Resenha de livro | Hitchcock/Truffaut Entrevistas
Tatiana Reuter
O cinema é a arte da sedução. Voyeur por natureza, assim também nos tornamos quando vamos à sala escura, sem que nos vejam direito, assistir a alguém, a alguma história no conforto do anonimato. Alfred Hitchcock soube se utilizar deste nosso fetiche e sempre trabalhou em prol do público, seja para assustá-lo, seja para lhe trazer algum alívio. François Truffaut, também cineasta de renome e crítico francês, entendeu o controle hitchcockiano como uma qualidade única – e está certo nisso – propondo uma série de entrevistas com o mestre do suspense sobre sua filmografia. Em 1967 sai o mais emblemático livro sobre Hitchcock e em certa medida sobre Truffaut e o fazer cinema, traduzido no Brasil como Hitchcok/Truffaut.
No último dia 13 e há 116 anos atrás nascia Hitchcock, em Londres. Lá iniciou sua carreira como assistente de direção, montador e roteirista, em 1922. Em 1925, estreia na direção com The Pleasure Garden, de onde nunca mais sai. Truffaut então disseca o que considera mais relevante em toda a sua trajetória, com questões que servem tanto ao público comum, os espectadores-cobaias, quanto para quem é mais envolvido com a arte e seus meios de produção. A ideia do cineasta francês era comprovar a genialidade do mestre do suspense, de quem ela era fã assumido, em uma época que o consideravam menos, como um diretor do circuito comercial. A intenção era clara, identificar o óbvio aos nossos olhos – hoje não há dúvidas – de que Hitchcock já era um dos nomes do cinema de autor. As entrevistas perpassam a filmografia do mestre, que não só tem um currículo de respeito, com 54 longa-metragens – citando 5: Psicose, Disque M para Matar, Janela Indiscreta, Um corpo que cai e Os Pássaros – como também teve um programa de filmes curtos para a TV, Hitchcock Presents.
O livro é um deleite para todos, sendo fundamental para a história do cinema. Após o lançamento em 67, foi feita uma edição definitiva em 1983 – à venda no Brasil a partir de 1986 em edição esgotada da Brasiliense e reeditada em 2004, pela Companhia das Letras. Truffaut sentia uma necessidade de continuar alimentando o livro – e nossa curiosidade – com os novos filmes do diretor, se encontraram durante pouco mais de 14 anos e hoje temos uma obra prima. Com fotografias das cenas dos filmes e seus bastidores, das longas entrevistas, prefácio de Ismail Xavier e do diretor francês, tudo em quase 400 páginas, virou referência em produções do gênero. Este ano, inclusive sai o documentário com as gravações das entrevistas, outro presente para nós, em poder ver e ouvir as conversas deliciosas. A série de entrevistas em forma de livro acabou virando referência para o campo, basta recordar as edições de entrevistas feitas com outros diretores – infelizmente sem Truffaut – como Woody Allen, Scorsese, Bergman e Almodóvar.
Para todos os públicos, temos em apenas um livro, aulas de cinema da forma mais interessante possível, um encontro de mestres com riqueza de detalhes que alimentam nossa perversão última: a cinefilia.
Ficha Técnica:
Hitchcock/Truffaut Entrevistas
Autor: François Truffaut
Editora: Compahia das Letras
Categoria: Não-ficção
Páginas: 368
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