REVIEW | ‘Devil May Cry 5’
Felipe de Andrade
Finalmente, ela está de volta! É o que eu posso dizer sobre a Capcom, produtora da incrível franquia que nasceu de um protótipo rejeitado do que seria Resident Evil 4. O estúdio está de bem com a vida voltando ao seu lugar entre os grandes estúdios com um acerto atrás do outro com seus últimos lançamentos. Desde a chegada do ótimo Resident Evil 7, a gigante japonesa está emplacando um sucesso atrás do outro, com Monster Hunter World ganhando o prêmio de melhor RPG de 2018 no The Game Awards – principal premiação dos videogames -, e o remake de Resident Evil 2 que chegou no começo deste ano vendendo 3 milhões de cópias apenas na semana de estreia. Isso sem falar de todo o suporte a Street Fighter V, um dos melhores jogos de lutas de todos os tempos. No dia 8 de março, a Capcom acertou mais uma vez com o lançamento do quinto jogo da franquia Devil May Cry – sexto se contarmos o spin-off DMC, da Ninja Theory, de 2013.
O Dante que todos conhecem e adoram está de volta após 11 anos, desde que estrelou Devil May Cry 4 ao lado de Nero ele não aparecia. A franquia passou por um reboot em 2013 que, apesar de ser um ótimo jogo, não foi bem aceito pelos fãs hardcore do caçador de demônios em todo o mundo. Agora, para a sequência direta, a Capcom trouxe de volta os personagens e o universo original que fazem tanto sucesso desde que chegaram ao Playstation 2 em 2001, com um roteiro que garante muitas surpresas e mistérios e amarra algumas pontas soltas dos jogos passados, juntamente com uma jogabilidade que representa tudo o que deve ter de bom em um jogo de ação.
Fazendo um resumo com o mínimo de spoilers, na história do jogo os três guerreiros se juntam para tentar derrotar Urizen, o rei do mundo inferior, que quer se utilizar da Qliphoth, a árvore da vida que se encontra no mundo dos demônios. Ela é capaz de absorver sangue humano, que é a fonte do poder dos demônios. Essa árvore leva centenas de anos para gerar um fruto a partir do sangue dos humanos, e se Urizen consumir esse fruto ganhará poder para reinar sobre o reino dos demônios e dos humanos.
A franquia Devil May Cry se tornou meio que um padrão para os jogos de ação desde que o primeiro foi lançado, levando a vários jogos terem sempre algum aspecto baseado em sua jogabilidade bastante original, que volta mais refinada e precisa do que nunca. Dessa vez, temos três personagens jogáveis, Dante e Nero estão de volta e já são bastante conhecidos do público, e a novidade fica por conta do misterioso V, que consegue trazer mais novidades ao gameplay de Devil May Cry.
Dante rouba a cena mais uma vez com sua personalidade ímpar, tirando sarro de tudo e de todos, não levando nada a sério a não ser seu trabalho de caçador de demônios. Ele tem quatro estilos de luta e também possui as melhores armas e os combos mais apelões do jogo. Os quatro estilos são os mesmos que apareceram em Devil May Cry 3: Trickster, que melhora a movimentação e as esquivas, dando mais liberdade durante os combates. Gunslinger, estilo voltado para o combate a longa distância, garantindo mais poder de fogo para as armas; Swordmaster, estilo voltado para combate de curto alcance, utiliza combos incríveis para aniquilar os inimigos; e Royal Guard, estilo voltado para defesa e contra-ataques poderosos que gastam a barra de poder.
As armas iniciais de Dante são as clássicas pistolas Ebony e Ivory e a espada Rebellion, que foi deixada para Dante por seu lendário pai demoníaco, o Cavaleiro Negro Sparda. Novas armas são liberadas durante a campanha, e os destaques são Double Kalina Ann, nada mais do que duas bazucas utilizadas uma em cada mão que quando unidas liberam um raio térmico insanamente poderoso; e Cavaliere, que é uma moto fundida com uma armadura demoníaca que se transforma numa arma! Dante ainda pode mudar para sua forma demoníaca, o que garante que todas as suas habilidades sejam aumentadas durante um curto período.
Nero é o mais esquentado e impulsivo dos 3 guerreiros, e ainda é o proprietário da Devil May Cry, empresa de caça a demônios que funciona dentro da van da Nico, sua parceira de negócio e exímia fabricante de armas. Nero teve seu braço demoníaco arrancado e é Nico quem resolve seu problema com as próteses Devil Breaker, que substituem o braço perdido por vários tipos de armas que executam ataques especiais, como o Helter Skelter, que pode perfurar os inimigos; ou o Tomboy, que aumenta os poderes da sua arma, a Blue Rose, e da espada Red Queen. A Blue Rose é um revolver de 6 balas que dá dois tiros por vez e pode ter seus tiros carregados para causar mais danos a cada acerto, já a Red Queen possui um motor a combustão que gera energia a cada vez que Nero “acelera” a espada – só jogando para entender -, acertando os inimigos com o máximo de violência.
E por último, mas não menos importante, temos o misterioso V. Não se sabe muito sobre o passado dele, apenas que ele também se diz um caçador de demônios e que não parece ser um humano normal. V é o personagem com a jogabilidade mais original da franquia até agora, e ele controla 3 demônios com características de combate próprias: o Grifo, um demônio alado que ataca com tiros de eletricidade e relâmpagos, especialista em ataques de longa distância; a Sombra, uma pantera transmorfa que utiliza ataques diretos; e Pesadelo, um golem gigante sombrio e superforte que dispara raios explosivos do seu olho. V não pode atacar diretamente, por isso todo o combate é feito por meio dos seus 3 demônios até que seus inimigos fiquem atordoados para que V desfira apenas o golpe mortal com sua bengala. O único exemplo que encontramos que mais se assemelha a jogabilidade de V foi dos jogos de luta da série Naruto Ultimate Ninja Storm, com os personagens que controlam marionetes como o Kankuro, que ataca apenas por meio dos bonecos que ele controla, mas recebe dano se for atacado diretamente.
Cada um dos três personagens levam a ação para o nível máximo e com muito estilo. E essa é a palavra chave para o combate em toda a série Devil May Cry, estilo, pois quanto maior, mais variado e mais estiloso for o combo desferido contra as hordas de inimigos, mais Red Orbs – a moeda do jogo – são adquiridos em recompensa para serem gastos na loja da Nico ou nas Estátuas da Divindade, comprando equipamentos, melhorias para todas as armas do jogo ou dezenas de golpes novos para cada um dos três personagens. Esses itens podem aumentar as barras de life ou de poder, ou ainda o Orb Dourado que funciona como uma vida extra se morrermos em combate. Se você não conseguir comprar tudo na primeira partida, fique tranquilo, pois é impossível realizar tal feito, o que garante o alto fator replay do jogo.
Para desenvolver Devil May Cry 5, a Capcom conta com sua poderosa RE Engine, que estreou em Resident Evil 7 e fez bonito em Resident Evil 2 Remake. Aqui ela também não deixa a desejar e garante facilmente um dos visuais mais bonitos da atual geração, a taxa de 60 frames por segundo com pouquíssimos momentos de queda, detalhe que testamos o jogo em um PS4 Slim, e essa taxa se manteve com tranquilidade. O jogo é lindo de se ver, com todos os cenários com riqueza de detalhes, mas o ponto alto certamente é o design dos personagens, que foram minuciosamente construídos beirando a perfeição. Todo o grupo principal de personagens é muito bem feito e possui ótimas expressões faciais principalmente, as animações de cada um durante os combates são incríveis e o jogo traz cenas de corte com visual lindo e combates exagerados dignos dos melhores filmes de ação. Os destaques aqui são os dois estreantes, V e Nico, com o visual dos dois beirando o real. As tatuagens de V somem do corpo e aparecem de novo conforme ele invoca as 3 feras durante os combates, e Nico parece uma pessoa real com suas feições naturais em todas as cenas em que ela aparece.
A produtora japonesa acerta novamente com a trilha sonora da série, utilizando um rock de ótima qualidade, que combina perfeitamente com o estilo do jogo. Se você assistiu aos trailers, com certeza já ouviu a faixa original que é o tema de Devil May Cry 5, Devil Trigger, se não, fique tranquilo que ela e outras faixas cantadas aparecem durante os combates o tempo todo. O jogo conta com a dublagem em inglês – versão utilizada durante o review – e agora também pode ser apreciado com a dublagem em japonês que foi adicionada por meio de uma atualização. Cada voz combina com cada um dos personagens, passando com fidelidade a personalidade de cada um através de uma sincronia labial quase perfeita.
Foi dito que o jogo teria algum tipo de multiplayer on-line, mas o que apareceu na versão final do jogo é apenas um sistema em que outro jogador aparece durante as nossas partidas, em fases em que podemos escolher personagens ou caminhos diferentes. Quando essas opções de escolha aparecem e selecionamos um, o outro personagem aparece atravessando o outro caminho ao mesmo tempo, sendo controlado por um jogador real on-line que está realizando as suas partidas e escolheu o caminho oposto do nosso. Ao final da fase “multiplayer”, é possível avaliar o desempenho do outro jogador como estiloso, garantindo alguns orbs para ele, e ele também pode nos avaliar da mesma maneira.
Esse é um clássico instantâneo da ação, porém não é perfeito e tem alguns problemas. O primeiro é a câmera, que é livre para controlarmos com o analógico direito, mas teima em se colocar nos piores ângulos possíveis em vários momentos do jogo, principalmente em ambientes estreitos e apertados. O segundo é a pouca quantidade de conteúdo que o jogo traz, basicamente depois de terminar a partida é possível iniciar uma nova com um nível mais difícil e com tudo o que foi conquistado até então, garantindo a chance de conseguir comprar tudo o que estiver disponível na loja e tentar encontrar tudo o que tiver ficado para trás na primeira partida e só. Um jogo com menos de 20 horas de campanha e sem nada novo para prolongar sua vida dificilmente vale o preço de lançamento de R$ 249,99. Resumindo, é um ótimo jogo que traz pouco conteúdo em seu lançamento.
A Capcom anunciou o início do suporte ao jogo com o lançamento do já clássico modo Palácio Sangrento, ou Bloody Palace no original, em uma atualização gratuita que será lançada em 1º de abril deste ano. Este modo de jogo garante partidas ao estilo sobrevivência em que escolhemos Dante, Nero ou V para desafiar ondas de inimigos em dezenas de arenas, uma após a outra desafiando ao máximo suas habilidades de combate e garantindo recompensas após cada batalha.
VEREDITO
Devil May Cry 5 chega com muito estilo, literalmente, pois essa é a palavra-chave para qualificar a franquia, quem é fã antigo de Dante e companhia sabe que cenas incríveis e ação frenética são marcas registradas da série. Apesar de trazer pouco conteúdo para um jogo com preço cheio de lançamento, este é um Hack and Slash da melhor qualidade, com personagens marcantes e uma trilha digna de um show de rock, este jogo é presença obrigatória na sua coleção.