QUEERLAND | Ser lésbica é um ato político + o reboot de ‘The L Word’
Giselle Costa Rosa
Para quem não sabe – ou não soube – agosto foi o mês que marcou a Visibilidade Lésbica. Mesmo em um contexto onde a orientação sexual não siga a heteronormatividade, dentro da sopa de letrinhas LGBTI+, a mulher lésbica fica comumente em segundo plano. Um espelhamento de nossa sociedade patriarcal, ou seja, independentemente de sua orientação sexual, o homem branco sempre possui um maior espaço de fala e mais gente disposta a ouvi-lo.
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Por mais produções lésbicas
Se transpormos isso às artes, no tocante cinema/TV, dentro do espectro LGBTI+, logo poderemos notar duas coisas. Primeiro, há mais filmes e séries sobre homens gays, travestis, drag queens, entre outros, do que sobre lésbicas. Segundo, em uma busca rápida pele rede, vemos listas de melhores filmes LGBTI+ pipocando dos quais mais da metade listados possuem protagonista do sexo masculino; e a premiação segue o mesmo viés. No entanto, podemos perceber que essa diferença tem diminuído com o passar dos anos.
Outro fato que nos chama à reflexão é o número ínfimo de protagonistas negras, fora do padrão de beleza atuando nos filmes homoafetivo lésbico. Uma exceção, que pode ser citada, é o filme “Pariah” (2011), notável por narrar a trajetória de uma jovem negra e sua “saída do armário”. Construída sob uma perspectiva sensível, a produção traz à tona a interseccionalidade – a intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação – e o rompimento do padrão da subjetividade feminina. Mas isso é assunto para um outro dia.
Reboot de ‘The L World’
No texto de hoje, abordo a série “The L Word”, um ícone lésbico dos anos 2000, que revolucionou o mercado de produções voltado para o público do gênero em sua maioria. O seriado teve muitos pontos positivos, dentre eles a questão da fluidez sexual do Ser Humano (que não necessariamente passa a vida inteira atrelado a apenas uma orientação sexual, seja qual for sua identidade de gênero). Além disso, mostrou algo ainda muito desconhecido para os brasileiros: a transexualidade. Também salpicou um pouco do conceito de não binário (onde basicamente uma pessoa vivencia a combinação dos gêneros masculino e feminino ao mesmo tempo).
O fato de “TLW” ser uma realidade muito distante da maioria dos LGBTI+ brasileiros fez com que o público embarcasse para ”ilha da fantasia” situada em Los Angeles. Muitas das novidades que lá fora já rolavam, aqui ainda estávamos muito aquém. O padrão de vida ostentado pelas mulheres ali representadas fervilhavam no imaginário lésbico.
Abertura de portas
Portanto, sem dúvida “The L Word” trouxe muitas dimensões acerca do mundo lésbico, o que nenhuma outra produção até então tinha conseguido trazer. Um exemplo disso foi ter no enredo, como uma das protagonistas, uma negra lésbica (Bette). Os fatos relacionados a sua etnia foram superficialmente tratados, é bem verdade, mas teve uma certa relevância na trama. A representatividade fugia ao habitual de sociedade brasileira, pois a ela detinha uma posição social e econômica acima da maioria de nossa população.
Foram seis temporadas (2004-2009) recheadas de sexo, paixão, nudez (quase sem censura), traições, romances, cafajestagens e, sobretudo, muitos dramas (e como não os ter diante de uma série lésbica?). Certamente não podia faltar a bissexual sendo colocada na berlinda por suas ações sob os olhos de reprovação das “manas”. Certas representações do mundo lésbico extrapolaram o crível, personagens bem estereotipados e com pouca diversidade (gênero, etnia, classe, tipo físico, etc.). Podemos dizer que “TLW” abriu caminho para uma maior visibilidade na televisão, fato de suma importância para a comunidade, trazendo o sentimento de pertencimento para muitas de sua audiência.
A nova série e a inclusão da letra ‘Q’
O site Hollywood Reporter noticiou, no início deste ano, que o canal Showtime tinha dado sinal verde para o reboot de TLW, que deve estrear com o título “The L Word: Generation Q”, fazendo referência à inclusão da letra Q na sigla LGBTQ+. A continuação se passa dez anos após os eventos de “The L Word”. As amigas Bette Porter (Jennifer Beals), Alice Pieszecki (Leisha Hailey) e Shane McCutcheon (Katherine Moennig) continuam vivendo em Los Angeles, onde ainda precisam lidar com corações partidos, obstáculos na carreira e novos amores. Juntam-se a elas Dani Nùñez (Arienne Mandi), Micah Lee (Leo Sheng), Finley (Jacqueline Toboni), Sophie Suarez (Rosanny Zayas) e Gigi (Sepideh Moafi). Para além do bem e do mal, a criadora de TLW, Ilene Chaiken, volta para produzir o reboot.
A torcida fica por conta de que a equipe responsável pela produção tenha a consciência de que vai precisar atualizar bem esta sequência, aproximando-se mais da realidade vivida pela comunidade lésbica. Ou seja, seria muito bacana não somente ter Lésbicas e Gays (brancos), ou ainda um repertório sem fim de pessoas super magras, inteligentes e descoladas, de classe média ou rica que se apaixonam por semelhantes em todos os sentidos possíveis.
Estreia em dezembro
Enfim, no último dia 22 de agosto, foi lançado o teaser da nova série. Nele, a personagem de Jennifer Beals (Belle Porter) anuncia que irá se candidatar à Prefeitura de Los Angeles. Também mostra as personagens de Moennig e Leisha Hailey, que interpreta Alice, que aparentemente parece ser apresentadora em um talk show. A saber, a estreia da série “The L Word: Generation Q” está marcada para o dia 8 de dezembro no Showtime, sem previsão no Brasil.
::: TEASER
https://youtu.be/t7wDg_G9GMU