RESENHA | SUPERMAN – ENTRE A FOICE E O MARTELO, ou ‘Superman Comunistinha de Iphone… Vai pra Cuba!!!’
Ricardo Cavalcanti
Me recuso a falar sobre isso |
Ou isso… |
Felizmente, de tempos em tempos surgem umas histórias que conseguem captar o personagem em toda sua essência: Grandes Astros Superman (uma história fantástica, que é na verdade, uma declaração de amor do Grant Morrison ao personagem); Superman, Paz na Terra (em que ele vê que, mesmo com seus superpoderes, não pode solucionar alguns problemas comuns e mais humanos do nosso dia a dia); Reino do Amanhã (apesar de não ser uma história só do Superman, sua presença imponente, mostra quem ele é e o que representa) e Entre a Foice e o Martelo, são alguns exemplos mais famosos.
Para quem acreditava que o Superman comunista era somente uma skin do jogo Injustice – Gods Almong Us, refere-se, na verdade, a uma história auto contida que fazia parte da linha “Elseworlds” (que conhecemos aqui como “Túnel do Tempo”), e apresentava histórias fechadas que não faziam parte do “universo e cronologia regulares” dos heróis, dando mais liberdade aos autores para reimaginar a mitologia e o universo desses personagens.
Por aqui, recebemos uma enxurrada de histórias do Batman, como: “Batman – O Corsário”; “Tempestade de Sangue”; “Um Conto de Batman – Gotham City 1889 “, “Batman & Hpudini – A Oficina do Diabo”, etc.
Enquanto Philip K. Dick, com seu “O Homem do Castelo Alto“, imagina um mundo em que os países do eixo venceram a segunda guerra mundial, Mark Millar, em Entre a Foice e o Martelo imagina como seria se, ao invés de cair nos Estados Unidos, a nave com o pequeno Kal-El chegasse à terra com 12 horas de diferença, caindo na Ucrânia, durante o regime comunista da antiga União Soviética.
O escocês Mark Millar (Nemesis, Superior, O Legado de Jupiter) é o autor de quadrinhos que teve mais obras adaptadas por Hollywood. Suas historias normalmente parecem ter saído de uma tela de cinema: Os Supremos (que serviu de base para o filme dos Vingadores); Old Man Logan (que vai servir de base para o próximo filme do Wolverine), Guerra Civil, Kick-Ass, O Procurado e Kingsman.
I’M RICH, BABE |
Lançada em 2003, essa obra só pôde sair pois não tínhamos mais a presença da ameaça comunista (e já havia sido criado um novo vilão mundial a ser combatido). Com o fim da segunda guerra mundial, uma outra guerra se iniciou e que permeou boa parte da segunda metade do século passado. A divisão do mundo e a disputa militar, política e econômica entre Estados Unidos e União Soviética, beirava a uma guerra nuclear que extinguiria a vida no planeta. O mundo estava em ebulição.
Durante a guerra fria, ter algum tipo de discussão sobre socialismo e capitalismo era quase proibitivo. Seja pelo assunto tabu, que despertava “paixões” de um lado ou de outro; seja pela falta de conhecimento dos principais pontos de vista de cada regime e seus reais interesses (ainda bem que hoje temos acesso a todo tipo de informação, nos proporcionando discussões racionais, sadias, avançadas e embasadas).
Arte de Caio Oliveira |
Para quem se interessa pelo assunto [Costinha Mode On], aproveito para dar uma dica de série que retrata bem aquele período: Deutschland 83. Uma série alemã de suspense e espionagem que se passa no início dos anos 80, no período pré-Gorbachev. Diferentemente do que estamos acostumados a ver nas produções americanas, a sensação do perigo de um ataque nuclear é sentida de uma maneira diferente e muito próxima. Afinal de contas, o “perigo mora ao lado”, literalmente. Vale muito a pena! [Costinha Mode Off].
Na HQ, a descoberta de um super homem alienígena comprometido com os ideais comunistas, causa uma sensação de terror em boa parte de população. O anúncio do governo soviético é alarmante:
“Superman: Estranho visitante de outro mundo, que pode mudar o curso de poderosos rios, dobrar o aço com as próprias mãos… e que, como campeão dos proletários, trava uma interminável batalha por Stalin, o socialismo e a expansão internacional do Pacto de Varsóvia.”
Inicialmente, o Homem de Aço só quer ajudar as pessoas, preferindo ficar longe das implicações políticas; afinal de contas, ele é só mais um proletário. Após a morte de Josef Stalin, Superman acaba se vendo obrigado a assumir o controle do partido.
Após duas décadas de domínio e controle mundial do “Homem do Amanhã da Rússia”, quase todos os países do mundo se tornaram seus aliados. Apenas dois ainda resistem e mantêm o sistema capitalista, mesmo estando à beira de um colapso fiscal e social.
Lex Luthor, interpretado por Sean Connery |
Enquanto isso, a Mulher Maravilha (que nutre um amor secreto pelo Homem de Aço), deixa Themyscira, se converte ao comunismo e passa a lutar ao lado do Superman pela igualdade no mundo dos homens.
” – Então, como estava a América?”
” – Enojante, Superman. Simplesmente enojante. Estamos em 1978 e ainda há crianças dormindo nas ruas por lá.”
As páginas estão recheadas de easter eggs. É muito divertido ficar procurando por eles ao longo da história. Referências ao filme do Richard Donner; a Morte do Superman; a Sala de Justiça do desenho dos Superamigos e até o Elvis, podem ser encontrados sem muitas dificuldades. Depois de ler a revista, você pode voltar as páginas e ficar só lendo as figuras.
A Zona Negativa agradece ao Caio Oliveira pela arte do Bat-batedor de panelas com a camisa verde e amarela. Afinal de contas, a nossa bandeira jamais será vermelha… a não ser que venha acompanhado de listras azuis e estrelas brancas para combinar (ironia aqui pra quem não entendeu).
Agora faça uma pausa na sua leitura de O Capital, agarre sua garrafa de vodka, estacione seu Lada no meio da Praça Vermelha e acompanhe o camarada Superman sobrevoando o céu de Moscou.