Red Hot Chili Peppers Unlimited Love

Red Hot Chili Peppers celebram a vida e a amizade em ‘Unlimited Love’

Guilherme Farizeli

Surpreendente! Os caras do Red Hot Chili Peppers chegaram com seu 12º álbum de estúdio, ‘Unlimited Love’. E eu já adianto para vocês que o trabalho está incrível! O trabalho marca também o retorno do guitarrista John Frusciante ao grupo, depois de 10 anos. Mas, antes de mais nada, deixa eu dar pouquinho de contexto.

A banda vinha de um período muito frutífero nos últimos anos, especialmente com o lançamento de The Getaway (2016), segundo e último álbum gravado com o guitarrista Josh Klinghoffer. Algumas faixas relevantes na discografia da banda como Dark Necessities, Goodbye Angels e Sick Love (em parceria com ninguém menos que Elton John) se destacaram.

Então, se tudo estavam bem, de onde veio a necessidade de mudança? Eu te explico.

Produção

Após a turnê do supracitado ‘The Getaway’, a banda começou a trabalhar em canções para um novo álbum. No entanto, o baixista Flea, o baterista Chad Smith e o vocalista Anthony Kiedis não estavam satisfeitos com o progresso do trabalho. Nesse sentido, veio a ideia de trazer de volta John Frusciante. O anúncio de seu retorno substituindo Josh rolou em 15 de dezembro de 2019.

E já que a ideia era voltar ao que é familiar, o produtor Rick Rubin foi trazido de volta. Ele produziu os álbuns mais bem sucedidos da carreira da banda, incluindo a obra-prima Blood Sugar Sex Magik (1991). Pronto, tudo no esquema. Com aproximadamente 100 músicas/ideias novas para trabalhar, o cenário estava pronto. A pandemia da Covid-19, entretanto, deu uma atrapalhada nos planos. Voltando ao trabalho em 2021, eles conseguiram dar sequência nessa delícia de álbum que eu detalho agora. ‘Unlimited Love’ veio ao mundo na última sexta-feira (1º).

As canções

Quando a gente olha um álbum com 17 faixas, chega a dar um medo. Afinal, a chance de não engrenar é sempre grande. Ainda mais olhando estritamente pelo lado comercial. Vivemos em um mundo de singles e feats. Muita gente simplesmente não se importa com o tipo de história que um álbum (completão, bonitão) pode proporcionar. Mas, nós, os “amantes dos álbuns” seguimos firmes e fortes. Se você é um “amante dos álbuns”, add aí. E, acima de tudo, ‘Unlimited Love’ é divertido demais pra ser resumido. Sabe aquela “reunião que poderia ser um e-mail”? Esse álbum, definitivamente, não poderia ser só um single.

O disco começa com “Black Summer”, que também foi escolhida como o primeiro single do novo trabalho. Não é difícil de entender o motivo. Ela sintetiza muitas características do som da banda e anuncia de forma de adequada o retorno de John Frusciante, com seus solos, seus fuzzes e tudo que tem direito.

Muito além do single

Eu confesso que uma das coisas mais legais de “Black Summer” é que ela não é, de maneira nenhuma, um spoiler do disco que viríamos a conhecer um tempo depois. A sensação de descoberta dessas novas faixas é, de fato, emocionante. “Aquatic Mouth Dance”, por exemplo, toda calcada na linha de baixo de Flea é uma das faixas da banda que mais evoca a Motown e a sonoridade funk dos anos 70. Os backing vocals de Frusciante no refrão são a cereja desse bolo todo sensual e cremoso. Aliás, por falar nisso, a gente sente muito em casa ouvindo a voz do Fruscha em “It’s Only Natural”. Se você não fica emocionado/arrepiado ouvindo aquele “And she can’t go home tonight/ No she can’t go home tonight “, você só pode estar morto por dentro.

Tem country, regaee e groove à beça

Me impressiona muito a capacidade que esses caras têm de botar na rua um disco surpreendente como esse, com quase 40 anos de banda! E eu sou um daqueles que não esperava muita coisa de ‘Unlimited Love’. E que achava que a ausência do Josh levaria embora justamente o frescor que ele trouxe pro trabalho. Que nada! Embora seja um RHCP reconhecível, a banda foca em elevar o nível das ideias e servir pura e simplesmente às canções. Em “She’s a Lover”, Flea brinca com acordes no refrão, assim como em músicas antigas como “Hey” ou “Charlie”. Bem como Fruscha traz pra jogo mais um solo clássico de… Fruscha. O groove raiz voltou com tudo, meus amigos.

Por falar em groove, e “Whatchu Thinkin'”? Coisa linda! Toda estruturada em cima de arpejos no baixo em que Flea usa e abusa de intervalos de sétima e nona para “provocar” a melodia de voz. E o refrão todo sincopado, feito sob medida para você dançar? Gostoso demais.

E ‘Unlimited Love’ também tem surpresas como “Bastards of Light” e a belíssima “White Braids & Pillow Chair”. Que poderiam estar tranquilamente no álbum ‘Born & Raised’, do John Mayer. E sim, eu gosto de JM. Também temos o reggae “Let Em’ Cry”, um delicioso momento no álbum. Uma melodia de voz muito bonita intercalada com os arranjos de metais, com uma pequena referência ao Jamiroquai. Lindão! “Veronica”, por sua vez, entrega um final maravilhoso em 6/8, com solos, muito phaser, distorção e uma melodia incrível que se molda perfeitamente às dissonâncias da harmonia. Aliás, que alegria de ver o RHCP saindo das harmonias padronizadas de 4 acordes, muito presentes do Stadium Arcadium em diante.

Final sem deixar cair a peteca

A parte final do álbum ainda nos reserva surpresas maravilhosas. O que dizer de “These Are the Ways”, segundo single do disco? Mais uma faixa vinda direta dos anos 70, com referências ao Led Zeppelin e Grand Funk Railroad. Com certeza um marco na discografia dos caras e uma das melhores do álbum, senão a melhor. Ela exemplifica a abordagem que Chad escolheu para ‘Unlimited Love’. Muito mais solto e à vontade do que em álbuns anteriores, ele transforma o disco também em uma aula de bom gosto na escolha de arranjos e frases de batera.

E por falar em Rock, chegamos no melhor refrão do álbum, aquele que não vai sair da sua cabeça. Curiosamente, ele não é cantado por Kiedis, mas até isso deu super certo. “The Heavy Wing” tem uma harmonia maravilhosa, com pitadas do “melhor Beatles possível”. Ela flerta com o rock alternativo, mas ainda é muito RHCP, vide a intro. E o refrão cantado por Frusciante dá um senso de urgência ainda mais legal pra canção. Não dá pra passar batido quando ele grita “Oh, I know that it’s only gold / and I bleed into your pleasantries / The memory, chemistry“.

Conclusão

‘Unlimited Love’ marca o retorno da banda à sonoridade de um quarteto de rock. Sejamos sinceros, havia talvez um excesso de elementos externos nos dois últimos álbuns, deixando muitas vezes em segundo plano o talento da própria banda. Dessa vez, os poucos convidados como por exemplo Cory Wong (tecladista/organista do Snarky Puppy) e o nosso querido Mauro Refosco, acrescentam e muito à vibe do trabalho.

A mixagem do disco também se supera e, na minha humilde opinião, é o trabalho com melhor sonoridade da banda desde ‘Blood Sugar Sex Magik’. Os timbres estão todos incríveis e é possível ouvir cada instrumento e suas respectivas nuances tranquilamente. Nesse sentido, ele soa como um verdadeiro álbum do RHCP e não como mais um álbum do Frusciante. O entrosamento e a energia musical entre esses quatro caras é um negócio de outro mundo. Parece que a amizade e o fato de estarem juntos novamente fazendo música, serve como combustível para uma belíssima safra de canções.

Enfim, sigo ansioso pela turnê de ‘Unlimited Love’ para ouvir essas músicas ao vivo. E recomendo a audição do álbum sem medo, porque tá incrível! Cai dentro!

Por fim, curta ‘Unlimited Love’, o novo álbum do Red Hot Chili Peppers

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
NAN