‘Quem Fomos’: uma tentativa de explicar o universo que caminha em círculos
Ana Rita
Um dos maiores questionamentos da humanidade é ‘quem é o ser humano?’. Esse animal racional que construiu uma sociedade complexa com relações herméticas. Estudiosos e pesquisadores buscam compreender como surgiu, por que e para onde vai o ser humano.
No documentário Quem Fomos (Wer Wir Waren), filme dirigido por Marc Bauder, esses questionamentos tentam ser aflorados. Com a participação de especialistas do mundo, de áreas diferentes, a existência e o propósito humano são questionados, tal como suas causas e consequências no Universo.
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Precisamos fazer algo
“Nos somos aqueles que desapareceram”.
Em ‘universos’ (pode substituir a palavra por ‘Brasil’ também) paralelos, há pessoas que não acreditam nas consequências das criações humanas. De fato, o ser humano é inteligente. A racionalidade é muitas vezes posta como superioridade para essa sociedade; tal qual a evolução do homem como animal e a formação de comunidades interligadas (ou não) com cadeias de sustentação e relação que são profundos objetos de estudo da sociologia.
Quem Fomos se inicia com Janina Loh, uma crítica do pós-humanismo e filósofa de tecnologia, observando os rastros que um acidente nuclear de uma usina deixou em uma determinada região. Certamente, uma das coisas mais assustadoras é a humanidade. Principalmente quando entramos no embate entre a positividade dos avanços tecnológicos e suas consequências, o produto do homem e o que isso causa no planeta, que pode agir de maneira insana, inacreditável e ser totalmente autodestrutivo.
Consequências
O ser humano, aliás, é um animal capaz de construir, criar e destruir com a mesma mão. Por causa dessa destruição deixada por grupos humanos passados, o nosso planeta sofre duras consequências. Por isso, há tempos, estudiosos defendem e enfatizam a necessidade de agir logo, fazer coisas que podem reverter a situação na Terra.
Lembro bem quando vi o documentário Uma Verdade Inconveniente, de 2006, no qual Davis Guggenheim acompanha o ex-candidato à presidência dos Estados Unidos, Al Gore, em palestras sobre o aquecimento global e a necessidade efetiva de que medidas começassem a ser tomadas.
Esse foi um dos primeiros documentários sobre o assunto a tomar uma enorme proporção, gerando medo e preocupação, assim como o início de uma importantíssima conscientização. Entretanto, muitas pessoas acreditavam que ali havia muito sensacionalismo, um exagero, ou até pensando erroneamente que “a elevação de 1ºC na temperatura do planeta não é tão grande assim”.
O ser humano é bom ou é mau?
A exploradora e pesquisadora Sylvia Earle é uma das especialistas que agrega o time do documentário. Explorando oceanos há 65 anos, ela afirma o quão absurdo é o homem não conhecer as profundezas dos nossos oceanos, mas almejar sempre conhecer o exterior do nosso mundo. Não conhecer seu ‘lar’ faz com que não entendamos as mudanças negativas que vêm ocorrendo. O que o ser humano faz na Terra interfere no oceano.
Com uma visão mais poética, mas ainda preocupante, tem-se Alexander Gerst, um astronauta que está em órbita e fala com admiração da visão que pode ter da Terra. Ver de longe e perceber a sua grandiosidade, assim como conseguir enxergar os efeitos literais do atos humanos. como movimentações perigosas do mar, de nuvens e até grandes incêndios florestais, por exemplo.
A existência e evolução do ser humano sempre foi uma incógnita para mim. Como um animal como o ser humano foi capaz de tanto? Um animal que foi capaz de se desenvolver, evoluir e construir um mundo para si. Mesmo vivendo com outros animais, ele manda e desmanda. Sua tecnologia salva, bem como mata, cria e destrói.
Como diz o economista, escritor e filósofo Felwine Sarr, as pessoas lúcidas estão criando consciência da necessidade por essas mudanças. P problema é que as pessoas que detêm o poder financeiro não querem isso. Por isso, é preciso criar uma comunidade humana, um ‘nós’ global.
Lutar contra a natureza
Pensando de forma mais otimista, o ativista Dennis Snowed acredita que podemos mudar o mundo, mas que essas alterações precisam ser reais. Portanto, é necessário ensinar compaixão.
Voltando com as pesquisas de Janina Loh, o filme Quem Fomos mostra de forma mais evidente as ‘evoluções’ reais do homem agora, que foca na tão sonhada inteligência artificial e já idealizada até em produções audiovisuais. Conversando com cientistas, ela conhece robôs altamente desenvolvidos e essa inteligência artificial, fazendo um comentário bem interessante de que eles não tem essa essência humana.
Um dos cientistas até tenta debater de forma ofensiva e estúpida, explicando que isso é questão de tempo e inserção na sociedade. Afinal, em uma época, pessoas com próteses já foram não consideradas humanos em nossa sociedade
Nesse momento, o que se pensa sobre evolução humana passa a ser mais evidenciado. Sentindo-se moralmente superior, o ser humano modifica até sua própria natureza com essas intervenções e criações. Outro cientista é questionado por Janina sobre as possíveis consequências dessas novas invenções e responde que o homem aprende sobre os perigos depois de fazer experimentos.
Efeitos sobre o mundo
Em suma, Quem Fomos é um filme que traz uma reflexão sobre a natureza humana e suas consequências, seus efeitos sobre o mundo. A exploração da terra e do mar; bem como o conhecimento de mundo e do universo; o conhecimento do ser humano; suas necessidades; sua natureza; e, por fim, sua moralidade. Esse processo de conhecimento e autoconhecimento é muito complexo, e o documentário tenta resumir em reflexões propostas, mesmo que por cientistas, mas que não são desenvolvidas nem diversas.
Essas são questões ditas há muito tempo, mas que parecem ser usadas com um certo tom sensacionalista sobre a ansiedade do futuro, a grandiosidade do mundo e a humanidade. Principalmente na dialética humana, do construir e destruir.
São seis visões de seis especialistas. Contudo, não seguem o mesmo questionamento nem a mesma linha de raciocínio. Assim, gera uma dialética que parte do uso do mundo e do surgimento de suas tecnologias com um tom de ‘documentário da NatGeo’ extremamente resumido.
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Trailer do filme Quem Fomos
Quem Fomos: elenco do filme
Guadalupe Gutiérrez
Carmen Valverde
Isabel Mendoza
Ficha Técnica
Título original do filme: Wer Wir Waren
Direção: Marc Bauder
Roteiro: Marc Bauder
Onde assistir ao filme Quem Fomos: Mostra de SP 2021
País: Alemanha
Duração: 115 minutos
Gênero: documentário
Ano de produção: 2021
Classificação: 14 anos