REVIEW | ‘Detroit: Become Human’ é imersão pura em seu teor máximo

Felipe de Andrade

Detroit: Become Human é a mais nova obra da Quantic Dream que já vinha sendo aguardada há muito tempo. Para quem é fã do estúdio, esse jogo é um prato cheio. O título segue a mesma jogabilidade instintiva/interativa que os jogos anteriores da desenvolvedora, sendo eles: Beyond: Two SoulsHeavy Rain e Fahrenheit Indigo Prophecy, ou como o próprio diretor, roteirista e fundador da Quantic Dream, David Cage, gosta de chamar o estilo, “Dramas interativos”. Acredita-se que ele deu este nome porque os jogos que cria é como se você assistisse a um filme, ao mesmo tempo que damos comandos básicos para que a história se desenrole. Não é a mesma coisa que jogar um God of War, por exemplo, em que devemos controlar todas as ações do personagem. Alguns comandos simples já fazem os personagens realizarem uma série de ações na tela.

Detroit foi “revelado” por meio de um vídeo que rodava em tempo real, não em CG, no Playstation 3. Sim, revelado está entre aspas, pois este vídeo era apenas uma tech demo do estúdio de anos atrás. Um vídeo que mostrava como seria a qualidade gráfica que ainda poderia ser atingida com o hardware do console da geração passada e com a nova engine do estúdio para a criação de um futuro jogo do estúdio.

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O vídeo em questão, intitulado apenas de Kara, mostrava uma androide sendo construída em uma linha de produção de uma fábrica com tecnologia de ponta. Conforme era montada parte a parte, suas funções motoras e sua IA eram testadas ao máximo. Aparentemente um teste de rotina, mas quando Kara descobre que é apenas um tipo de mercadoria ou, como ela é chamada no vídeo, um computador com braços e pernas, capaz de fazer todos os tipos de coisas, a mesma acaba dizendo que achava estar viva. Nessa hora o operador do maquinário percebe que tinha algo errado com a IA (Inteligência Artificial) e resolve desmontá-la por apresentar um possível defeito. Após uma cena emocionante, a androide Kara diz que está com medo de morrer e implora para viver enquanto chora, comovendo e fazendo com que o operador remonte seu corpo e deixe sua IA intacta, assim, ela o agradece com um sorriso.

O embrião do que viria a ser Detroit estava pronto e nós nem sabíamos na época, já que a Quantic Dream costuma lançar este tipo de vídeo de tempos em tempos para eventos como a E3. É o caso de “The Dark Sorcerer”, que foi também uma tech-demo lançada em 2013.

Detroit: Become Human se passa em 2038 em Detroit, após a cidade ser revitalizada pela invenção e o uso dos androides no nosso dia a dia. Porém, quando os androides começam a se comportar como se tivessem vida, as coisas começam a fugir do controle.

O título tem início em meio a uma cena de crime, onde um androide mata seu dono, sendo esta a primeira vez em que isso acontece. Por fim, o mesmo ameaça sua filha na cobertura de um prédio. Jogamos então com o robô-negociador Connor, que auxilia a polícia em casos em que podem poupar vidas humanas devido ao alto risco. Investigando a cena do crime, conseguimos armazenar dados que ajudam a encerrar a questão de várias maneiras, dependendo das escolhas que fazemos. Com isso, influenciando o futuro do jogo, inclusive com mortes de personagens jogáveis

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Kara, por exemplo, é construída especificamente para realizar tarefas de casa e ajudar na criação de crianças. Em um momento da trama, ela está voltando de uma seção de reparos e teve a sua IA ‘resetada’ depois de ter sofrido violência doméstica de seu dono, que acabou danificando-a seriamente em um de seus momentos de crise. Já Markus, é um ajudante de um pintor famoso, que devido a problemas de saúde, precisa do androide para realizar tarefas simples do cotidiano. Com o tempo, seu dono acaba desenvolvendo uma relação paternal, o que não agrada em nada seu filho biológico. É nesse clima tenso que começa a história que envolve os 3 personagens, as nossas decisões e as consequências que acabam afetando humanos e androides com o decorrer da narrativa.

Com ótimos gráficos foto-realistas, Detroit tem uma jogabilidade única que pode não agradar de cara a quem não conhece os jogos da Quantic Dream. Por ser meio “travada”, pessoas acostumadas com jogos com ritmo mais acelerado podem torcer o nariz por achar chato ficar controlando os personagens realizando tarefas de casa como lavar louças, por exemplo. Seguindo exatamente o exemplo de Beyond Two Souls e Heavy Rain, controlamos o personagem com o analógico esquerdo e com o direito realizamos a grande maioria dos comandos para poder interagir com o cenário. Em momentos mais agitados utilizando de quick-time events, botões pipocam na tela com o intuito de realizarmos ações mais enérgicas, como correr, lutar, etc. É uma pena que Detroit, assim como Beyond, não possa ser jogado com o PS Move, como era possível fazer com Heavy Rain. O que deixaria o jogo muito mais confortável, como se o mesmo fosse feito para ser apreciado com o acessório. Apesar de todas as funções do controle Dualshock 4 serem utilizadas em Detroit, inclusive o Touch Pad e o sensor de movimento do controle, a sensação nem de longe é a mesma.

Se você busca um jogo que foca sua força totalmente na narrativa, na jogabilidade simples e minimalista e, não apenas num simples martelar de botões, este pode ser o seu jogo. Se utilizando do sistema de efeito borboleta, já visto nos próprios jogos do estúdio, como também em Until Down, o jogador escolhe dentre várias opções de ação e a história segue de acordo com o que é escolhido, influenciando o futuro do jogo. Cada capítulo pode terminar de uma forma, de acordo com as escolhas feitas, assim, fazendo com que o fator replay dure por muito tempo, pois para que se veja todos os acontecimentos possíveis deve-se jogar o jogo, do início, várias e várias vezes.

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Com uma trilha sonora bem imersiva que se destaca para cada um dos 3 personagens, foram contratados 3 compositores. Assim, cada um ficou encarregado de criar a trilha voltada apenas para um personagem principal do jogo. Baseado no comportamento mais prático e frio de Connor, sua trilha é basicamente composta por música eletrônica. Markus recebeu uma trilha mais grandiosa e épica para combinar com a sua história. Kara recebeu uma trilha mais suave, para combinar mais com sua personalidade do que com os outros dois personagens.

Não faltam pontos positivos para o título e é bem óbvio que não poderíamos deixar de falar sobre a dublagem. O jogo conta com os atores originais Bryan Dechart (Connor), Valorie Curry (Kara) e Jesse Willians (Markus). Na versão em português, marcam presença Wendell Bezerra, o Goku de DBZ como Markus. Vagner Fagundes, o Gohan de DBZ dubla  Connor enquanto Flora Paulita, a Moegi de Naruto, dá vida à Kara. Fora outros nomes conhecidos como Wellington Lima, o Tao Pai Pai e Majin Buu de DBZ, Carlos Campanile, o Freeza de DBZ, Mauro Ramos que dublou Shirek e Pumbaa. Impossível não se apaixonar com o trabalho competente de dublagem.

O VEREDITO

Detroit: Become Human é mais uma obra da Quantic Dream que no fim das contas se sai como um jogo que diverte bastante e tem o tema minimamente interessante. Afirmo isso com base em discussões atuais sobre inteligência artificial e direitos de vida a qualquer ser.  Vale a pena conferir, pois mesmo com a jogabilidade diferente da que estamos acostumados, o jogo é muito bom quando olhamos para ele como um todo.

Análise feita pela equipe do Blah Cultural com jogo cedido gentilmente pela Sony do Brasil

Felipe de Andrade

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