‘Raia 4’: filme aborda os conflitos na pré-adolescência

A pré-adolescência é certamente um dos momentos de maior mudança nas nossas vidas. Muitas vezes um turbilhão de pensamentos, novidades e incertezas.

Assim, com uma protagonista introvertida e tímida, o filme de Emiliano Cunha, Raia 4, nos apresenta os dramas dessa fase na vida de Amanda (Brídia Moni). Envolvendo a família, bem como amigos, o esporte e também questões internas da personagem. A saber, a obra foi a grande vencedora do prêmio da crítica no Festival de Gramado de 2019.

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Imersão

Então, em meio a todos esses conflitos pelos quais Amanda passa, seu ponto de fuga e local de refugio é a água. A jovem participa de competições com outros pré-adolescentes, com os quais precisa se relacionar e interagir.

A conexão de Amanda com a água é especial. Nos momentos de imersão, vemos uma personagem que encontra na natação uma atividade para escapar desses conflitos e tramas. Quando mergulha e chega ao fundo da piscina, a protagonista está em um ambiente confiável, é onde encontra familiaridade.

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Pré-adolescência e os pais

A mãe da protagonista é apresentada quando o treinador de natação de Amanda precisa conversar sobre as mudanças hormonais e físicas que a menina irá passar durante a puberdade. É incomodo o modo como o treinador “alerta” a mãe e a menina sobre esse período de ‘maturação’, fazendo uso de um termo utilizado geralmente para frutos. A puberdade feminina tende a ser vista diferente da dos meninos, há uma cobrança precoce ao se tornar mulher. Com essa comparação que parece inconsciente, a atitude da mãe é concordar, e a relação entre mãe e filha começa a ser exposta.

A relação de Amanda com os pais é bastante fria e distante. A mãe é controladora, a relação tende a ser superficial e é notório o desconforto da jovem na presença da mãe.

A sós com o pai, é o único momento que vemos a jovem mais solta, há uma conexão, mesmo com o pai não se mostrando tão presente, precisando viajar e passar bastante tempo longe de casa devido ao trabalho.

Se descobrir

Como quase todo jovem nessa época da vida, Amanda está perdida. Bastante introvertida, ela tem dificuldades com os amigos da natação, e tem um olhar diferente para Priscila, uma colega do clube de natação. Durante o filme, a jovem parece estar em conflito com sua sexualidade, há uma pressão da mãe para um “namoradinho”, dos colegas para que ela ‘fique’ com algum menino. Os olhares para Priscila parecem de curiosidade, talvez uma admiração, mas Amanda também não sabe.

Essa cobrança de todas as partes enfatiza o quanto é estranho essa pressão para uma ‘iniciação’ muitas vezes precoce, ou desconfortável a relações com outras pessoas. Amanda tem apenas 12 anos e ainda busca entender tudo que está acontecendo, e tudo que almeja para si.

Foto: Tuane Eggers / Ausgang

Ato final

Partindo de um ritmo lento, o filme Raia 4 mostra a rotina da personagem, e mesmo mostrando a intimidade, ainda somos observadores bastante distantes devido ao desconhecimento sobre si de Amanda, e essa automação nas atividades do dia-a-dia, como os treinos da natação e a convivência em casa.

O terceiro ato é uma reviravolta que enfatiza o cenário experimental construído pelo diretor Emiliano Cunha. Nesse momento, a definição do real se perde. Nos encontramos no “mundo” de Amanda, também imergimos para o fundo da piscina, nos conectamos com a protagonista, mas nos perdemos no conflito passado por ela.

Enfim, o filme Raia 4 traz uma interessante visão sobre se encontrar, principalmente numa fase de grandes mudanças na vida, com incertezas e descobertas. Uma tentativa de imersão na mente de uma jovem pré-adolescente que parece perdida nos próprios conflitos.

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TRAILER DO FILME ‘RAIA 4’

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FICHA TÉCNICA