Rep Festival 2023 cancelado

Foto: Reprodução / Redes Sociais

O fiasco do REP Festival (ou por que brancos insistem em produzir eventos pretos?)

Cadu Costa

Se você esteve no Rio de Janeiro neste final de semana, mesmo sem querer deve ter ouvido falar do REP Festival – que foi cancelado – e seu absoluto fracasso.

O evento que tinha tudo para ser uma grande celebração da cultura hip hop só mostrou o descaso que acontece quando um monte de playboy branco resolve se apropriar de uma cultura preta e sequer chama um de nós para organizar a coisa.

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Preço e local

Primeiramente, tudo estava errado desde o início quando esses organizadores prometerem um mundo de sonhos para a galera fã de rap mas desde que pagassem até R$ 500 para ir até à Barra da Tijuca.

Quando a Prefeitura do Rio indeferiu a primeira vez, em junho de 2022, os organizadores – principalmente o CEO do REP Festival, Fabrício Stofel -, seguiram divulgando que seria no mesmo local até janeiro desse ano quando eles desistiram após uma segunda negativa das autoridades.

Faltando 10 dias para o evento, os shows foram transferidos para Guaratiba, num local que já foi impróprio até para receber o Papa Francisco em 2013. Nas redes sociais, os tais “organizadores” diziam que o motivo era meter o som no talo, maior contato com a natureza e outras abobrinhas para otário acreditar.

Verdade seja dita, tinha tanto contato com a natureza que tinham cobras, siris, sapos, lama e lagos espalhados por todo o local.

Choque no palco

Para piorar, os dois telões ao lado do palco simplesmente pararam de funcionar, dificultando a visão do público e vários outros relatos apontam que funcionários tentaram proteger aparelhos de som com capas de chuva, de maneira totalmente improvisada. Marcado para 15h, MC Maneirinho começou o show à noite e levou um choque no palco.

Evidentemente, diversos artistas cancelaram como Matuê, Racionais MCs, Black Alien e diversos outros porque simplesmente não conseguiam garantir segurança do público e deles além de ser simplesmente impossível de chegar.

Vejam esse relato:

Djonga sobre o Rep Festival 2023

O rapper Djonga, quase um líder da resistência hip hop mandou essa em seus stories:

“A real é que hoje eu pisei naquele palco porque não queria decepcionar mais do que já estavam decepcionadas as pessoas que ficaram esperando os nossos shows lá e, inclusive, respeito a galera que cancelou, porque nós, como artistas; e vocês, como público; foram de fato desrespeitados.”

E ele seguiu, fazendo até um mea-culpa:

“Isso que a gente faz dá dinheiro, nossos cachês subiram, o preço do ingresso subiu… Todo mundo acha bonito a nossa ‘cultura’ e isso fez com que várias pessoas, muitas que não têm nada a ver e não possuem nenhum carinho por nós, entrassem nesse rolê do ‘rap’, ou ‘rep’, sei lá.

O que rolou essa semana e especificamente hoje, é um retrato de algo que é recorrente. A gente tem que ouvir o cara que pagou o show nos desrespeitando porque não vendeu como ele queria, dando uma estrutura ruim para nós, investindo cada vez mais na tal da área vip e deixando quem realmente se importa lá atrás… E claro, não tô falando de todos!

E amo ser rico, ser Djonga, viver bem; mas saudade de sentir o que faz sentido. A culpa é nossa; público, contratantes e artistas. O que rolou hoje é só um reflexo de todo dia”.

Produtores brancos

A verdade é quando que essas pessoas vão entender que produtores pretos são mais competentes em produzir eventos pretos? Ou alguém imagina o Carnaval sem preto? Qualquer roda de samba sem uma pessoa preta? E se você não sabia, o rock também é preto, bebê!

Ou como MC Borges e Orochi mandaram na lata:

“Chega dessa palhaçada de dar a cultura na mão de playboy. Artistas de todo o Brasil, artistas internacionais… está na hora de elevar o game e tomar o que eles tiraram de nós”.

Por fim, que Fabrício Stofel e sua turma paguem por esse descaso. Ou, como anunciou o Procon, que instaurou um processo sancionatório contra organizadores do Rep Festival, ou eles apresentam defesa em até 15 dias ou levam de presente uma multa de R$ 12 milhões. Mas será que essa é mesmo a pena justa para isso?

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Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN