REVIEW | ‘DAYS GONE’
Felipe de Andrade
A Bend Studios teve um longo processo de produção de mais de 6 anos até o lançamento de Days Gone, em 26 de abril, que começou um tempo após o lançamento do seu último jogo exclusivo de PSVita, Uncharted Golden Abyss. “Somos um time pequeno, e essas coisas levam tempo…” justifica Jeff Ross, diretor do jogo. Antes disso, a Bend Studios, que é um estúdio americano da Sony, também foi responsável pela antiga série de sucesso Syphon Filter nas gerações passadas e portáteis da Sony.
O estúdio criou uma franquia totalmente nova, apostando em elementos de jogabilidade que deram certo em uma série de jogos de ação que foram lançados nos últimos anos. Em vários momentos é possível reconhecer coisas que foram tiradas de jogos como Red Dead Redemption 2 – com a moto de Deacon sendo o equivalente ao cavalo de Arthur –, a trilogia nova de Tomb Raider, tem muito de The Last of Us aqui também, momentos que lembram dos jogos de Far Cry, dentre outros. E Days Gone foi e está sendo muito criticado por essas ações tomadas pelos produtores, mas e o resultado? Totalmente positivo!
A desenvolvedora conseguiu somar todos os pontos fortes dos jogos em que buscou alguma inspiração, colocando elementos únicos desenvolvidos pelo estúdio e entregou Days Gone, um ótimo jogo de ação e sobrevivência. Ele se passa dois anos após uma epidemia que acabou com a humanidade como ela é, permeando o mundo de zumbis e relegando sobreviventes em acampamentos isolados.
O jogo está coberto de coisas genéricas ou que já foram vistas em outros jogos, mas uma coisa que podemos dizer ser bastante original é o personagem principal, Deacon St John, ou simplesmente Deek. Ele representa muito bem a figura de um anti-herói caçador de recompensas que é – ou foi – membro de um clube de motoqueiros que passou por situações horríveis no passado, e que agora tem que se virar como pode no mundo durante um apocalipse zumbi. Com seu pavio curto, constantes situações de estresse e quase ninguém em quem confiar, Deek sempre tem um pé atrás com todo mundo e sabe que a única pessoa em quem pode ter o mais próximo de uma família é seu amigo motoqueiro de longa data Boozer, que tem um grande papel na narrativa.
Todo o gameplay e a ação do jogo são influenciados por ciclos de dia e noite, com os zumbis saindo para caçar durante a noite – quando é mais fácil dar de cara com hordas de zumbis – e voltando para os seus ninhos durante a luz do Sol, período no qual eles são mais frágeis. O inverso acontece com os inimigos humanos, que exploram o mapa de manhã em busca de pessoas e recursos e se recolhem na “segurança” dos seus acampamentos quando a Lua está no céu. Com isso, já é possível ter uma base da melhor hora para sair em missões, dependendo de quais inimigos você preferir enfrentar. Sempre é bom analisar todas as situações ao avistar qualquer inimigo e usar de alguma estratégia antes de entrar em combate com eles, procurando saber se estão sozinhos ou em grupo, qual o tipo de armas possuem no caso dos humanos, e qual a melhor forma de chamar ou não a atenção dos zumbis.
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E falando em zumbis, que são chamados de Frenéticos dentro do universo do jogo, desde que o gameplay de Days Gone foi mostrado pela primeira vez na E3 de 2016, e na maioria dos vídeos sobre o jogo que foram lançados posteriormente, ele sempre fazia questão de mostrar o protagonista contra hordas cada vez maiores. Agora após o lançamento, foi confirmado que existem hordas de 40 ou 50 zumbis, mas também há momentos em que “mais de 500 inimigos atacam de uma vez fluindo como se fosse água”. “Eles têm que vir com tudo para cima de você, mas o jogador precisa ter uma chance. Então procuramos maneiras de dar ferramentas aos jogadores para lidar com esses grupos, e estar sempre um passo à frente”, disse o diretor.
Com um sistema de criação inspirado principalmente no que foi usado em The Last of Us, outro exclusivo de PS3 e PS4, é possível criar itens como bombas, armas brancas melhoradas para combate corpo a corpo, armadilhas a base de som para chamar a atenção de inimigos, dentre outros. Tudo isso com itens encontrados espalhados pelo mundo, em casas, carros, oficinas abandonadas, acampamentos e por aí vai. Até mesmo silenciadores para as armas de fogo são obtidos em alguns carros abandonados por todo o mundo, o que facilita muito a furtividade durante combates.
Days Gone possui gráficos lindos e muito detalhados, ao ponto de ser possível enxergar as veias nos olhos dos personagens, através do zoom do modo foto. O design dos visuais de personagens zumbis, humanos e até dos animais chamam atenção como sendo um dos melhores entre os jogos da atual geração. Ótimos efeitos de iluminação garantem cenas lindas, tanto iluminadas por lanternas durante a noite ou enquanto amanhece com a luz do Sol passando entre as árvores enquanto rodamos com a moto.
O level design também é incrível, com cenários muito bonitos e que retratam muito bem como o mundo ficaria durante um apocalipse zumbi, com carros abandonados pelas estradas, casas vazias ou tomadas de inimigos, acampamentos improvisados e ninhos de zumbis. Também é possível enxergar bem longe no horizonte, sem efeitos de neblina ou coisas do tipo que bloqueiam a visão, como vários jogos costumam fazer para encurtar o que pode ser mostrado na tela. A moto de Deacon é um outro ponto forte de Days Gone, como não poderia deixar de ser, já que é o principal modo de locomoção para explorar o mapa. Conforme avançamos na história, é possível personalizar várias partes dela, como tanques de combustível, farol, rodas, etc. Até mesmo skins especiais são liberadas após realizar certas missões durante a campanha.
O jogo tem uma ótima localização e dublagem quase perfeita, que com certeza estão entre as melhores da atualidade. Todas as gírias, palavrões e trejeitos da dublagem original em inglês foram perfeitamente adaptados para o português brasileiro. Destaque para os diálogos do Deek com Boozer, Sarah ou outros personagens durante a história, mas o ponto alto aqui é quando o protagonista fala sozinho durante a jornada, o que acontece várias vezes.
Não existem muitas músicas no jogo e o estúdio poderia ter investido mais tempo e dinheiro nesse ponto. Em Days Gone a trilha é trabalhada da mesma maneira que em Red Dead Redemption 1 e 2, com faixas tranquilas enquanto exploramos o mapa sozinhos, outras mais agitadas e com tons mais enérgicos durante a ação e, também, quando as hordas atacam. Algumas outras faixas rolam durante cenas de corte, mas, a principal inspiração na franquia da Rockstar é o “momento México”, onde rola uma música meio melancólica, com vocal e tudo, durante a transição para uma outra área do mapa, só que com muito, muito menos impacto aqui do que nos jogos do velho oeste.
Os efeitos sonoros também poderiam ser alvos de mais atenção, pois claramente eles têm muito o que melhorar através de atualizações. Se o objetivo é ser o mais realista possível, nada mais justo que o áudio ser tão agradável quanto o visual. Quando corpos pendurados ou inimigos mortos caem de qualquer altura, deveriam fazer algum som de baque, mas não é o que acontece e na maioria das vezes nem barulho faz. Muitas vezes fomos pegos de surpresa por não ouvir passos de inimigos ou animais. Os sons de tiros das armas são bem parecidos com pistolas, metralhadoras, espingardas e fuzis emitindo, praticamente, os mesmos sons dentro da classe de cada uma. Falas de inimigos se repetem várias vezes durante os combates. Também aconteceu de montar na moto e começarmos a rodar com ela sem fazer nenhum barulho, mais de uma vez.
Além dos problemas citados acima, o jogo tem bugs e problemas técnicos, mas nada que atrapalhe a sua experiência durante o gameplay. Coisas como ouvir trovões durante a noite com o céu totalmente estrelado, alguns inimigos somem por dentro do chão e zumbis somem ou aparecem quando atacam em hordas muito grandes. Headshots com tiros que não acertam também podem acontecer, mas estes e outros problemas estão sendo corrigidos por meio de atualizações que já chegaram à quarta versão – 1.04 -, no momento em que este review está sendo escrito.
VEREDITO
Days Gone é um ótimo jogo de ação e sobrevivência em mundo aberto, mas peca pelo excesso de inspiração em outras franquias famosas como Far Cry, Red Dead Redemption, Tomb Raider e The Last of Us. Pouca coisa nele é original de fato além da ótima história e diálogos, o que faz com que a qualidade do título possa ser colocada em dúvida. Mesmo com todos os erros e acertos, Days Gone é um jogo que vale a pena ser jogado por todos os donos de um Playstation 4.