REVIEW | ‘Hello Neighbor’ traz stealth, suspense e um bom nível de desafio
Alex Rodrigues
Tivemos a nossa primeira impressão de Hello Neighbor, game produzido pela Dynamic Pixels e desenvolvido pelos estúdios da Tiny Build. Nosso contato com a versão pré-alpha foi curta, porém, muito bom. Mas vamos direto ao ponto e falar logo deste título. O jogo é um stealth horror, segundo os próprios criadores. Mas, ao contrário de tramas complexas contra grandes corporações em ambientes decrépitos e assustadores, o enredo de Hello Neighbor se passa em um pacato subúrbio e o grande vilão da trama é o seu vizinho. Com atitudes suspeitas, sempre usando um par de luvas de borracha e com uma expressão de psicopata por trás de um ridículo bigode, o cara que mora na casa da frente passa a ser investigado pelo jogador. No decorrer do jogo, essa investigação vira quase uma obsessão do nosso personagem e, em certos momentos, eu me senti tão maluco como o meu vizinho.
Uma referência muito boa sobre os perigos dos vizinhos malucos em subúrbios tranquilos é o filme “Paranoia”, lançado em 2007, quando nosso herói Shia LaBeoulf tentava salvar sua mãe do psicopata protagonizado por David Morse. Outro filme sobre o mesmo tema é a excelente comédia “Meus Vizinhos são o Terror”, estrelado pelas lendas Tom Hanks e Carrie Fisher, que vivem um casal às voltas com atitudes estranhas dos novos vizinhos. Agora que você se ambientou com a história e a vizinhança, vamos às qualidades deste promissor jogo de aventura.
Como já falamos, o enredo do game se passa em um típico subúrbio americano, lugar caracterizado pela tranquilidade onde as famílias vivem em casas grandes e cercada de grama bem verde. O nosso cenário é bem parecido com esse, mas com toques de animação onde as formas das coisas, por vezes, são definidas fora de um padrão, como uma cama com os pés muito altos ou uma porta ter o formato de trapézio ao invés de ser retangular. Mas não é uma falha do conjunto gráfico, e sim uma forma de deixar o jogo mais lúdico, todo pintado com cores vivas, quase que tentando montar uma cena de um filme pastelão.
O design lembra muito o game “Dia do Tentáculo”, lendário título da extinta LucasArts, criado em 1993, visto como revolucionário em termos de animação e remasterizado para PC em 2016, quando ganhou versões também para os consoles. Mas, apesar do cenário colorido e um pouco lúdico, o jogo Hello Neighbor não te proporciona momentos tão divertidos assim como o seu parente mais velho da LucasArts, muito pelo contrário, o game é tenso e provoca sustos a todo momento.
Um ponto bem interessante é escolher a melhor forma para distrair seu vizinho para invadir ou se esconder na casa dele. Você pode usar a velha estratégia de tocar a campainha e sair correndo até desligar a caixa de luz ou quebrar uma janela. Isso me faz pensar se eu não sou tão louco como o meu vizinho a ponto de cometer tanto vandalismo contra a residência dele. Uma vez dentro da casa, você passa a resolver alguns quebra-cabeças para ter acesso a mais lugares e tentar desvendar os mistérios por trás do seu “companheiro de rua”. A Inteligência Artificial funciona muito bem. O seu adversário é um sujeito muito desconfiado, então pequenos ruídos como uma passada pesada rangendo em um piso de madeira vai chamar a atenção dele. O interessante é que, ao mesmo tempo em que o cenário fornece objetos para você interagir e facilitar sua vida em invasões e esconderijos, ele mesmo dificulta as coisas com quadros mal pregados na parede e outros obstáculos para te forçar a fazer barulho.
Se você for pego alguma vez com a mão na massa pelo seu vizinho – e certamente isso vai acontecer – então uma armadilha é colocada para evitar que faça o mesmo caminho para entrar na casa. Como ainda é uma versão para testes, não levaremos em consideração alguns pequenos bugs que vimos através das portas quando se está muito perto, ou não conseguir se esconder em lugares óbvios como embaixo da cama. Já que é muito difícil, os desenvolvedores capricharam para deixar o mecanismo de jogo bem fácil para gente. O jogo é um adventure em primeira pessoa, com um grande toque de point and click. As suas ações são determinadas por poucos comandos no teclado e um pequeno círculo branco serve para guiar todas as suas atividades. Os movimentos do nosso personagem são bem fluídos, mesmo se tratando de uma visão em primeira pessoa. Isso permite correr e abrir portas quase que simultaneamente, sem deixar você perder tempo e ser pego pelo vizinho. O tempo também é muito importante. Por vezes, parece que um conjunto de ações deve ser realizado de forma cronometrada para você ultrapassar um desafio. A velha união entre teclado e mouse, o primeiro para direcionar e o segundo para determinar o ângulo de visão do personagem funcionam em plena harmonia. Se esgueirar é tão fácil como correr, você só precisa usar o nível certo de paciência em cada atividade para obter os melhores resultados.
Em relação ao som, não podemos falar muito sobre este quesito porque não tinha muita música nas versões que jogamos. O som ambiente com pássaros durante o dia e grilos no decorrer da noite remetem bem ao clima do cenário. Como em outros jogos de stealth, quando o inimigo é alertado, uma música em ritmo acelerado toma conta do recinto, parando quando nosso herói consegue fugir ou despistar do perigo. Rola um som tenso também quando você está tentado se meter em apuros. Alguma coisa para avisar que não era para você estar ali, como nos filmes de suspense. De qualquer forma, não é um estilo de jogo para ter um fundo musical o tempo todo. Você precisa estar ligado e ouvindo a movimentação do seu vizinho, um som fora de hora pode atrapalhar e prejudicar a concentração do jogador.
VEREDITO
Hello Neighbor possui elementos para ter uma boa aceitação no seu lançamento. Stealth, suspense, bom nível de desafio, muita coisa que faz um gamer passar um tempo jogando. O misto de insanidade e mistério que domina o ambiente do título estimula o jogador a desvendar os quebra-cabeças e a descobrir maneiras de se infiltrar na residência alheia. Pena que a nossa versão não permitia avançar muito no jogo, então ficamos com um gostinho de “quero mais”, e isso é muito bom como avaliação do game. A melhor sensação que o jogo pode deixar é aquela que deixa você querendo voltar para jogar.
No mais, esperamos algumas correções no cenário juntamente com um ambiente mais detalhado. Certamente a equipe de desenvolvimento deixará tudo pronto para o lançamento do game no começo de dezembro com versões para PC, Xbox One e Mac.