Racionais MCs faz show histórico e arrebatador na Fundição Progresso
Cadu Costa
Quem viu, viu. Quem não, vai ouvir falar e lamentar. É esse o sentimento para quem esteve no último dia 29 de janeiro de 2022 na Fundição Progresso para assistir ao show do Racionais MCs.
Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e DJ KL Jay entregaram não somente uma apresentação musical, mas um verdadeiro relato da realidade brasileira. Daquela que sobrevive dia após dia à desigualdade de uma sociedade racista, misógina, homofóbica e extremamente violenta.
DJ Tamy e Rapper BK
A noite já se apontava como uma celebração do hip-hop nacional. Além da atração principal, a DJ Tamy e o rapper BK, ambos do Rio de Janeiro, foram os shows de abertura.
DJ Tamy botou todo mundo pra dançar com um resgate da black music passeando por várias eras, dos anos 80 aos atuais.
Em seguida, BK, que recentemente entregou duas grandes noites no Circo Voador, inicia o show com o poderoso discurso de “Movimento”, a primeira faixa do seu álbum O Líder em Movimento. A frase “eles querem matar o mano que resiste, e nós queremos ser livres” é versada em uníssono pelo público presente. Além disso, o artista passeou por diversas músicas de seus trabalhos e foi aclamado mais uma vez como um dos melhores rappers da atualidade.
https://www.youtube.com/watch?v=HzmyZgSO-zk
Racionais MCs + Fundição Progresso = expectativas cumpridas
Com tanta representatividade falando alto, os Racionais MCs já entraram na Fundição Progresso com uma expectativa enorme. E eles não decepcionaram. Assim que “Os quatro pretos mais perigosos do Brasil” adentraram no palco com o beat de “Capítulo 4, Versículo 3”, não havia mais nada a fazer senão extravasar e colocar para fora toda sua vontade de resistir.
Depois veio só pedrada: “Eu sou 157”, “Negro Drama”, “A Vida é desafio”, “Jesus Chorou” e a sensação não era mais de estar num show de rap. Era fazer parte da história.
Quem não viveu o auge do Racionais quando surgiram lá no começo dos anos 90, pode não entender a importância do grupo na formação das próprias identidades da época. Mano Brown, bem como Edy Rock, Ice Blue e Kl Jay fizeram uma geração inteira se aceitar, se entender e lutar.
“Crime, futebol, música…eu também não consegui fugir disso aí. Eu sou mais um. Forrest Gump é mato, prefiro contar uma história real. Vou contar a minha…” e pá Mano Brown mete a letra em “Negro Drama”.
Ou ainda: “Desde pequeno, a mãe da gente diz assim: ‘filho por você ser preto, tu vai ter que fazer duas vezes melhor. Duas vezes melhor como se você tá, pelo menos, 100 vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelas psicose. Você vai fazer o que tiver mais perto de você e dentro da sua realidade. Duas vezes melhor como? Quem foi o pilantra que inventou isso aí? Acorda pra vida, rapá!” e Edy Rock começa a versar “A Vida é Desafio”.
Espírito militante renovado
Assim, o repórter que vos escreve simplesmente se entendeu como preto, pobre, periférico e o mundo se abriu. E a luta pela sobrevivência, enfim, começou. Isso foi Racionais, isso é Racionais.
Estar nesse show do Racionais MCs do último sábado na Fundição Progresso não é só incrivelmente emocionante e nostálgico. É entender o lugar que você pertence e saber que a luta não para nunca.
Após mais de uma hora de apresentação, com muita emoção, lágrimas e com direito a um champanhe estourado no palco por Ice Blue, os Racionais agradecem e se despedem. Não sem antes, mais uma aulinha de black music com KL Jay soltando “You’re The Man”, de Marvin Gaye, e “Back To Love”, de Evelyn “Champagne” King.
Pronto, espírito militante renovado. Vamos pra próxima porque como cantaram em “O Expresso da Meia-Noite”: “Só quem é de lá sabe o que acontece.”
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