Releitura Musical | Festival Mr. Sandman

Alan Daniel Braga

Passei a frente de Anna Cecília hoje para mostrar mais do que uma Releitura Musical.
O que teremos hoje é um verdadeiro festival de versões.
A música escolhida está no imaginário popular desde os anos 50SandyPROFILE. Mr. Sandman tem autoria de Pat Ballard e foi gravada originalmente por The Chordettes em 1954.  A letra faz referência ao “Sandman”, conhecido também como “João Pestana”, figura folclórica que teria o poder de jogar areia (ou pó) mágica nos olhos das crianças para trazer bons sonhos. O mito é pouco conhecido no Brasil e, para quem nunca ouviu falar, basta assistir à recente animação ‘A Origem dos Guardiões’ (Rise of the Guardians – 2012), para ver o famigerado “homem-areia” em ação ao lado de outros estilizados companheiros da mitologia infantil: o Papai Noel, o Coelho da Páscoa e a Fada do Dente.
A canção original tem uma melodia que segue um tom de cantiga de ninar. A letra retrata a pessoa solitária que pede a cara-metade dos sonhos ao Mr. Sandman. Sucesso presente nas listas de maiores hits da história americana, com dezenas de regravações e releituras, a música também está presente em muitas trilhas sonoras de filmes, programas de TV (como em Doogie Howser M.D.) e, talvez por isso, é tão memorável. Além de ser usada frequentemente para ambientar os anos dourados, a obra também já ganhou conotações bem diferentes, retratando a ingenuidade que precede o perigo, por exemplo. O sonho que pode se transformar em pesadelo. Este limiar do sono, alternando sonho por pesadelo, é constantemente associado ao personagem da mitologia, como na letra de Enter Sandman, do Metallica.
Tendo explicado o básico, seguem algumas das muitas leituras, versões ou referências da música em outras obras:
Versão original – The Chordettes
Esta é, sem dúvida, a mais recorrente. Como não encontrei nenhum clipe ou apresentação que tivesse apenas a música, segue uma montagem brincando com a letra. Para mostrar que você já deve ter ouvido por aí…

…Mas quem é cinéfilo deve lembrar mesmo é de Mike Myers, sua máscara aterrorizante e uma faca empunhada. A versão das Chordettes esteve em mais de um filme da série Halloween, com a melodia leve sempre em contraste ao desespero de Jamie Lee Curtis. Abaixo, uma versão do fim de Halloween II (1981) para TV com a músicas nos créditos (Pra quem nunca viu, há spoiler).

Versão The Four Aces
Mr. Sandman foi um sucesso imediato e, ainda no ano de 1954, outras versões surgiram. Como a instrumental de Chet Atkins  e a versão do The Four Aces, que foi gravada no fim do mesmo ano. Esta também fez parte da trilha sonora de um filme de sucesso… Quem não se lembra de Marty Mcfly chegando na Hill Valley de 1955, em De Volta para o Futuro (Back to the Future – 1985)?

Versão The Supremes
Os anos passaram e muitos gravaram. Em 1965, o grupo vocal ‘liderado’ por Diana Ross também gravou a sua versão, com um arranjo diferente.

Versão Emmylou Harris, Dolly Parton e Linda Ronstadt
O arranjo vocal sempre foi o lado mais valorizado da música. Em 1980, o trio country formado por Emmylou Harris, Dolly Parton e Linda Ronstadt (que realmente se chamava Trio), também gravou a música. O curioso é que ficou muito parecido com a versão original. Há uma levadinha country lá atrás, mas nada demais. Abaixo, uma apresentação de Emmylou Harris fazendo as três vozes do playback. (Isso que eu chamo de uma voz plural…)

Versão Blind Guardian
Em 1996, a banda Blind Guardian fez uma versão mais pesada da música. Pesada em todos os sentidos… Seguindo a premissa Myersiana,  o pesadelo toma conta. No clipe, um palhaço muito parecido com o Pennywise de It (no caso, o visual da adaptação da obra de Stephen King para a TV) aparece de madrugada no quarto de um menino insone. Logo, pra quem tem fobia de palhaço, sugiro que pule o videoclipe.

Versão Edison Chen
Edison Chen é um ator, músico, produtor, fashionista faz-tudo que leva a vida na China, é meio-descendente de chineses, mas nasceu no Canadá e tem até algo de português. Com esse currículo, já dá pra ter uma noção de como é a música do cara. Abaixo, duas versões da mesma música, uma sampleada e a outra com refrão cantado por Sammi e com a participação de… MC Hotdog.


Versão Gob e as faces de Mr. Nobody
Mr. Nobody é um filme de 2009, dirigido e escrito por Jaco Von Dormael. O filme narra uma história futurista que fala de livre arbítrio, memória e possibilidades. Após atingir um estágio de infinita regeneração de células, a humanidade se torna imortal. O último mortal vivo está prestes a morrer e começa, através da hipnose, a relembrar infância, adolescência e casamento. Mas as lembranças acontecem em três linhas de tempo distintas. O filme utiliza-se da física quântica para as explicações mais difíceis e, no fim, embora não haja mais uma definição de realidade, tudo faz sentido. Abaixo, o trailer do filme. Achei momentos com versões da música, mas achei melhor deixar só o trailer mesmo, pra não entregar pontos importantes.

Nessa alternância de hipnose, imaginação, realidade, sonho, a música é usada em diversos tons. Uma novidade é a releitura mais pesada da banda Gob, que traz também uma referência ao Metallica. No filme, a versão da Gob é usada em fusão com outra versão, fazendo uma criativa elipse de tempo.

Se você conseguiu chegar até aqui… Parabéns! Sei que me empolguei um pouco e você não deve mais aguentar essa música, mas, para terminar nosso festival, falta uma versão a destacar. Uma que não poderia faltar.
Versão Roberto Carlos
Sim, o Rei. Ele também fez seu pedido ao João Pestana. Embora com uma letra simples, a versão é boa. A única coisa que pega é que não encontraram um vocal para fazer a melodia inicial e, na falta de voz para segurar, colocaram um coro fazendo “nhánhá”. Mas vai lá. RC é o cara.

Vale dizer que o objetivo desse Releitura Musical foi mostrar um pouco do tamanho que esta música tomou na cultura mundial. E o como uma música pode pontuar nossa vida, sem que tenhamos noção. Espero que tenha sido válido.
E, por fim, deixo a pergunta de praxe: E aí? Escolheu a melhor? (Ou simplesmente enjoou da música?)

Alan Daniel Braga

Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)
NAN