‘Punho de Ferro’ apresenta uma narrativa fraca graças a falhas no roteiro e desenvolvimento pobre dos personagens

Gabriella Soares

A quarta série do universo Marvel produzida pela Netflix, “Punho de Ferro”, levantou as expectativas antes de sua estreia e deixou muitos decepcionados após a liberação dos 13 episódios da primeira temporada. Depois de “Demolidor”, Jessica Jones e Luke Cage foi natural uma maior expectativa em relação à história e aos personagens, mas ‘Punho de Ferro’ provou-se a mais fraca dentre essas séries em todos os aspectos.

Danny Rand (Finn Jones) cresceu em um monastério após o avião em que viajava com seus pais cair no Himalaia. Durante anos ele foi treinado por monges guerreiros até que enfim se tornou o punho de ferro, o maior guerreiro e protetor de K’unLun e inimigo mortal do grupo criminoso conhecido como Tentáculo. Quinze anos depois, Danny está de volta à Nova York obstinado a libertar a empresa de sua família das garras do Tentáculo. Agora ele tem que descobrir como esse grupo conseguiu se infiltrar na Rand, se ele pode ou não confiar em Joy (Jessica Stroup), Ward (Tom Pelphrey) e Harold (David Wenham), as únicas figuras de seu passado que sobraram, assim como se pode contar com a ajuda de Colleen (Jessica Henwick), uma sensei de artes marciais, e Claire (Rosario Dawson), figura conhecida das outras séries, alémde como ele vai provar para o mundo que ele é quem realmente diz ser.

Um dos maiores problemas da série é o seu roteiro, que apresenta inconsistências e um desenvolvimento pobre. Se o caminho escolhido de início por Danny é agir através das informações que ele conseguisse descobrir na empresa – e boa parte dos episódios iniciais é gasto com ele trabalhando em prol de conseguir acesso aos escritórios e informações da Corporação Rand – a passagem desse momento para abordagens diretas contra o Tentáculo é realizada com um desenvolvimento desconexo e desinteressante. E parte disso é atribuição da forma como os episódios são apresentados. Durante praticamente toda a série o ritmo é sofrível, poucas cenas de ação ou diálogos faziam com que a história ficasse interessante.

As inconsistências no roteiro, por outro lado, eram diversas. Danny saber dirigir assim que volta de K’unLun, uma das Sete Capitais do Céu, na qual havia apenas carroças, como ele mesmo fala em alguns momentos, é um exemplo. Além disso, o fato dele desistir dos ensinamentos e juramentos que fez durante seu treinamento de maneira fácil e sem muito debate interior, sua injustificada posição de “destruidor do Tentáculo e salvador de tudo e todos” ao mesmo tempo em que a série focava em sua inexperiência (sempre precisando de incentivo de um mestre que só ele vê e que só aparece em um ou dois episódios) e seu poder mal aparecendomal explicado são elementos que irritam durante a narrativa.

Como se tudo isso não fosse suficiente, Danny não é um personagem que encanta ou que sustenta a série. Ele nunca parece realmente desenvolvido, além de ser facilmente manipulável, infantil e incrivelmente sem foco para uma pessoa que passou quinze anos treinando e meditando em um monastério. E até em momentos em que a série parece querer focar em como Danny não tem malícia, por não ter passado a maior parte da sua vida vivendo em Nova York, isso não é justificável quando se pensa que ele se preparou para enfrentar um inimigo astuto que está infiltrado em todos os lugares.

A escolha do vilão de ‘Punho de Ferro’ ser o Tentáculo, o mesmo da segunda temporada de ‘Demolidor’, se provou uma boa estratégia para a integração do universo Marvel ao mesmo tempo que um erro estratégico de impacto. A forma como o grupo e uma de suas mais importantes chefes, Madame Gao(WaiChing Ho), é apresentada na série de Murdock parece muito mais perigosa e instigante do que na de Rand. Isso se deve, talvez, ao fato de que enquanto ‘Demolidor’ tinha outros plots e fortes personagens sendo bem trabalhados durante os episódios, o mesmo não é encontrado em ‘Punho de Ferro’, com exceção, talvez, de Ward e Colleen.

O relacionamento de Danny com os outros personagens da série é regido ou por seu objetivo de combater o Tentáculo ou pela interferência da organização em sua vida e na deles. Assim, não há outros pontos explorados no roteiro, fazendo com que a constante insistência na presença do grupo de ninjas/traficantes de drogas seja monótona e previsível. Mesmo em momentos de ação, como as lutas – que Demolidor consegue montar sequências melhores –, ou os plot twists, são poucos aqueles que conseguem realmente prender a atenção.

Com atuações boas, ritmo entediante e um roteiro cheio de falhas, “Punho de Ferro” mais prometeu do que entregou. O desperdício de personagens que, se tivessem sido melhor desenvolvidos, poderiam entregar ótimas narrativas e de uma mitologia que também não foi aproveitada – cenas, personagens e questões de K’unLun poderiam ter sido exploradas –, a quarta série do universo Marvel da Netflix deixa muito a desejar e é esperar que ela não seja uma amostra do que vem por aí com as próximas séries de super-heróis da plataforma.

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Gabriella Soares

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