabalhadora se vê em uma situação completamente acuada e sua única solução seria atacar. O que começa como uma mera busca por seus direitos, terminam em uma situação onde não há volta. Começaram e agora terão que ir até o fim dessa loucura coletiva. Por outro lado, temos a classe mais abastada que chega no lugar para descansar e encontra uma situação de puro caos da qual suas vidas correm perigo. O único refúgio é uma fortaleza onde o dinheiro foi capaz de comprar. Essas são apenas algumas camadas do que essa obra nos oferece.

O suspense nacional estreou em 14 de abril no catálogo da Netflix – Foto: Divulgação

Personagens tridimensionais, sem definição de bem ou mal

Onde tudo podia ser resolvido com diálogo, tudo acaba em morte. Um ódio inicial vira uma bola de neve. Embora Tereza seja a protagonista óbvia, não dá para torcer para ela 100%. Após ser acuada, a única chance é atacar e daí algumas decisões dela também são altamente questionáveis. Até onde também podemos confiar na palavra do outro? Assim como é impossível achar que os trabalhadores também estão certos. Por mais que eles tenham uma reivindicação justa, os seus meios podem nunca chegar a justificar os fins.

Conclusão

Realmente não acho que Propriedade seja um filme para todos. Ele possui uma violência que pode parecer exagerada e completamente sem sentido, mas o roteiro reitera tudo, nos dá todas as respostas mesmo que elas não sejam óbvias. Possui muitas camadas que podem fazer quem assistiu ficar discutindo por dias. O final pode até parecer aberto, mas ele diz, sem palavras, o que vai acontecer. Em um conflito direto entre classes talvez não sobre final feliz para ninguém.