REVIEW | ‘For Honor’ entrega com primor um game único e graficamente maravilhoso
Stenlånd Leandro
O calor da guerra é uma tensão pontual que, independente de onde esteja ambientada, seja com vikings, samurais ou guerreiros de um possível exército britânico, não há como medirmos ameaças e arsenais diante da chamada invasão. No meio do caminho entre qualquer elite da guerra, as projeções catastróficas que estimam os milhões de mortos e a devastação iminente nesse mundo pode ser algo sem precedentes. Após muita espera, For Honor chega aos consoles retratando muito bem isso. O primeiro game que tenta ser baseado na história, não em fantasia, em certos momentos, tem um bocado de fantasia.
A experiência com o jogo pode ser, de certa forma, uma aventura bem distinta, visto que os CGis são da última geração de consoles, além de seus gráficos, sombras, movimentos e tudo mais que fazem jus à espera tão longa pelo aguardado game. O gamer terá a oportunidade imediata de jogar com os cavaleiros que aqui não são mencionados de onde seriam – mas tudo indica serem ingleses ou franceses – e usufruirá da experiência como Warden (Cavaleiros), depois como Raider (Vikings) e, por último, como Orochi (Samurai). Esses procedimentos lhe darão total acesso à casa dos cavaleiros, dos vikings e dos samurais. O jogo que aparentava ser apenas um game de modo multiplayer, enganou muitos e possui uma das mais belas campanhas de todos os tempos em se tratando de jogos da última geração.
Apollyon, nome este que vem do hebraico e significa destruição, é a comandante de guerra das tropas de guerreiros. Ela é quem move as peças do tabuleiro de xadrez, enviando tropas para lá e pra cá com intuito de realmente incitar a guerra, como o Deus Ares faz. Depois de muito jogar com seu Warden, que não possui sequer uma identificação, você terá o controle da pacificadora Mercy, que tem mecânicas muito próximas de Stealth e pode muito bem chegar de mansinho e matar alguns vikings em seu caminho com o mínimo alarde possível e, ainda assim, formar um estrago de proporções inimagináveis . Após utilizá-la para abrir caminho para a base dos nórdicos, você, enfim, conhece o rei Gudmundr e trava uma grande batalha contra ele. Gudmundr foi um rei semilendário em Jutunheim, que governou as terras de Glæsisvellir, na qual era conhecida como o paraíso dos guerreiros. É uma batalha legal e muito difícil, visto que os comandos de ataque e defesa precisam estar bem precisos para conseguir derrota-lo na primeira tentativa.
Quando jogando com os vikings, você tem como missão ir de encontro a Ragnar Lothbrok e combatê-lo contra os pedras negras. Ragnar, diferente do que foi exposto na série “Vikings”, aqui não é tão ‘gente boa’ e complacente. Devido aos ataques dos guerreiros ao seu vilarejo, ele acaba se tornando uma pessoa mesquinha, visto que o alimento do povoado ficou escasso e, enquanto todos seus ‘seguidores’ passavam fome, o tão renomado rei dos vikings acabou mantendo a bebida e comida somente para ele e seus principais chefes. Seu personagem sem nome torna-se, então, uma espécie de ‘Rollo’ indo contra seu próprio ‘rei’ e irmão de batalha fazendo com que ele (Ragnar) pague por tudo que fez aos seus ‘cidadãos’. A perseguição a Ragnar montado em seu cavalo é interessante, embora simples. Lothbrok, infelizmente, não tem o mesmo fim que nos livros e na série, deixando qualquer um que siga esta trajetória bem frustrado. Você, como ‘invasor’, acaba se tornando um ‘earl’ dos vikings que foram derrotados pela sua ‘manada’.
Quando imaginar que tudo acabou, pense duas vezes. A comandante Siv ainda é uma pedra no sapato dos combatentes do norte. Conhecida como uma assassina simples e cruel, era uma senhora da guerra que tinha capturado dezenas de vikings. Enquanto ela manteve alguns presos, outros que executados tiveram suas cabeças praticamente decapitadas. Ao deparar-se com a personagem, vemos o quanto o temperamento dela é curto e sua veia é bem sanguinária. Seu personagem e ela se conheciam de tempos atrás e chegaram a compartilhar uma história, entretanto, as diferenças de seus ideais os colocaram em caminhos bem amargos e diferentes.
Em Kowareta To, Runa fica incumbida de abrir passagem para que a invasão viking tenha mais sucesso, visto que ela é uma valkiria. Ela está cansada de ver o nome de seu clã na lama e faz de tudo para recuperar seu prestígio. A mesma vai lá e faz seu trabalho com precisão ao achar o mapa que abre caminho à cidadela. Ao chegarmos no local, damos de cara com muitos mais muitos soldados do Japão feudal. O boss deles, general Tozen, é um vilão que mais parece um ninja do que necessariamente um samurai, lançando bomba de gás e sumindo do nada. Foi um dos chefões mais divertidos do jogo, visto que ele tem uma característica que lembra o Destruidor das Tartarugas Ninja.
Enfim, depois de muita luta e quase 15 horas de jogatina ininterruptas, foi o momento mais aguardado pela nossa equipe: eis que chega a hora de inverter a situação. Após um saque sucedido na cidade de Koto ao manejar os vikings, chega a vez dos samurais terem sua revanche contra os bárbaros do norte da Europa. Um Orochi que estava preso há muito tempo, foi libertado com a intenção de eliminar a praga viking de uma vez por todas. Entretanto, após a horda dos bárbaros praticamente ser derrotada e expulsa, eis que chega Apollyon ao continente asiático com intuito de tomar o local e aumentar o número de exércitos lutando entre si de dois para três.
A fórmula do jogo funciona da seguinte maneira: nos primeiros dois episódios terá de enfrentar conflitos internos dentro de seu próprio arredor. Seja como guerreiro, viking ou samurai, tudo seguirá esse padrão. Do terceiro episódio em diante, a trama é inovadora. Como viking, por exemplo, terá que dar o ‘troco’ nos malditos que outrora visitaram seu porto e aniquilaram sem dó o seu povo. É algo muito parecido com o gênero Musou, onde os jogos Samurai Warriors e Dynasty Warriors predominam. Nesse modelo de game, o jogador controla apenas um personagem, que deve lutar ao lado de suas tropas para tomar o controle de pontos do mapa e vencer os inimigos no processo. E aqui não é muito distante desta temática.
A jogabilidade é ‘diferente’ do usual, mas ainda assim lembra clássicos do formato Musou. Demora até você pegar a manha da coisa, mas, depois de um certo tempo, acaba fluindo. Os combos são limitados e você vai enjoando deles com o tempo. Apesar de muitos tutoriais do que usar, qualquer um que for adiante com este game ficará frustrado em sua primeira experiência (principalmente com os boss). O tempo de reação (reflexo) precisa estar em dia, pois os controles não são muito amigáveis para os iniciantes. Em se tratando de Xbox One, console utilizado para a análise, pressionar RB e RT para atacar é algo bastante complicado, visto que os botões RS e LS são para fazer com que sua defesa o mantenha vivo. Nas configurações de guarda, por exemplo, se você por para direita, ele defenderá os golpes da direita, o mesmo ocorrendo ao colocar para a esquerda. Se por para cima, ele defenderá os golpes dianteiros. Isso acaba complicando um pouco, pois há vários enxames de soldados espalhados no mapa, não dando muito tempo para pensar no que fazer. Se for defender um ataque da direita, precisará de muito raciocínio ou será atacado por um vilão ao seu redor sem ser exatamente este que o desafiou de inicio. Cada missão oferece um alvo, que geralmente está do outro lado de um cenário cheio de gente se matando, barreiras, inimigos, desafios e muita adrenalina. Esteja certo disso. Como você irá executar os movimentos, dependerá de reflexos e cabe única e exclusivamente a você saber o que fazer para induzir sua legião a avançar. Os mapas são praticamente parques de diversão da matança, com nuances de esconde-esconde e pega-pega. Você pode usar os mais variados (e ridículos) disfarces, abusar do ambiente, tentar realizar assassinatos o mais rapidamente e silenciosamente possível ou simplesmente partir para a matança inconsequente – se vai dar certo ou não, depende única e exclusivamente de você. Além de possuir uma carga complexa, desafiadora, envolvente e absolutamente chocante, ao mesmo tempo a experiência pode ser um bocado frustrante.
O game tenta mostrar uma certa inovação, mas acaba caindo no marasmo em determinados momentos. Se o jogador precisa ou não estar atento aos ataques dos oponentes, este mero detalhe chega a ser indiferente quando descobrimos que há um ‘heal’ infinito em forma de skill, que antes do início da batalha pode ser escolhido. Este skill fere o conceito direto de que para trilhar o caminho do triunfo, seria necessário que seus reflexos fossem aguçados ao máximo. Entretanto há nuances no gameplay que abalam essa experiência, que, por mais complexa que seja, teria total intuito de inovação. Seja no modo singleplayer ou multiplayer, o problema aqui é a inteligência artificial lhe conceder alguns momentos para recuar seu personagem, esperar o cooldown do heal e então você irá utiliza-lo até que seu life volte a estar cheio e então possa entrar em combate mais uma vez, sendo que seu oponente não tem essa ‘arma’. Logo, ficou algo meio contraditório quanto a inovação. Quase toda a jogabilidade de For Honor gira em torno desse sistema de ataque e defesa, mas se você conseguir acertar um golpe mortal com um ataque forte, pode executar uma vistosa animação de morte por meio dos botões principais do controle. Aliás, as mortes dos oponentes ocasionadas por esse detalhe são bem vistosas.
Quanto à trilha sonora, é digna de cada momento do jogo. Quando estiver nas missões, ela certamente envolverá o ambiente viking, assim como na parte dos samurais. Não há aquelas músicas chatas que mais parecem trilhas de filmes de ficção científica. Aqui você ouvirá muitos tambores anunciando guerra, Kotos e muito mais. Tais melodias removem o real clima medieval de todos os grupos de guerreiros. Quanto à dublagem, não poderia estar melhor, entretanto a tradução de algumas palavras ficou a desejar, como Katana e Orochi, que possuem a pronúncia em sua fonética erradas.
O VEREDICTO
TRAILER